O costume no Brasil é se afirmar que o cidadão/eleitor tem baixa consciência política. Não sem razões. Afinal, tem sido pelo voto do eleitor que o poder, em todos os níveis e instituições, está repleto de políticos e gestores incompetentes e corruptos.
Mas talvez não seja bem assim. Talvez já possa afirmar que o cidadão brasileiro dispõe de razoável nível de consciência política e que, se elege incompetentes e corruptos, é por falta de melhores opções.
Na verdade, o eleitor, nos últimos anos, tem escolhido quase sempre a melhor opção para aquele momento eleitoral.
As pesquisas dos grandes institutos nacionais têm dado prova do bom nível de consciência do cidadão brasileiro.
Os protestos de junho chegaram a ter mais de 80% de aprovação da população (81,7% em pesquisa da Confederação Nacional do Transporte – CNT-, no auge das manifestações). Mesmo com a ação violenta dos ‘Black Blocs’, que obtiveram 93,4% de reprovação, a população ainda manteve aprovação de 65% aos protestos agora em outubro.
A última pesquisa do Ibope de intenção de voto para a presidência da República traz dados que também atestam a evolução do nível de consciência dos brasileiros. Nada menos do que 62% desejam mudanças nos programas de governo federal.
Foram oferecidas quatro perguntas para avaliar se o brasileiro deseja a continuidade dos programas do governo federal ou quer mudança. Os números são surpreendentes: 38% responderam que gostariam que o próximo presidente ‘mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa’ e outros 24% que ‘mudasse totalmente o governo do país’ (a soma dos dois itens atinge 62%).
Apenas 24% disseram preferir que o novo presidente ‘fizesse poucas mudanças e desse continuidade a muita coisa’ e 12% preferem que se dê ‘total continuidade ao governo atual’ (35%).
Parece contraditório: a presidente Dilma Rousseff lidera a pesquisa de intenção de voto e pode vencer até no primeiro turno, mas 62% dos brasileiros não querem a continuidade dos programas do governo; só alguns.
Não há contradição. O governo Dilma tem aprovação de apenas 37% e intenção de voto de 43%. São números próximos dos que se manifestam pela continuidade da maioria dos programas do atual governo. Além disso, não existe nenhuma outra proposta de governo convincente.
Existe, pois, uma consciência crítica (62%) cobrando a necessidade de mudanças mais profundas no país. Não é consciência do ‘contra’. Por isso, o eleitor pode votar ou não na oposição. Vai votar, com certeza, na proposta menos ruim.
Os políticos é que precisam ter consciência de que o povo não é mais besta.