A candidatura de Eduardo Campos

Flávio Lúcio

A candidatura de Eduardo Campos hoje é uma possibilidade mais do que factível.Da última vez que estive em Brasília, conversei com uma parlamentar pernambucana aliada do Governador de Pernambuco e escutei dela a seguinte avaliação: “Eduardo Campos considera que as condições que estão sendocriadas em 2014, e que podem viabilizar sua candidatura à Presidência, talvez não mais se repitam no futuro.” É aquela história do cavalo selado, um ditado popular muito utilizado em política. Por isso, a referida parlamentar acha que Campos é, hoje, candidatíssimo a presidente.

Campos e a polarização PT-PSDB

A primeira incidência política é que a candidatura de Eduardo Campos reconfigura a disputa nacional, abrindo a possibilidade de uma alternativa à polarização PT-PSDB, que aglutinam as principais forças partidárias nas eleições presidenciais desde 1994, quando FHC foi candidato pela primeira vez. O desempenho de Marina Silva em 2010, quando a ex-petista obteve quase 19,6 milhões de votos, o que representou 19,3%,num crescimento fulgurante na reta final, principalmente sobre o eleitorado petista, é um indício de que essa polarização está próxima do seu esgotamento e a exigir, principalmente por parte do eleitorado de oposição, novas lideranças, novos partidos e um novo discurso para a oposição.

Nas três eleições em que Lula e Dilma Rousseff foram os vencedores esteve em pauta o governo de FHC, com grande destaque para o modelo de desenvolvimento – que acentuou a dependência externa e a concentração de renda – e a política de privatização, fatores que, no confronto com o modelo defendido por Lula e Dilma, acentuaram as diferenças em favor dos petistas. A grande questão é essa para a oposição: qualquer comparação a ser realizada entre os governos tucanos e petistas é impossível não reconhecer, para qualquer observador que não esteja disposto a forçar a barra, a grande vantagem que levam os governos do PT. Quem acha que o eleitor não leva isso em conta, especialmente porque ele sente essas mudanças na pele, o resultado das últimas três eleições está aí para comprovar.

O PSDB isolado à direita

Enquanto o PT agregou o centro e parte da direita em torno de seu projeto de poder, com claras incidências sobre o programa tradicional petista, o PSDB foi se isolando à direita ao lado dos Democratas e do PPS, que também perdeu todos os referenciais de esquerda, na defesa de um projeto– eles não perceberam isso, ao lado de muitos dos nossos “jornalistas econômicos” – que teve que enfrentar vários senões após a hecatombe de 2008-2009, a maior crise do capitalismo desde 1929. Os tucanos continuam a receitar, sem nenhuma adaptação aos novos tempos, o velho discurso, que também é o mesmo do de jornalistas comprometidos com os interesses dos bancos. Enfim, o PSDB e os partidos aliados, sem alternativa de projeto e incapazes de formular algo novo fora dos cânones construídos durante a Era FHC, foram definitivamente associados aos “ricos”, coisa que, eleitoralmente, não é nada boa. Por isso, os 60% dos votos no segundo turno que Lula obteve em 2002, se repetiram com uma regularidade quase estatística em 2006 e 2010. E tende a repetir-se em 2014.

Aí é onde entra a candidatura de Eduardo Campos

Para tornar sua candidatura viável, Eduardo Campos tem que ser capaz de se apresentar como uma opção eleitoralmente viável ao PT e ao PSDB, algo que Marina Silva não conseguiu no início da campanha porque não teve, entre outras coisas, estrutura partidária.

Eduardo Campos tem. O PSB elegeu em 2012 prefeitos em 440 municípios (o PT, em 635). Além deles, o partido tem seis governadores, incluindo o da Paraíba. É claro que isso não é suficiente para viabilizar uma candidatura – se fosse, o PMDB teria candidato, – mas é um ponto de partida decisivo para enfrentar uma batalha da magnitude de ume eleição presidencial em um país das dimensões do Brasil.

Além disso, Eduardo Campos é nordestino, região que deu grande apoio às eleições de Lula e Dilma.

Além de eleitoralmente viável, Campos precisa de um discurso alternativo. Enfim, ele precisa se situar em meio a esse embate ideológico que opõe PT e PSDB. Como Eduardo Campos e o PSB são considerados de esquerda e aliados históricos do PT e de Lula, não será fácil desconstruir essa trajetória, a não ser que ele faça uma aliança aberta com o PSDB. Ou seja, Campos pode entrar no eleitorado petista, naqueles mais de 40% que levaram Lula e Dilma para o segundo turno nas últimas eleições. Além disso, ele pode ocupar o espaço que foi de Marina Silva em 2010, o que facilitaria muito se ela aceitasse ser sua vice, o que não é impossível de acontecer.

Restaria seduzir parte do eleitorado tucano, oferecendo algum “compromisso ético”. Por fim, o eleitorado antilulista pode ver nele uma alternativa mais viável para derrotar o PT. No primeiro ou no segundo turno ele contará com esse eleitorado de uma maneira ou de outra.

Por isso, considero que a candidatura de Eduardo Campos não pode ser desprezada, especialmente pelo PT. Ela dá uma nova dimensão ao embate, permitindo que o debate escape para uma outra seara, que não a do embate estritamente ideológico. Ao “dialogar”, como gostam de dizer os petistas, com o eleitorado de esquerda, Campos, ao lado de Ciro Gomes, podem seduzir parte dele com um discurso mais claramente desenvolvimentista.

O PT que se cuide.