A Cagepa continua fazendo água somente

Gilvan Freire

O governo está se afogando e, diferentemente do que acontece nos grandes naufrágios, a agonia é mais demorada, pois embora o barco governamental tenha muitas avarias no casco, o problema maior está no leme e na cabine de comando.

A Assembleia Legislativa pôs tempestade sobre a nau oficial e a jogou sobre os rochedos, sem complacência. Pior é que entre os deputados governistas e oposicionistas, todos (literalmente todos) acharam ótimo o espetáculo dos mares revoltos que se apressam na destruição da embarcação, porque nela não cabem deputados, nem os marinheiros da própria esquadra do rei, muito menos os marujos da frota inimiga. Ou seja, o barco deve afundar só com seu próprio comandante, porque ele faz questão de singrar os mares sozinho, desconhecendo o papel da tripulação. Será sempre assim até que esse falso Titanic vá a pique definitivamente.

Mais uma vez, na tentativa de impor a desmoralização e submissão do Poder Legislativo, RC não teve força para dobrar seus adversários, e foi obrigado a bater em retirada, levando debaixo do sovaco o novo projeto de endividamento da Cagepa, o monstro do governo que se alimenta da economia popular mas põe mais medo ao próprio governo do que ao povo.

Durante a votação do projeto na AL, o que mais preocupou o governo foram as dificuldades e custo para contar 19 deputados aliados declarados e para conter as galerias repletas de servidores da Cagepa. Telefonemas e ameaças foram feitas a supostos correligionários voláteis, enquanto a CUT e Sindicatos defendiam ostensivamente o dinheiro para garantir seus privilégios, mas também defendiam uma apuração rigorosa das bandalheiras que quebraram a empresa.

Contudo, o fato mais emblemático nasceu no colo do governador. O deputado Jutahy, pastor que RC excomungou da Junta Comercial há poucos meses mas que reconciliou-se com o governante pela via da quebra do jejum e do ajoelhamento penitencial, resolveu de última hora mudar a liturgia. Foi ele quem apresentou à casa a melhor dose de ‘Cicuta’, planta venenosa cujo suco era usado como raticida e também para matar os condenados a morte na Grécia antiga (como Sócrates, que foi forçado a tomá-la e morreu).

A emenda do devoto e contrito deputado Jutahy, com todas as boas intenções das leis canônicas de antes e pós reforma de Calvino, é um verdadeiro impeachment em branco do governador. Segundo a proposta, haveria uma comissão encarregada de acompanhar o dinheiro e especificar a sua aplicação, composta de servidores, sindicatos, Ministério Público e representantes da Assembleia; não poderiam haver as safadezas e roubalheiras daqueles 10% de encargos extras na abertura do crédito e os 5% sobre a liquidação prévia do contrato. Outra coisa: o empréstimo teria aplicação exclusiva no pagamento das dívidas existentes com os outros bancos.

O pastor, que foi renegado mas absolvido depois de longo confessionário, quis tirar a Cagepa do controle do governo e passá-la à gestão de uma junta governativa. Foi ai que todos os deputados governistas correram céleres para subscrever a proposição de Jutahy. E assinaram todos.

Tem dia especial nesta Paraíba em que nem o governador Ricardo Coutinho sabe com quem conta. Primeiramente, porque tem de saber antes se é a favor ou contra. E, caso haja dúvida, parece ser melhor zerar tudo e começar a conta do zero. Isto é: se for mesmo para contar os que são a favor. É pouco?