O cientista político, filósofo e botafoguense fanático I Juca Pirama foi um dos primeiros a me visitar na nova Casa. Veio e deixou um presente, mais um dos seus brilhantes e corrosivos textos. Que faço questão de compartilhar com os demais leitores. É sobre os ‘Cem dias’ da Nova Paraíba. Vamos lá, então, após os asteriscos.
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Prezado colunista, saúdo o vosso retorno ao mundo da opinião livre. Sentimos muito a falta de alguém de opinião independente na nossa imprensa escrita. A grande e honrosa exceção ficou com o bravo Hélder Moura.
Para mim, a sua volta é como se a Santa Inquisição tivesse devolvido a vida, e a língua, a Giordano Bruno. Parabéns ao Jornal da Paraíba. Ganha ele, ganha a Paraíba livre, ganhamos nós, que nos tornaremos leitores assíduos.
Na sua ausência, muita água correu embaixo da ponte. E sobre a pista do Aeroclube, que foi destruída a tiros de pistola mauser, e ataque de tanques panzer.
Enquanto você esteve fora, alguns secretários estaduais adoeceram. Um foi intoxicado com chá de meira. Chá de meira é muito ruim, Rubens! Pode provocar ataques de ventosidade, espinhela caída, gota serena e estupor balaio.
Os outros provaram de chá de girassol. A raiz é ruim, o chá derruba qualquer um e a semente é intragável. Adoece na hora, com cãimbra-de-sangue… Só papagaio aguenta!
No Carnaval que você perdeu, a sensação do recente Folia de Rua foi o novo bloco ‘Girassol não é for que se cheire’. Ainda modesto, está crescendo tanto que será o segundo maior bloco no carnaval-fora-de-época de outubro de 2012, só ficando atrás do ‘Picolé de Manga’, da dupla frevista Lucélio & Luciano, que levará o título.
Mas a apoteose do bloco ‘Girassol não é for que se cheire’ será mesmo no Bal Masqué de outubro de 2014, quando arrebatará o grande prêmio.
No fim de sua ausência, Rubens, o governo comemorou cem dias. Foi parecido com o Semtenário do Corinthians: sem saúde, sem educação, sem segurança, sem obras (êpa!), sem comissionados, sem concurso.
Para a segurança, poderia, ao menos, contratar a empresa Gadi, que é um fenômeno da multiplicação. Pode multiplicar o contingente nas ruas.
Na Assembleia, aconteceu um vira-vira, e praticamente a oposição se resume a Três Mosqueteiros, que atuam num excelente ataque, com um frade pela ponta-direita, um veterinário pela ponta-esquerda, e o farmacêutico Luciano ‘El Loco’ Cartaxo como centro-avante. Estão infernizando a defesa governista, que mal consegue fazer alguma coisa.
Seja bem-vindo! Um grande abraço de I Juca Pirama.
Outros cem
Fico encabulado, mas por dentro todo ancho, quando recebo mensagens como a de Pirama e de outros amigos do mesmo naipe, além de colegas e leitores de muita qualidade que acompanham e apóiam minha atuação na imprensa paraibana.
Sinto-me naturalmente tentado a publicar colaborações como essa e, também, outros cumprimentos e congratulações pela estreia neste Jornal da Paraíba (leiam adiante). Merecem registro, apesar dos elogios que, como já disse, encabulam, mas gratificam demais da conta.
Além da saudação ao colunista, essas também trazem avaliações dos cem primeiros dias do novo governo estadual.
Reprise do Guia?
Do professor Nelson Rubens (i-meio enviado no último dia 12, às 13h54):
– Caro Rubens, fico feliz por voltar a ler sua coluna, pois tenho certeza do jornalismo sério no tratamento da informação e das opiniões. Aproveito para lhe parabenizar pela avaliação do governo Girassol, enquanto você esteve ausente, pois está sintonizada com uma leitura que fiz dos 100 dias desse governo (a qual postei no Twitter). Ao ver a fala do governador ontem (segunda, 11) pensei que fosse uma reprise do guia eleitoral. Pois mais uma vez Ricardo falou de intenções como se ainda fosse candidato. Ao governador cabe apresentar projetos, suas prioridades, fontes de financiamentos, prazos de ini’cio e conclusão das “obras”. Até nisso ele repete seus antecessores.
Atenciosamente, Nelson Junior, professor de psicologia da UEPB, presidente do Psol-PB (Twitter- profnelson50).
Governo de futuro
Da cidadã Olímpia Atalanta (às 13h54 da última quarta-feira, dia 14):
– Caríssimo Rubens, registro minha alegria por você ter voltado a escrever no jornal. Nós não nos conhecemos, mas você tem o dom de expressar o meu pensamento sobre muita coisa da nossa realidade. Aproveito a oportunidade para fazer uma observação sobre “O balanço dos Sem Dias” do atual governante: foi a 1ª vez que eu vi numa avaliação de coisas realizadas só se usar os verbos no tempo futuro! Veja página onde está sua coluna: “(…) Serão ao todo 112 intervenções em toda a Paraíba (…) As estradas vão interligar (…) As obras de abastecimento e saneamento que o governo pretende iniciar nos próximos meses (…) No dia 29 de abril dará início ao ciclo do Orçamento (…) João Pessoa irá ganhar as três primeiras unidades de Segurança Pública (…) Homossexuais ganharão um Centro de Referência (…)”. Você não acha que em vez de avaliação, seria melhor o governo chamar de Planejamento? Na verdade, ele não executou nada até agora. Abs. e até sempre! Olímpia.
O colunista responde
Cara Olímpia, deve ser porque Sua Excelência quer marcar mais uma diferença, inaugurando um novo tempo também nos verbos. Afinal, seus dois últimos antecessores usavam e abusavam do gerúndio, como observou certa vez o estrategista político Nonato Bandeira.
De fato, Cássio Cunha Lima e José Maranhão adoravam exercitar aquela forma nominal do verbo, preferencialmente conjugando-a com auxiliares freqüentativos, tipo ‘estar’.
“Estamos iniciando”, “estamos planejando”, “estamos avaliando”, “estamos articulando”, “estamos concluindo” e outras jóias desse baú freqüentavam com notável assiduidade o discurso dos então governadores.
Com o advento da ‘Nova Paraíba’ e sua novidadeira prosódia, podemos imaginar pelo menos uma vantagem: quando o homem fala, os governados voltam os olhos para o futuro e assim, quem sabe, esquecem um pouco o triste presente em que vive a Pequenina.