A corrida ao Planalto

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Nonato Guedes

Em tese, Dilma Rousseff larga como favorita na corrida pela reeleição à presidência da República. Aécio Neves ainda não empolga, e é difícil acreditar que venha a fazê-lo, salvo se um fator superveniente, extraordinário, ejetá-lo como cavalo de corrida no páreo pelo Planalto em 2014. Na hipótese de desandar a economia, de surgirem aquelas bolhas que tanto assustam os políticos, o PSDB tem chances de alavancar Aécio porque poderá fazer o que mais lhe apetece – estabelecer o confronto com o PT. Esse é o tipo da polarização que tucanos de fina plumagem adoram, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Da mesma forma como petistas de alto coturno, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sonham com a revanche do tetracampeonato eleitoral, em pleno ano da Copa. Tudo a ver, como diria Galvão Bueno.

Não faltará quem lembre Eduardo Campos, o destemido neto de Miguel Arraes, que idealiza passar como um trator sobre o PT e sobre Dilma, extraindo nacos preciosos da legenda de Lula no seu berço natal, Pernambuco, e daí avançando como um conquistador por outras plagas deste imenso Brasil. A dados de hoje, verdade seja dita, Eduardo não ameaça além das fronteiras de Recife e Olinda. Falta-lhe a certeza de ter ao seu lado eleitores de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, do Distrito Federal. Poderá cravar uma “cunha” em redutos de Dilma aqui e acolá, bafejado pelos ventos das disputas regionais. Ou poderá mesmo se constituir num azarão com chances à vista, se o barco da economia que Dilma pilota fizer furos ou se algumas estratégias concebidas pelo Palácio do Planalto, com reforço de emissários da campanha de Barack Obama, fizerem água.

Temos Marina Silva, a grande incógnita. Foi bem votada na eleição de 2010, mas o fenômeno talvez tenha decorrido da incerteza sobre o que seria um governo de Dilma, que, aliás, em plena campanha, foi comparada a um “envelope lacrado”, numa tirada de mau gosto de José Serra, durante debate em Brasília. De lá para cá, o envelope foi rasgado, escancarado até. Deu para perceber que a presidente eleita com o aval de Lula estava preparada para o ofício. Não era uma marionete, como alguns suspeitaram. Além da personalidade forte, ainda ousou promover faxina em alguns postos estratégicos da Esplanada dos Ministérios que pareciam intocáveis na Era Lula. Os opositores queixam-se que a faxina parou. Dilma não é de ferro. Precisa fazer concessões para a reeleição. Todos fazem isso, aqui, nos Estados Unidos, em qualquer nação onde o voto seja a moeda para conquistar o poder. Mas, voltando a Marina. É muito difícil que repita a performance de 2010, ou dela se aproxime. Andou sumida do debate nacional. E, naturalmente, perdeu espaços.

Fora do quarteto Dilma-Aécio-Eduardo-Marina, quem mais se habilita ao jogo? O inefável José Serra, com uma biografia repleta de derrotas, de tantas eleições que participou, faltando, como disse Lula, disputar apenas a de síndico de prédio? Especula-se que Serra tenta o pulo do gato, descolando-se do PSDB e assinando ficha no PPS. Pouco importa a legenda pela qual possa concorrer ou a que esteja filiado. O problema é o Serra mesmo, com a sua dificuldade de convencer que é o bamba, a pomada maravilha capaz de expurgar todos os males que porventura rondem a paisagem nacional. Serra poderia começar de novo por São Paulo. Pelo Planalto é que não chegará ao Rubicão.

Os mais realistas dirão que é cedo para prognóstico, e que até prova em contrário todo e qualquer postulante tem chances plenas de vitória. É um axioma, que nem sempre traduz a autenticidade dos fatos. Outros advertirão que a popularidade experimentada por Dilma pode ser efêmera. Sim, mas pode não ser. Na minha bola de cristal, ela se mantém favoritíssima na corrida que se ensaia. Só perde a liderança se surgirem aqueles tais fatores supervenientes – incômodos para quem larga em vantagem.

P.S. Neste segundo dia de abril, rendo minhas homenagens a uma senhora de cabelos brancos, apaixonada por Roberto Carlos, por filhos, filhas, netos, netas, sobrinhos e sobrinhas, irmãs, noras e toda uma plêiade que cabe no seu coração enorme: minha mãe, dona Josefa Guedes de Aquino, essa heroína que teve forças para tocar o barco depois da tempestade. Amo-a, infinitamente, cada vez mais. Creio ser uma confissão rara, da minha parte. Mas sei o quanto ela é importante nas travessias e no mar de sargaço que eventualmente sou obrigado a enfrentar. Um beijo, e muitos, muitos anos de vida, mamãe!