O tutor do programa ‘Mais Médicos’ na Paraíba e professor do curso de Medicina da UFPB, Felipe Proêncio, defendeu a continuidade do programa e rebateu comentários negativos sobre os profissionais cubanos que atuam no Brasil. Ele afirmou que o fim do programa vai gerar desassistência, e rebateu críticas feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). As declarações foram dadas durante a edição desta sexta-feira (16) do programa Arapuan Verdade.
“Esse anúncio da saída dos médicos cubanos é extramente preocupante. A repercussão disso no país significa que são 8.500 cubanos em 2.800 cidades que deixarão de ser atendidas pelo programa. Isso representa que 29 milhões de brasileiros deixarão de ser atendidos pelo programa, que vem mudando a cara da saúde pública brasileira. Com a saída desses médicos, vai haver desassistência, especialmente em áreas de mais difícil acesso”, disse.
De acordo com Felipe Proêncio, o maior mérito do programa foi suprir de forma emergencial a demanda por médicos no Brasil e diminuir as transferências de pacientes do interior para hospitais dos grandes centros urbanos. “O programa começou a garantir as vagas nos postos de saúde, e esses médicos passaram a fazer com que as pessoas tivessem o problema resolvido no próprio posto de saúde”, exemplificou.
Proêncio também afirmou que o programa Mais Médicos ajudou a criar mais cursos de medicina e se refletiu na formação de mais especialistas para atender a população. ‘É um programa que pensou a médio e longo prazos, além de ter chegado em áreas que antes não tinham atendimento médico. Populações que adoeciam e morriam em virtude de não ter o atendimento médico, com o programa foi possível viabilizar o atendimento’, ressaltou.
Paraíba
Conforme Proêncio, 128 médicos atuam na Paraíba, atendendo 440 mil pessoas em todo o Estado. O fim do programa vai gerar desassistência, na visão do professor, especialmente em municípios do sertão e em áreas de difícil acesso.
O tutor fez críticas a médicos brasileiros. ‘É sempre importante ressaltar isso. O programa fez primeiro um convite aos brasileiros, que preencheram um certo número de vagas, mas os médicos cubanos foram efetivamente para aquele local para onde nenhum outro profissional se dispôs a atuar”, enfatizou.
Salário dos médicos
Proêncio ainda rebateu outras críticas feitas ao programa, como o contrato firmado entre os governos brasileiro e cubano, e disse que o governo da ilha faz cooperações semelhantes com outros países há mais de 40 anos.
“São médicos cubanos que se voluntariam, e portanto aceitam as condições da contratação, para que venham trabalhar no Brasil. Desse modo, é repassado para a cooperação com a organização mundial de saúde, e dela para o Governo Cubano, a bolsa no valor dr R$ 11.500, e a parcela que é repassada para os médicos é em torno de R$ 4.000, se a gente levar em consideração que esses médicos também recebem auxílio alimentação’, disse.
O professor também ressaltou que o dinheiro retido pelo governo cubano serve para financiar a cobertura de saúde da ilha, baseado em um sistema público de assistência. ‘É algo que se reverte enquanto benefício para a população cubana’, lembrou.
CRM rebate
O presidente do CRM da Paraíba, Roberto Magliano, voltou a dizer que o rompimento do contrato entre os dois países é ‘preocupante’. “Esses profissionais estavam prestando assistência à saúde da população e vão sair abruptamente”, ressaltou.
Ele lembrou que o CRM tem sérias críticas ao programa ‘Mais Médicos’, pois, de acordo com ele, ao viabilizar o programa, o governo Dilma Rousseff legou somente aos médicos a culpa pela má qualidade do Sistema Único de Saúde. Ele voltou a defender que os médicos cubanos precisam fazer a revalidação do diploma. “Eu não subiria no avião sem saber se o piloto tem autorização para pilotar”, exemplificou.
Magliano concordou que a medicina cubana tem qualidade, mas disse que os médicos que estão no Brasil são utilizados ‘quase como mercadoria’ e afirmou que ‘isso soa no mínimo estranho’. “Nós temos cinco anos de Mais Médicos no Brasil. Melhoraram os índices da população brasileira? Lamentavelmente os índices pioraram de maneira preocupante’, disse.
Ele disse que a solução para o problema da saúde no país passa por uma visão ampla do assunto e mais investimentos. ‘O programa Mais Médicos serviu mais como vitrine do governo do que para resolver o problema da saúde do país. Temos soluções melhores do que essa solução simplista. Concordamos com o presidente Bolsonaro quando ele diz que o médico cubano tenha todo o seu salário [e faça a revalidação do diploma]’, ponderou.
Assista abaixo aos vídeos da entrevista com o tutor do programa Mais Médicos na Paraíba, Felipe Proêncio.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba