Vantagem não define eleição em Sousa

Prof. Luiz Ernani Torres

A análise qualitativa da pesquisa Ipespe, embora aponte o candidato André Gadelha (PMDB) na frente, tanto da espontânea, com 36%, quanto da estimulada, com 44% das intenções de votos, não permite assegurar que o candidato peemedebista será o vencedor nas eleições municipais, porque sua vantagem não é muito folgada.

A diferença de André Gadelha, com 36%, na espontânea, para Lindolfo Pires (DEM), com 29%, é apenas de seis pontos percentuais, enquanto a diferença sobe para 11 pontos na estimulada. O candidato do PSOL, J. Cândido, obteve 1% das intenções de voto.

Como explicamos, em outras análises que processamos, os percentuais da votação estimulada são essencialmente voláteis, podendo mudar por qualquer informação que impacte os eleitores. O exemplo mais emblemático foi o recuo de 10 milhões de intenções de votos em relação a Dilma Rousseff, devido ao “Efeito Erenice”, o que levou as eleições presidenciais para um surpreendente segundo turno.

Na época, denúncias de escândalo envolvendo a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra (ex-braço direito de Dilma Rousseff), respingaram forte na candidata petista, e a disputa pela Presidência da República foi decidida em segundo turno com o candidato tucano José Serra. Esse desfecho em nível nacional exemplifica bem que, no estágio atual das campanhas, os candidatos devem considerar, prioritariamente, os índices da votação espontânea, os quais expressam seus votos garantidos.

Voltando ao cenário de Sousa, temos que a possibilidade favorável para André Gadelha se fortalece pelo índice de 43% dos eleitores, que sentem que o peemedebista vencerá as eleições, contra 26% de Lindolfo Pires – percentual curiosamente inferior aos 29% de sua votação espontânea.

Apesar do contexto geral favorável a André Gadelha, os percentuais dos eleitores indecisos de 28% e de 14%, respectivamente, na espontânea e na estimulada, suscitam duas hipóteses, dependendo da qualidade do marketing da campanha: ou André Gadelha amplia sua vantagem, ou Lindolfo tira a diferença. A pesquisa apresenta os cenários que podem favorecer ou desfavorecer a ambos os candidatos.

O candidato do PMDB conta com quatro trunfos para captar votos dos eleitores indecisos: índice de rejeição de apenas 21%; conhecimento dos atributos pessoais por 83% da população; experiência administrativa por ter sido vice-prefeito na gestão que antecedeu a atual; além de pertencer à tradicional e influente família Gadelha.

No entanto, apesar das vantagens que possui, André Gadelha poderá se ressentir da falta de apoios políticos, dos quais o mais forte será o do ex-governador José Maranhão, que detém inquestionável penetração e influência no Sertão paraibano.

Lindolfo Pires, embora seja conhecido por 80% dos eleitores, carrega uma rejeição de 32%, além de não possuir uma experiência administrativa, diferentemente do peemedebista, sendo totalmente desconhecido por 19% da população. Nesse cenário, durante a campanha para preencher esse vazio de imagem, ele tanto pode melhorar sua imagem, como ampliar a rejeição.

Em contrapartida, Lindolfo dispõe de duas influências eleitorais concretas e factuais. A primeira e mais estratégica é a avaliação da administração do prefeito Tyrone, que recebeu 46% de conceitos “ótimo” e “bom”, e somente 23% de “ruim” e “péssimo”, além dos 53% de avaliação positiva quanto à sua forma de administrar a cidade. Nesse contexto, o conceito da continuidade administrativa assume um forte apelo eleitoral porque, no inconsciente coletivo da população, pode se registrar um receio de mudar o que está dando certo.

O segundo ponto favorável ao candidato democrata se embasa no apoio do governador Ricardo Coutinho, aliado de Lindolfo, que recebeu aprovação de 39% de “ótimo” e “bom” contra 19% de “ruim” e “péssimo”, bem como 42% de avaliação positiva para a forma de administrar o Estado. Os eleitores tendem a pensar que o apoio de um governador pode trazer obras para a cidade.

As análises processadas inferem dois possíveis resultados eleitorais para a Prefeitura de Sousa. O primeiro desfecho dependerá da manutenção dos atuais cenários que, se não sofrerem mudanças, sinalizam a vitória de André Gadelha.

Entretanto, Lindolfo conta com fatores que podem minimizar e reduzir a atual vantagem de André, tornando incerto o resultado das urnas.

Sociólogo e analista político