2014: Luciano Agra

Flávio Lúcio

O ex-Prefeito de João Pessoa Luciano Agra era um ilustre desconhecido até assumir a Secretaria de Planejamento da Capital durante a primeira administração de Ricardo Coutinho (2005-2008). Antes, Agra, que também é professor da UFPB, havia assumido alguns cargos técnicos e atuado como Arquiteto, tanto em Campina Grande como em João Pessoa. Aproximou-se de Ricardo Coutinho ainda quando este era parlamentar, provavelmente através da ex-Secretária de Saúde de João Pessoa, Roseana Meira, com quem já foi casado.

A condição de “técnico” e de membro proeminente do Coletivo RC rendeu-lhe a indicação para o cargo de Vice-Prefeito na chapa de Ricardo Coutinho quando este disputou a reeleição. Como o projeto de Coutinho era disputar o Governo da Paraíba em 2010, e sua reeleição eram favas contadas em 2008, aquela indicação representava, na prática, a assunção de Agra ao cargo Prefeito de João Pessoa quando Coutinho finalmente se afastasse para concorrer ao governo, Em abril de 2010, Luciano Agra se tornou Prefeito da maior cidade paraibana.

O rompimento com RC 

Quem olhasse para 2012 do “longínquo” final de 2010, imediatamente após as eleições de governador, e tentasse projetar o que aconteceria na sucessão de prefeito de João Pessoa, jamais imaginaria o desfecho que ela teve depois da acachapante vitória do Governador Ricardo Coutinho na cidade. E tendo como protagonistas e responsáveis principais seus ex-aliados mais próximos, entre eles, o próprio Luciano Agra, o super-secretário de Comunicação de RC, Nonato Bandeira, e a todo-poderosa Roseana Meira, até então os nomes mais influentes do “ricardismo”, depois do próprio RC. Coutinho provavelmente subestimou a força que o cargo de prefeito dera a Agra. RC provavelmente temia que a reeleição de Agra consolidasse sua liderança e o fizesse um adversário à altura no grupo. Em caso de derrota em 2014 de RC, Agra se tornaria o nome de proa do PSB, não mais Coutinho.

Por isso, quando Luciano Agra foi para o cadafalso da convenção do PSB, disputar com Estela Bezerra a indicação da candidatura a Prefeito, o racha se estabeleceu de maneira definitiva. Derrotado, como previsto, e tratado como “traidor”, Luciano Agra anuncia em seguida sua decisão de sair do PSB e prepara o lance que decidiria os destinos daquela eleição, e que deixaria todos atônitos: a decisão de apoiar o candidato do PT, Luciano Cartaxo, que até então patinava nas pesquisas abaixo dos 10% e fazia um discurso oposicionista.


A vitória em João Pessoa

Luciano Cartaxo herdou um imenso patrimônio político ao receber o apoio de Luciano Agra. Sem ele, Cartaxo teria de disputar o espaço oposicionista com outros dois fortes candidatos (José Maranhão e Cícero Lucena), até então líderes nas pesquisas. Como candidato de Agra, Cartaxo ocupou o amplo espaço do anti-ricardismo, que Agra soube cultivar, numa polarização cada vez mais acirrada com o governador, polarização que RC legitimou ao aceitar participar dela de bom grado através da imprensa.

De outro lado, o candidato do PT colheu os frutos eleitorais da administração bem avaliada que Agra fazia. Jovem, enfrentando a candidata de um governador impopular, e dois adversários de oposição considerados políticos “tradicionais”, Luciano Cartaxo caminhou para a vitória, que acabou por conceder ao PT um novo status político na Paraíba. E, por mais que muitos petistas resistam em admitir, essa vitória se deve a uma combinação de fatores, e o mais importante deles foi o apoio de Luciano Agra.

 

Luciano Agra no PT?

Por isso, o ex-Prefeito tornou-se um personagem de grande relevância na política paraibana e com grande potencial eleitoral. E, por mais que se enxerguem muitas possibilidades para Agra, não há como negar que a filiação ao PT parece ser o caminho quase natural. Primeiro, porque, com isso, ele consolida uma reaproximação iniciada em 2012. Depois, como membro do PT, a força de atração que tem a Prefeitura de João Pessoa, associada a do Governo Federal, é um fato inegável que, se não tem o mesmo peso do governo estadual, é um contraponto importante. Além disso,não se pode desconsiderar a radicalização política que se anuncia na política nacional até 2014, o que, vendo o perfil e a trajetória de Agra, o afastaria de agremiações mais à direita e o colocaria no centro da disputa na Paraíba como candidato a cargo majoritário filiado ao PT.

A grande incógnita, entretanto, se relaciona à disposição do PT de enfrentar uma disputa para o governo, quando a máxima prioridade do partido será a disputa presidencial. Como já está consolidada a manutenção da aliança nacional com o PMDB, não é difícil supor que muitas negociações ocorrerão para acomodar os dois partidos numa aliança estadual. É isso que explica o discurso atual do PT – e de Nonato Bandeira – de lançar candidatura própria em 2014, que é uma maneira de já posicionar o partido na disputa de 2014. Se até o final do ano Agra não emplacar sua candidatura ao governo, a tendência é que a aliança com o PMDB se imponha. E é inegável que o sonho de consumo do PMDB para 2014 é ter Luciano Agra numa chapa com Veneziano Vital para o governo, numa aliança “geopolítica” entre Campina e João Pessoa.

A questão é saber se o PT compartilha desse sonho. E Agra também.