Bruno Filho

Imagino que todos saibam,ou pelo menos a maioria, que sal é um dos males necessários que somos obrigados a consumir nessa vida terrena. Faz um mal muito grande para aqueles que tem a pressão alta, mas ao mesmo tempo não conseguimos comer a maioria dos alimentos sem que ele seja colocado, pois ficam absolutamente sem gosto nenhum.

Como um assumido hipertenso, estou “careca” de saber quase tudo sobre o assunto.Acontece que quando o condimento acaba, sou obrigado a comprá-lo novamente e isso aconteceu na semana passada, quando Dra.Carla, minha esposa,deu o aviso…” acabou o sal…precisa ir comprar”.Eu me fingi de morto como se não tivesse ouvido o pedido e assim procurei me manter.

Não deu certo…ela voltou a carga e prometi que iria comprar, então fiz uma proposta para que fossemos juntos no momento da caminhada no calçadão.E assim fizemos.Quando chegamos à frente do mar esmeralda digno de uma tela emoldurada, veio-me à cabeça o que representava o sal que eu iria comprar perante aquele mundo de água enorme,diria sem fim, que contém zilhões vêzes zilhões de toneladas salinas.

Naquele estresse típico de paulistano disse isso a minha mulher, que no seu jeito lépido,e ligeiro de raciocínio levou a conversa para um outro prisma completamente diferente.Lembrou-se de seu querido e amado pai, meu saudoso e inesquecível sogro Dr.João Jacerda, o homem mais inteligente,espirituoso e criador de frases que conheci na minha vida.Típico sertanejo, e dos bons, como ele mesmo se auto-intitulava.

Ela prosseguiu com a história do pai , e me contou sorrindo,e foi mais uma eu aprendi.Disse que se alguém chegasse perto do velho Lacerda para dizer…”conheci uma pessoa,sensacional, espetacular…”e mais adjetivos, ele prontamente respondia…”já comeu 1 kilo de sal com ele ?… pois só assim vai realmente conhecê-lo a fundo”.

Imaginei…ele tinha razão, imagine quanto tempo demora para comer 1 kilo de sal ? não tenho nem idéia, mas é muito tempo.Suficiente para se conhecer alguém, seus hábitos, e costumes.Obviamente ri muito também, pois além da história ser interessante o jeito que é contada por Carla a deixa mais interessante ainda, ela com seus olhinhos brilhando.

Serviu para conjecturas…é muito difícil conviver com quem quer que seja,então ao falar desse ou daquele e se entregar prontamente a frases feitas ,arroubos tipicamente juvenis,raciocine e imagine a historinha do sal.Pode ter certeza que ganhará muito com isso, errará menos e a precipitação não será a responsável por agruras futuras.

Mais uma que aprendi vindo de Dr.João, pena que tenha convivido pouco tempo com ele.Acho que faríamos uma grande dupla, e talvez poderíamos falar algumas coisas um com a boca do outro.Gostaria muito, mas Deus assim não permitiu.Deixou um grande legado, principalmente para os mais jovens,que relembram do avô acima de tudo como um amigo.Meu sogro tinha inúmeras qualidades latentes à sua personalidade.Detestava,como eu, incoerência.Sábio !

Bruno Filho,jornalista,radialista,apresentador que enfrentou a “fera”,e que de “fera” não tinha nada, era só coração.