A CPI, poupança e as vítimas de sempre

Gilvan Freire

No auge de sua popularidade no governo, a presidente Dilma (presidenta é uma palavra pernóstica e arrogante que só pode ser exigida por uma pessoa não menos, ou vassalos demais), resolveu mostrar-se despida ao País, para que ninguém tenha dúvidas quanto a sua capacidade de vencer crises à custa dos mais fracos. A mexida nas regras da poupança – um investimento conservador medíocre que nunca enriqueceu ninguém no Brasil, a não ser os bancos e os especuladores – é mais uma vez utilizada para gerar grandes negócios à macroeconomia e aumentar as perdas dos poupadores, pessoas que juntam pequenas economias sofridas para comprar mais tarde qualquer coisa à preço superior muitas vezes ao que economizou durante muito tempo. A regra histórica mais definitiva e invariável que se conhece sobre poupança no Brasil, é a de que só os governos conseguem fazer a poupança ficar pior do que ela deve ser. Dilma prova que a matemática mais simples e corriqueira para gerar o crescimento sem muito esforço e criatividade é tirar de um lado e por no outro. Desde a escola primária que a regra é a mesma. E dá certo.

A CPI E SUAS INTENÇÕES OCULTAS

Quando Lula incentivou o PT a apoiar uma investigação parlamentar no Congresso sobre as revelações tsunâmicas do caso Cachoeira vs Demóstenes – episódio deprimente cada vez mais rotineiro num país que cresce economicamente na mesma proporção em que decresce no plano moral – , ficou logo a impressão de que o ex-presidente, por força da medicação e do tratamento contra um câncer, ainda não tinha permissão médica nem para falar nem para pensar direito.

Instalada e composta a CPI – Comissão Mista da Câmara e Senado encarregada de surpreender para melhor ou pior que as denúncias – como tem acontecido com freqüência nas investigações do gênero -, já se vê que Lula não precisou de ajuda médica para exprimir seu tato político e revelar a lucidez: Lula quer mesmo é se vingar de quem levou seu governo à beira do impeachment e quase mata no nascedouro o vacilante governo de Dilma, a Revista Veja, que comemora 45 anos de circulação, mais da metade desse tempo dedicado a criar e modelar o fenômeno Lula, um produto de raça que explodiu como uma cachoeira desenfreada que vence atalhos, barreiras e tapumes, só porque suas águas são de invernos bissextos e torrentes especiais.

Mas, afinal, porque Lula e Dilma precisam de uma CPI para punir a Revista Veja, quando a melhor parte do governo de ambos está sob amparo da imprensa independente que combate sem tréguas os cancros de corrupção que ameaçam de morte as instituições públicas, sob olhar complacente dos governantes? O que será melhor: limpar o país do gangsterismo que corrói o patrimônio público, solapa a governabilidade e provoca a indignação da sociedade, ou intimidar a imprensa para afastá-la do jornalismo investigativo que entrega às CPIs investigações já quase prontas? Qual o tipo de nação que os governantes querem, é maior, igual ou menor do que eles?