A articulação frenética de Campos

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João Bosco Rabello – Estadão

Se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), submergiu nos últimos dias na cena política nacional, levantando suspeita de recuo no projeto presidencial, tudo não passou de especulações. Nos bastidores, Campos atua como um intrépido e obstinado articulador na montagem dos palanques que dêem sustentação ao seu projeto de poder. Uma liderança do partido revelou ao blog, por exemplo, que o comando da candidatura de Campos debruça-se sobre as 400 maiores cidades do País, que reúnem 60% do eleitorado. A costura dos palanques mira estes municípios.

Se deu um tempo nos holofotes nacionais, mergulhando no sertão pernambucano nos últimos 15 dias, ele prepara o retorno à cena nacional. Na próxima quarta-feira (15), desembarca na Expogestão, em Joinville, Santa Catarina – fará uma palestra sobre gestão pública, ao lado do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB).

Abrindo portas

Campos tem articulado freneticamente nos bastidores. No Ceará, convidou a principal adversária do governador Cid Gomes (PSB) – a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT) – a ingressar no PSB. Foi a resposta mais contundente à conduta de seu correligionário, que tem feito oposição ostensiva à pré-candidatura de Campos à presidência da República.

Em Goiás, Campos deu o troco ao PMDB, que lhe roubou a principal liderança do PSB no Estado. Num movimento que contou com a participação do Palácio do Planalto, o empresário José Batista Júnior, um dos sócios do frigorífico Friboi, trocou o partido de Campos pelo PMDB, deixando o pernambucano sem palanque em Goiás. “Júnior do Friboi”, como é conhecido, seria o candidato do PSB ao governo.

Mas a reação de Campos foi instantânea – em menos de um mês, ele atraiu para o PSB uma das apostas do PMDB para 2014 – o empresário Vanderlan Cardoso, ex-prefeito de Senador Canedo, município na região metropolitana de Goiânia. Cardoso era pré-candidato do PMDB ao governo ou ao Senado. “Onde fecharem uma porta outras dez se abrirão”, provocou o governador no ato da filiação de Cardoso ao PSB.

Olho no PDT

No plano nacional, a menina dos olhos do PSB é o PDT. A cúpula socialista acha que o presidente do PDT, Carlos Lupi, no fundo, não perdoou a humilhação que lhe foi imposta pela presidente Dilma Rousseff, quando o demitiu do cargo de ministro do Trabalho na “faxina ministerial”. Os socialistas acham que, movido por esse ressentimento, Lupi traria o PDT para os braços do PSB.

Se o PDT fechasse com Campos, os socialistas avaliam que os trabalhistas desembarcariam do governo Dilma em abril de 2014, entregando os cargos e aderindo ao PSB. Fechada a aliança no plano nacional, com garantia de tempo de televisão para Campos, o PSB cederia as cabeças de chapa nos Estados. Em Pernambuco, Campos faria seu sucessor o vice-governador, João Lyra Neto (PDT). Em Mato Grosso, apoiaria o senador Pedro Taques (PDT) ao governo. E no Rio de Janeiro, fecharia com o deputado Miro Teixeira (PDT), pré-candidato ao governo, que também vem sendo assediado pelo PSDB.

“Triângulo das Bermudas”

O problema é que os maiores obstáculos de Campos concentram-se nos três maiores colégios eleitorais – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – que, juntos, somam 43% do eleitorado nacional.

Nem em São Paulo nem em Minas Gerais o PSB dispõe de nomes competitivos para enfrentar a hegemonia de PSDB e PT. Tanto que nos dois Estados, o PSB não descarta uma estratégia ousada – dividir o palanque do candidato ao governo com a oposição.

Em Minas, o PSB deu prazo até junho para que o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB) responda se deseja ser o candidato do partido à sucessão do governador Antonio Anastasia (PSDB).

Se Lacerda rejeitar a oferta, o PSB tem duas alternativas. A primeira seria apoiar a candidatura do vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP), que também deverá contar com o apoio do presidenciável do PSDB, Aécio Neves. O plano C de Eduardo Campos é lançar ao governo o deputado Leonardo Quintão, que trocaria o PMDB pelo PSB. Quintão tem recall no Estado – concorreu à prefeitura de BH em 2008.

Na mesma aposta arriscada de dividir o palanque do candidato ao governo com a oposição, Campos apoiaria a candidatura à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo – candidato de Aécio Neves. O PSB tenta convencer o PSDB a montar uma chapa tendo o deputado Márcio França (PSB) como vice de Alckmin.

No Rio de Janeiro, o PSB articula em várias frentes. Se não apoiar o PDT de Miro Teixeira, sonha com o senador Lindbergh Farias (PT). A cúpula socialista acha que, na última hora, o PT vai negar a legenda a Lindbergh para compor com o PMDB de Sérgio Cabral. E nessa hipótese, forçaria Lindbergh a trocar o partido pelo PSB, pelo qual poderia concorrer ao governo fluminense.

Expectativa

O comando de campanha de Eduardo Campos trabalha com uma meta: de que o governador atinja, pelo menos, 12% de intenções de voto até o fim do ano. Nas últimas sondagens, ele aparece com 6%. Os socialistas acham que se Campos alcançar os dois dígitos, terá mais cacife para atrair aliados e arrematar a montagem dos palanques.