A Assembleia, a seca e os desgovernados

Gilvan Freire

A marcha interiorana dos deputados estaduais ao encontro de seus eleitores, semana passada, a fim de conferir os efeitos devastadores da seca de 2012, tida por muitos como ainda maior do que a de 1958, que deixou marcas profundas nos nordestinos daquela época e transformou-se em símbolo do êxodo rural que formou levas de retirantes para o Sul do país e fomentou o grito e o choro dos cancioneiros populares em seus versos, é acontecimento político de muita relevância.

De fato, deputados não resolvem os problemas gerados pela estiagem desalentadora, pois o parlamento não tem funções executivas, mas pelo menos são capazes de reverberar o que pensam e dizem as populações instaladas nessas áreas de sofrimento e abandono. Por mais comprometido que seja um deputado com o oficialismo governamental, que não chega perto dos aflitos nessas horas de crise de subsistência humana, ainda assim se condói quando testemunha a situação de isolamento e ostracismo a que está hoje submetido o homem sertanejo, confinado no deserto em que virou o Nordeste sem água e chuvas. Isso basta para criar um caldo de reação política contra a insensibilidade governista, cada vez mais distante dos lamentos e gemidos dos desvalidos.

O CAOS MORA ALI MESMO

O relato oficial dos deputados sobre o que viram e ouviram por onde andaram nos últimos dias, será crucial para se compreender os tamanho da tragédia da seca e sua capacidade destrutiva do meio ambiente e da infraestrutura de sobrevivência do homem em condições tão inóspitas. Não fosse especialmente o destemor do presidente da AL, deputado Ricardo Marcelo, de não ajoelhar seu poder ao chicote do poder executivo, que alardeia uma ação assistencial propagandística mas sem eficácia social, e que cada vez mais vai ficando autoritário e intolerante às críticas, e cada vez menos vem solucionando as questões cruciais do Estado, a seca iria ficar confinada aos lugares onde se manifesta de maneira voraz, sem que as populações dos grandes centros urbanos, a partir da Capital, tivessem o direito de saber a verdade.

Ao menos já sabe que a população animal da Paraíba está reduzida a cerca de 20% do que era em 2011, em alguns casos, como ma região de Picuí, estando em torno de 11% do que fora no ano anterior.

Há fuga em massa de habitantes para as cidades maiores e para outras regiões do país, desertificando o meio rural, que já se acha em crise de desertificação climática faz tempo, a falta de uma política de governo de proteção à flora e incentivo à agricultura de auto-sustentação.

As escolas perderam clientela; comerciantes quebraram ou reduziram drasticamente seus pequenos negócios; as dívidas pessoais cresceram; o patrimônio imobiliário rural virou fumaça; e o quando psicológico do povo é de semi-depressão, quando não depressão aguda. Os programas assistenciais do governo do Estado e do governo Federal são uma tapiação vergonhosa, que em nada diminuírem as tensões sociais e psicológicas das populações. Há perversa manipulação da assistência e estrago dos poucos recursos disponibilizados. É um horror! É um clamor!

Não há controvérsia a ser alimentada quanto a isso. Houvesse uma ação minimamente correta e eficaz, a situação seria essa?