A "costura" da Saúde

Paulo Santos

O futuro prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), rendeu-se à pressão popular e decidiu que colocará um técnico na Secretaria de Saúde. O bom senso prevaleceu sobre a arrogância. Se esse raio de esperança trará mais humildade ao cargo e mais respeito a quem mais precisa da preocupação oficial isso só o tempo dirá.

À primeira vista a indicação de Lindemberg Araújo para a Saúde põe fim a um esquema de dominação que pretendia se perpetuar não se sabe com quais propósitos. Para melhorar o atendimento à população é que não poderia ser, pois era visível o declínio de aceitação da atual gestão, no quesito “saúde”, em todos os segmentos sociais.

É possível que os percalços experimentados pelo grupo que dominou a Prefeitura da Capital nos últimos oito anos, nessa área, sejam reflexos de como a saúde vem sendo desprezada de um modo geral. Basta ver que os dois itens mais criticados no Governo Dilma são saúde e segurança.

Como o foco é local, a decisão de Cartaxo em não manter a atual secretária Roseana Meira obrigou o futuro Prefeito a uma enorme ginástica para acomodar integrantes do condomínio de Luciano Agra em Água Fria. O petista cedeu alguns anéis, mas manteve os dedos intactos.

Alguns aspectos chamam a atenção. Em primeiro lugar, a forma silenciosa como Cartaxo vem “costurando” as negociações em torno do preenchimento dos cargos, desde os mais simples até os mais complicados, sem abrir mão de suas cotas diretas (Administração e Saúde, por exemplo).
É preciso, nesse caso, ressaltar a inabilidade do prefeito que deixa o cargo quando fez declarações à imprensa pregando a necessidade da atual secretária de Saúde, Roseana, “completar o projeto” para o setor. Um projeto, se sabe, idealizado ao tempo de Ricardo Coutinho como prefeito, seguido à risca pelo sucessor na Prefeitura da Capital e que completará oitavo aniversário no próximo dia 31.

Agra terá, agora, que refazer suas projeções políticas. Grande parte de sua equipe está sob o guarda-chuva de Cartaxo, mas o principal suporte para suas futuras empreitadas políticas – o bunker da Saúde – foi demolido pelo futuro alcaide. O que foi bom, por exemplo, para os vereadores Bira e Raoni não terá continuidade para Agra 2014.

É certo que Cartaxo não pretende trucidar Agra. Ao contrário, deve cerca-lo de mimos por ser o contraponto ideal a Ricardo Coutinho sempre que precisar de um crítico de plantão ao atual governador. Cartaxo sabe que a liturgia do lhe cargo impõe rédeas a bate-bocas, mas desafetos – e Agra é o maior diante do Palácio da Redenção – não tem limites.

O problema, agora, é saber como Luciano Agra irá absorver a realidade de não ter controle sobre o orçamento e o planejamento da Saúde da Capital. Na maioria das vezes os políticos se banqueteiam com finas iguarias, mas é o povo que engole os sapos. Dessa vez a “voz rouca das ruas” venceu.

MORTES NO CEA
Grave, mas muito grave mesmo, denúncia feita por uma sindicalista durante audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa na tarde desta terça-feira (18): adolescentes recolhidos ao CEA, para cumprimento de pena, estão sendo assassinados e o fato sequer é descoberto pela imprensa. A dirigente sindical pediu que o Ministério Público investigue esses fatos.