A ‘nossa boate’

Arimatea Souza

Nas entrelinhas

Em função da medição de forças entre poderes na Paraíba, vale a pena resgatar recados embutidos no discurso de posse (anteontem) do deputado-presidente Ricardo Marcelo (PEN) para mais um período à frente do Poder Legislativo.

Renovação “O Poder Legislativo, a cada legislatura, a cada sessão legislativa, se reinventa e renova na afirmação de suas prerrogativas e na defesa de seus princípios.

Constante “Mesmo na convivência mais harmoniosa, sempre haverá independência. Sempre haverá autonomia, mesmo na colaboração mais estreita.

Delegação “A missão que os senhores me delegam parece clara: defender em nome da Paraíba e de seus interesses, a autonomia e a soberania do Poder Legislativo.

Defesa “Serei o presidente da Assembleia da Paraíba na defesa intransigente de suas prerrogativas, de sua autonomia e de sua independência.

Não se curvar “Defendemos e buscamos, sempre, o respeito e a harmonia entre todos os Poderes do Estado, mas convivência harmoniosa jamais significará submissão.

Recusa “O Poder Legislativo da Paraíba se recusa ao papel menor de apenas homologar decisões e chancelar projetos ou interesses de quem quer que seja (…) Se depender de nós, a Assembléia, que escreveu e aprovou a Constituição, vai cumpri-la a todo custo.

Transparência “Queremos uma Assembléia cada vez mais acessível aos paraibanos e cada vez mais transparente para todos eles”.

Quarteto Recente reunião do ex-prefeito Veneziano com a bancada de oposição na Câmara campinense reuniu quatro parlamentares: Ivan Batista (PMDB), Galego do Leite (PMN), Olimpio Oliveira (PMDB) e Lafite (PSC).

Fora de pauta Olimpio disse à APARTE que a conversa foi informal e não se tratou de política, “apenas de amenidades”.

Jogo rápido Coluna: qual foi uma das amenidades tratadas? Olimpio: “Expectativas para a Copa Nordeste e o Campeonato Paraibano de Futebol”.

Procedência Em parecer remetido ao Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria-Geral da República se posiciona favorável à ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra leis que instituem uma cobrança adicional do ICMS sobre o comércio eletrônico.

Violação Para a PGR, a lei viola a Constituição ao limitar a entrada de bens em Estados por meio de tributos, além de fixar diferenças tributárias entre bens e serviços em razão da procedência.

Fora de competência “Ainda que sejam nobres os objetivos buscados (na legislação), aos Estados não é dada a competência para modificar a disciplina constitucional da matéria”, disse o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao jornal Valor Econômico.

Comoção Justificadamente, o Brasil e o mundo estão perplexos e chocados desde o último domingo com a tragédia que se abateu sobre a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, matando quase 250 pessoas, predominantemente jovens. À dor se mistura a inconformação com o encadeamento de falhas e deslizes funcionais que modelaram o desfecho pavoroso.

Bem mais perto Mas aproveito essa consternação para novamente alertar sobre outra tragédia que ocorre entre nós, paraibanos, com a singularidade de vir de maneira gradual, anestesiando o horror e banalizando as suas consequências.

Fila da agonia Falo da sucessão de acidentes envolvendo motocicletas que deságuam nos hospitais de emergência do Estado, especialmente o ´Dom Luís Fernandes´, em Campina, o maior da Paraíba, que por esse motivo atrai pacientes de muitas regiões.

Escalada Em dezembro último foram 998 acidentes envolvendo motos que necessitaram de atendimento hospitalar. “Os números sobre motos são assustadores”, observa o diretor técnico do hospital, médico Flawber Cruz.

´Dia seguinte´ Os desdobramentos dessas ocorrências não são menos preocupantes. 65% das cirurgias realizadas no ´Trauma´ têm como causa acidente com motos. Esses veículos geram uma média de dez amputações de membros mensalmente.

Meninada A grande maioria dos acidentados é formada por jovens com até 21 anos. Predominantemente, esses fatos ocorrem nos finais de semana.

Esgotamento Já existe dificuldade para a escalação de pessoal médico e paramédico nos finais de semana e feriados, pelo fato de os profissionais serem submetidos a uma carga brutal de trabalho. O volume de atendimentos impede até mesmo um breve descanso.

Inatividade Um levantamento feito pela previdência social traduz os efeitos dessa situação no mercado de trabalho: 70% dos acidentados com motos ficam inválidos por até dois anos. Os outros 30% ficam inválidos de maneira irreversível.

Tragédias contínuas

Na média, 20% dos acidentados que são socorridos vão a óbito. Isto é: figurativamente, os acidentes no trânsito com veículos de duas rodas produzem a cada mês, entre nós, a dizimação que a boate Kiss sediou domingo último.

Olhos para o Ipsem…