Gilvan Freire
Completando 170 dias de gestão, Ricardo Coutinho já consumiu 11,70% de seu tempo de governo. Chega ao final de junho com os primeiros 06 meses vencidos, algo em torno de 12,5%, um oitavo do total. Medindo o tempo de duração de qualquer governo sempre por percentuais a gente fica com a noção mais precisa de como os governos são passageiros. É como se uma pessoa tivesse de viver apenas 48 meses e num piscar de olhos já tenha vivido 06. Envelhece rápido demais. É de assustar.
Nesses primeiros 06 meses de administração (a completar daqui a 10 dias), o governo não tem uma só obra importante, a não ser que desejemos enumerar as obras do mal que são muitas, e ainda assim precisaríamos identificar as maiores, porque o mal não é medido em metros nem contado em números, é avaliado pela dor, pelo sofrimento e pelas feridas psicológicas que deixa nas vítimas.
Começa agora a fase de respostas de RC
Mas, convenhamos, o governo não está paralisado. A partir de agora, Ricardo vai dar uma mexida na mídia e nas obras, porque somente ele e poucas pessoas sabem – embora milhares presumam – que seu governo está descendo a ladeira antes do tempo e sua imagem pessoal está gravemente deteriorada, inclusive com a marca de perverso, frio e autoritário. Ricardo tem pesquisas científicas que apontam o fosso existente hoje entre o povo e seu governo, inclusive quanto à perda de votos dos que votaram nele e a falta de confiança daqueles que confiavam em seu projeto governamental. Haverá um oba-oba muito grande da parte de centenas de pessoas recrutadas através de empregos e pagamentos camuflados, alguns feitos por meio de empresas que têm interesses mercantis no Estado, fundações etcétera e tal, no sentido de defender e exaltar o governo. Outros, que já são carimbados, assumirão o papel de forma desabrida, empolgados e até emocionados. E não faltará dinheiro público para financiar até aqueles que serão alugados para combater os críticos do governo.
Fracasso dos planos iniciais
RC já foi vencido na primeira etapa estratégica de seu governo, que tinha antes o propósito de desqualificar seus antecessores passando a ideia de que o Estado estava quebrado e de que finanças e moralidade públicas entraram em colapso na Paraíba que ele ia governar. Era tudo falso, somente para justificar as apropriações indébitas no orçamento dos demais poderes e os cortes que o próprio Ricardo fez, não no orçamento do governo estadual, mas no bolso e na vida de servidores humildes, que perderam empregos, ou cargos, gratificações e conquistas salariais consolidadas pelo Poder Judiciário.
A eliminação política dos inimigos
Ricardo queria mais. Queria sepultar moralmente seus antecessores para poder usar os recursos, projetos e obras que eles haviam deixado em grandes montas, sem que a população se lembrasse deles, por causa da má fama que Ricardo lhes impôs taxando-os de administradores desonestos, especialmente Zé Maranhão. É como o esperto que falava horrores do homem rico que faleceu, só porque precisava casar com a viúva depois e fazer uso da herança deixada pelo falecido.
RC é obrigado a executar obras dos governos passados
Pois bem, o plano de obras de Ricardo é integralmente herdado e todos os recursos vêm dos governos passados de Cássio e Zé Maranhão, que brigaram entre si para saber quem primeiro eliminaria o outro, e terminou Ricardo ficando com a viúva e os bens. Nada de errado nisso. O importante é realizar.
O curioso em tudo é que a estratégia de Ricardo não deu certo nos primeiros momentos e, agora, para salvar-se do desgaste e da impopularidade que corroem vorazmente seu prestígio político, resolveu soltar o que tinha no baú, embora o baú esteja cheio de herança dos outros. Poderia ser uma virtude continuar os projetos que vêm de governos passados, mas a gravidade reside no fato de que Ricardo amaldiçoava os que lhe deixaram esses tesouros e não desejava lhes render o mérito dessas realizações. E terá de reconstruir Camará, recuperar as estradas, o Hospital de Traumas de CG e o Centro de Convenções, afora a Translitorânea e outras deixadas em andamento e com dinheiro em caixa pelos governos anteriores.
Agora o escândalo
O governador Ricardo Coutinho que ainda não havia programado uma obra importante para a sua gestão, e depois de renunciar aos grandes projetos estruturantes da economia estadual em favor de Pernambuco, mete-se numa negociação descabida, apressada, suspeita, sutil e pouco explicável, envolvendo a permuta de terrenos públicos por terrenos particulares, no interesse de um empresário ligado à sua campanha e à sua pessoa. É um negócio que pode movimentar até ou mais de 100 milhões de reais, o segundo shopping de Roberto Santiago que já nasce fedendo muito e não cheirando nada. Começa agora pelo terreno pantanoso da imoralidade pública a edificação da maior obra do governo RC até hoje, mas que não terá colunas de sustentação sólidas porque está alicerçada nos entulhos da podridão. Como a história sempre registra, toda ditadura apela invariavelmente para a corrupção como forma de premiar a si mesma pelo mal que faz aos outros. É um horror. Voltarei ao tema.