A aposta errada de Vené

Rubens Nóbrega

Não gosto de me meter nos assuntos de Campina Grande, inclusive porque para me inteirar sobre o mundo da Vila Nova da Rainha preciso, antes, ler a coluna Aparte do hiper bem informado e judicioso Arimatéa Souza. Mas, como lá está bem mais animado do que aqui…
Bom, depois dessa última pesquisa Ipespe algo me diz que pelo menos uma coisa Veneziano Vital parece ter em comum com Ricardo Coutinho: em algum momento do passado recente os dois acreditaram que poderiam repetir o feito de Lula no apadrinhamento de uma candidatura inusitada.
Digo isso porque essa seria uma das poucas razões para explicar ou entender o fato de cada um ter lançado uma Dilma – embora desprovida de muitos dos atributos da original – para disputar as prefeituras de Campina e de João Pessoa.
Quando resolveram imitar o ex-presidente, muito provavelmente estavam inebriados pela ‘certeza’ que contamina a maioria dos poderosos. Eles vivem sob permanente sensação de infalibilidade nos atos e decisões e desmedida autoconfiança que os impele à reinvenção da roda.
Em vez de tentarem um sucessor pra chamar de seu entre nomes de reconhecido potencial político e eleitoral, inventam de descolar uma desconhecida, uma surpresa, uma possibilidade ou uma aventura. A partir daí trabalham a novidade e finalmente a impõem ao seu círculo, grupo ou partido.
É bem verdade que nas eleições municipais ainda não encerradas, a Doutora Tatiana, a Dilma de Veneziano, saiu-se bem melhor até aqui do que Estelizabel Bezerra, a Dilma de Ricardo. Mas, sem querer chorar e já chorando o leite derramado de prefeito e governador, não resisto lembrar ou apostar que os dois estariam bem mais confortáveis hoje se suas escolhas tivessem sido outras.
Na Capital, só mesmo a soberba de um Ricardo Coutinho seria capaz de dispensar um Luciano Agra. Fosse o atual prefeito o candidato, a peleja aqui muito provavelmente teria acabado no primeiro turno com a reeleição de Agra, mercê de sua razoável aprovação junto aos pessoenses e, principalmente, de duas máquinas públicas unidas, azeitadíssimas, fazendo voto em larga escala.
Já em Campina, pelo que sei até a véspera da unção de Tatiana resistia dentro do círculo íntimo da família Vital a opção por Daniella Ribeiro. Alguém me soprou que Vital Filho seria o grande defensor desse Plano B. Raciocinaria o senador: Daniella não apenas agregaria tradicional grupo político à força da dupla Vital. Ela candidata de Vené, até mesmo diante de eventual derrota daria pra repartir o prejuízo com os Ribeiro (Enivaldo, Aguinaldo e a própria).
Agora, se perder, Veneziano terá que arcar sozinho com uma conta que não dá pra fazer fiado e ele só dá conta se parcelar. Mesmo assim, só acabaria de pagar em outubro de 2014.
Romero ao largo de Ricardo

Pelo visto, Romero Rodrigues fez muito bem em esconder Ricardo Coutinho e do governador se esconder durante toda a campanha, inclusive faltando à reprise anual do anúncio de obras do Governo Estado em Campina Grande no último dia 10, véspera do aniversário da cidade.
O candidato do PSDB deve ter em mãos pesquisas de opinião para consumo interno e elas certamente revelam “o que andam suspirando pelas alcovas”, “o que andam falando alto pelos botecos”, como diria Chico Buarque, e o Ipespe confirma agora: aumentou a reprovação do Ricardus I pelos campinenses.
Na pesquisa divulgada em 30 de setembro último, 15% do povo da Vila Nova da Rainha avaliavam como ‘ruim’ a gestão estadual e 30% diziam que era ‘péssima’, ou seja, a reprovação fechava em 45%. Na pesquisa publicada hoje, a desaprovação do Ricardus I sobe para 47% (17% de ‘ruim’ + 30% de ‘péssima’).
O mais bem votado da história
Do jeito que vai, não se admire se Luciano Cartaxo se transformar no candidato a prefeito de João Pessoa mais bem votado da história republicana da Capital da Paraíba. Segundo a pesquisa Ipespe, se a eleição de segundo turno fosse realizada hoje, o candidato do PT teria mais de 242 mil votos válidos, contra 129 mil de Cícero Lucena, candidato do PSDB.
Fiz a conta em cima dos 370,9 mil votos válidos apurados no primeiro turno, de onde tirei os 65% das intenções de voto pra Luciano e 35% para Cícero. Quem me acompanha sabe que sou péssimo em matemática e já cometi erros de cálculo monumentais, mas acredito que dessa vez acertei na regra de três pra calcular porcentagem.
Pois bem, graças ao desempenho de sua campanha penso ser possível que na arrancada final a candidatura de Luciano venha a acrescentar mais 22 mil votos, superando os 262 mil obtidos por Ricardo Coutinho em 2008, quando o atual governador do Estado foi reeleito prefeito da Capital contra João Gonçalves, do PSDB, no primeiro turno, cravando 73,85% dos votos válidos.