Se a morte do taxista Paulo Damião dos Santos não levar aqueles que defendem a posse e o porte de arma no mínimo a uma reflexão, o Brasil estará a caminho de pavimentar definitivamente o caminho para um retrocesso civilizatório.
Paulo Damião foi assassinado no final da tarde de ontem pelo corretor de imóveis Gustavo Teixeira, de 40 anos, por um motivo banal – o corretor se irritou com uma manobra demorada do taxista.
Esse é o principal sintoma de que a cultura da violência ganhou o Brasil nos últimos anos.
Num país já violento como o nosso, permitir que civis se armem será abrir a porta para que tragédias como a de ontem voltem a se repetir à exaustão.
No Brasil, civis e policiais já morrem mais do que em países que vivem em guerra declarada.
Aqui, gays são atacados e mortos nas ruas apenas por serem gays; mulheres morrem por serem consideradas posses de maridos e namorados; indivíduos bêbados são hoje capazes de se incomodarem com um fato banal a ponto de sacar e atirar três vezes no peito de um desconhecido.
Parece que a lava de ódio, que ardia no subsolo em busca das frestas que a levassem à superfície da cordialidade brasileira, encontra cada vez seu caminho. E expelir esse ódio pelas redes sociais pode ser que não seja insuficiente. É preciso ultrapassar as fronteiras da violência simbólica.
Apontar “arminhas”, que parecia simbolizar uma adesão política e uma forma de ver o mundo, parece se tornar cada vez mais uma maneira de viver no mundo.
O corretor está preso e pode passar alguns anos na prisão. Sua vida vai mudar, talvez para sempre. Talvez agora esteja a lamentar carregar uma arma em um momento de fúria.
O taxista está morto. E mesmo sem conhecê-lo, choro por ele, mas não apenas. Choro por todas as vidas que se foram e as que estão por vir, engolfadas por um ódio sem motivo.
O taxista estava no carro, mas bem que poderia ser eu.
Ou você.
Fonte: Blog do Flávio Lúcio
Créditos: Blog do Flávio Lúcio