Se fosse vivo, o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima completaria, hoje, 86 anos de idade. Ele faleceu no dia 7 de julho de 2012, de câncer, em João Pessoa e, segundo o filho, Cássio Cunha Lima, “deixou lições de um legado invejável, tendo mostrado ser possível fazer política com decência e dignidade”. Em rede social, ao lembrar a efeméride, Cássio repetiu que “os poetas não morrem”. Formado em Direito, Ronaldo se elegeu governador em 26 de novembro de 1990, num segundo turno, derrotando Wilson Braga, uma legenda política do Estado. Era o coroamento da trajetória de um político “bom de urna”, que jamais perdera uma eleição, também festejado pelo dom poético que o fez lançar inúmeras obras de repercussão no meio cultural brasileiro.
Natural de Guarabira, Ronaldo iniciou sua escalada política em Campina Grande, elegendo-se vereador em 1959 e obtendo 942 votos, a terceira maior votação entre todos os concorrentes e a segunda dentro do partido pelo qual disputou, o PTB. Tendo chegado a Campina Grande na década de 50, elegeu-se presidente do Centro Estudantil Campinense, onde pontificavam nomes como Vital do Rêgo e Raymundo Asfora. Ronaldo já revelava dotes de orador, destacando-se, por exemplo, no centro literário “Augusto dos Anjos”. Em 1962, foi eleito deputado estadual – mais votado do PTB. Como vereador e deputado, participou dos acontecimentos que agitaram o país com a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República e a tentativa de impedimento da posse do vice João Goulart. Além de ter tomado posição em prol da posse de Goulart, Ronaldo, como vereador, apresentou projeto de lei para que o espaço entre os prédios da Câmara e da Prefeitura fosse denominado de “Largo da Legalidade”.
Em 1964, ocupou a tribuna da Assembleia para defender a normalidade democrática e constitucional contra ameaças de golpes ou retrocessos. No dia 15 de junho do mesmo ano, foi a Campina Grande solidarizar-se com seu amigo Newton Rique, prefeito, cassado no dia anterior pelo novo regime. Em 1968, ele mesmo foi candidato à prefeitura. Permaneceu apenas 53 dias no posto, também cassado pelo movimento militar.. Suportou o período de ostracismo com dificuldade mas com dignidade. Teve que sobreviver entre o Rio e São Paulo, montando banca de advocacia própria e se dedicando a outras atividades extra-profissionais. Enfrentou uma segunda punição, quando, em busca da sobrevivência, foi impedido de ir até o fim como estrela de um famoso programa de TV, o J. Silvestre, na extinta TV Tupi, onde respondia a perguntas sobre o poeta paraibano Augusto dos Anjos. Só no final da década de 80, já então no programa “Sem Limite”, apresentado pela TV Manchete por Luiz Armando de Queiroz, Ronaldo concluiu sua incursão televisiva. A visibilidade alcançada no vídeo abriu as portas para seu retorno à atividade política, coincidindo com a reabertura democrática.
Do ponto de vista partidário, ingressou no MDB e, posteriormente, no PMDB, seu sucedâneo. Em 1982, voltou, nos braços do povo, à prefeitura de Campina Grande, cumprindo mandato de seis anos, marcado por dinamismo poucas vezes visto na história da cidade. O crescimento da sua liderança foi comprovado na eleição do filho, Cássio, para sucedê-lo. Como postulante ao governo, empolgou o eleitorado com uma mensagem de renovação que passava pela mudança das estruturas, por um novo figurino de atuação política e pelo fim da “gangorra” entre Tarcísio Burity e Wilson Braga no comando do poder estadual. A respeito dessa “gangorra”, chegou a ironizar: “Um sobe e outro desce, enquanto a Paraíba padece”. Em 1990, foi candidato ao governo tendo como vice Cícero Lucena, enfrentando Wilson Braga e João Agripino Neto, este pelo PRN. O eleitorado decidiu prorrogar o pleito, decidido em segundo turno com a vitória de Ronaldo, que teve o apoio declarado de João Agripino.
Um episódio crucial para Ronaldo foi o incidente no restaurante Gulliver, na orla marítima de João Pessoa, em 5 de novembro de 1993, quando ele disparou tiros de revólver contra o ex-governador Tarcísio Burity, como reação a críticas feitas por este e por aliados seus à gestão de Cássio Cunha Lima na superintendência da Sudene. Ronaldo pediu perdão a Burity, afirmou ter defendido a honra do seu filho e a sua própria vida e confessou jamais ter imaginado enfrentar uma situação como aquela. Queixou-se, porém, que estava sendo vítima constante de injustiça e perseguição política. Ronaldo renunciou, mais tarde, ao mandato de deputado federal, alegando que queria responder, sem imunidade, pelo episódio do “Gulliver”. Ele vivenciou, também, rompimento político com o ex-governador José Maranhão, por divergências que eclodiram após a aprovação do instituto da reeleição para o Executivo em 1998. Acabou deixando os quadros do PMDB e ingressando, juntamente com aliados, no PSDB. Da gestão como governador ficaram marcos como a reabertura do Paraiban, o banco estadual de fomento, que havia sido liquidado extra-judicialmente pelo Banco Central, e projetos que contemplaram diferentes setores de infraestrutura do Estado. O filho, Cássio, foi eleito governador do Estado em duas oportunidades – em 2002 e 2006 e, também, senador.
Dez anos depois da morte do poeta Ronaldo Cunha Lima, seu neto, Pedro Cunha Lima, que está no mandato de deputado federal, lançou-se pré-candidato ao governo do Estado pelo PSDB e, nas entrevistas, tem defendido a construção de “uma nova Paraíba”. Embora se diga orgulhoso da tradição familiar, Pedro Cunha Lima tem se apresentado com identidade própria na pré-campanha em que dialoga com segmentos da população paraibana. Para ele, as contribuições ao desenvolvimento da Paraíba por parte do avô e do seu pai foram oferecidas em conjunturas específicas e distintas da atual conjuntura, onde os desafios são outros. “Mas é claro que me orgulho da tradição familiar”, explica o jovem deputado.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes