colaboração científica internacional

R$ 12 milhões: Governador assegura colaboração internacional para implantação de radiotelescópio no Sertão da PB

Foto: Francisco França/ Secom/PB

A construção do radiotelescópio Bingo no sertão da Paraíba é consolidada com a entrada do governo do Estado da Paraíba como parceiro na colaboração internacional. O reconhecimento pela relevância das pesquisas na área de astrofísica, que se darão a partir desse equipamento, se apresenta com o aporte de R$ 12 milhões. O ato foi oficializado com a assinatura do Termo de Outorga para Concessão de Recursos pelo governador João Azevêdo, em solenidade no Palácio da Redenção, sede do governo estadual, em João Pessoa, dia 14 de dezembro.

O radiotelescópio Bingo é o resultado de uma colaboração científica internacional, liderada por cientistas brasileiros. O objetivo é olhar para uma determinada região no cosmos e identificar elementos a partir da frequência de rádio emitida. Os estudos irão abordar aspectos da estrutura do universo, a distribuição de massa, a matéria escura, as rajadas rápidas de rádio, entre outros. Além disso, irá proporcionar o desenvolvimento de tecnologia de instrumentação para cosmologia observacional e astrofísica no Brasil.

O nome Bingo é um acrônimo em inglês para “Oscilações Acústicas Bariônicas em Observações Integradas de Gás Neutro”, título que revela tecnicamente os objetos da pesquisa aos cientistas da área. Por outro lado, é um “apelido” com significado familiar para a maioria das pessoas, como pronunciou o governador João Azevêdo no final de seu discurso: “Eu gosto do nome, mesmo sabendo que é uma sigla: Bingo, às vezes soa como um jogo; ou Bingo, no sentido de que ‘marcamos, vencemos – foi Bingo! – e isso foi uma vitória”.

O projeto Bingo chegou ao estágio atual por esforços impelidos há, pelo menos, sete anos, desde 2014, quando o coordenador geral da colaboração Bingo, o professor Doutor Élcio Abdalla, do Instituto de Física da USP, e outros cientistas, estiveram na Paraíba pela primeira vez, para avaliar o local onde o radiotelescópio poderia ser instalado: era preciso estar em um ambiente livre de ondas eletromagnéticas, geradas pela transmissão de sinais de operadoras de telecomunicações e outros. “Nós viemos em busca de um local científico e promissor. A primeira surpresa depois de encontrarmos o local físico foi com a recepção da Universidade Federal de Campina Grande. Em seguida, com o governo e a população”, disse Élcio Abdalla.

Desde então, o projeto vem sendo executado graças às parcerias firmadas ao longo dessa trajetória. No início, foi uma colaboração USP/Universidade de Manchester (EUA).  A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, investindo R$ 9,05 milhões, mais US$ 936 mil; e a Universidade de Manchester, US$ 120 mil. Ainda, do lado brasileiro, o projeto contou com R$ 1 milhão, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Por parte da China, o fomento foi de US$ 134.875,75.

Agora, o andamento das pesquisas está assegurado com o ingresso do Governo do Estado da Paraíba na colaboração, com investimento de R$ 12 milhões, executados por meio da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia e da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba.

“Essa é uma complementação que precisávamos para, com certeza, termos a infraestrutura montada”, considera Élcio Abdalla. “Mas, tem mais: o apoio que está sendo dado também é uma certeza de que estamos melhor agrupados, que temos um impacto social bastante relevante, que vamos ter um impacto educacional importante. Cumpre-se o que esperávamos, que a ciência se expande para outras direções: a social e a educacional. Nós já tínhamos a científica e tecnológica em ação, mas agora teremos um futuro com essas direções se completando.”

Estrutura tecnológica do Bingo é preparada em São Paulo e na Paraíba

O projeto Bingo requer uma infraestrutura complexa, minuciosa e abrange especialistas de várias disciplinas. Uma armação metálica dará suporte às antenas, modelo corneta. A composição dessa armação, o sistema refletor, é formado por dois discos e terá a dimensão de um estádio como o Maracanã. Este será montado em Aguiar, município a 435 km de João Pessoa. O relevo do terreno favorece a posição dos refletores.

O conjunto de componentes precisa ser implementado simultaneamente: estrutura, cornetas, receptores, conexões e softwares. As cornetas estão em montagem no Estado de São Paulo, coordenada por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, em São José dos Campos. Depois de prontas, elas serão transportadas para Aguiar. São peças de 5 metros de altura e 2 metros de diâmetro, cada. O sistema do Bingo será construído com 28 cornetas.

Os sinais captados do espaço serão enviados para um centro de processamento e de monitoramento, fixado na Paraíba, onde serão filtrados para, enfim, serem distribuídos aos pesquisadores da colaboração. Serão centenas de milhares de dados que também estarão disponíveis para os estudantes de todos os níveis educacionais da Paraíba e, por fim, terão acesso público.

É nesse ponto que se inicia a ciência do projeto Bingo, para os astrônomos. Dados, milhões deles, caoticamente armazenados, não revelam nada. O tratamento, as modelagens que serão executadas a partir das informações, sim. Mas ainda há muito trabalho a ser feito até chegar esse momento.

Élcio Abdalla fala que a colaboração internacional é dinâmica. O grupo chinês é formado por cerca de 25 pessoas; os outros grupos de cientistas da Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, África do Sul e Suíça, são menores. “Ao total, temos cerca de 100 pessoas no projeto. Setenta são físicos ou astrônomos; depois, temos engenheiros, outros interessados em aspectos educacionais”.

Início da operação está prevista para 2022

O pesquisador que está coordenando a montagem das cornetas pelo INPE, Carlos Alexandre Wuensche, informou que com a infraestrutura tecnológica de cornetas e receptores finalizados atualmente no INPE e com a construção da estrutura metálica em Aguiar, será viável montar um conjunto inicial com três cornetas no Bingo para operar em 2022. Isso permitirá também os ajustes na central de processamento de dados, dos softwares, além do desenvolvimento técnico do pessoal e, finalmente, o início de investigações científicas.

Presente à solenidade para a assinatura do Termo de Outorga para Concessão de Recursos ao projeto Bingo, em João Pessoa, a Diretora Substituta do INPE, Mônica Rocha, ressaltou a competência do INPE para a contribuição dentro do campo da Engenharia Espacial, uma instituição com 60 anos de história dedicada a compreender as origens e a composição do universo. “O Bingo é um projeto que complementa esse campo de conhecimento do INPE. E essa cerimônia sinaliza o entendimento do governo do Estado da Paraíba para além do provimento de recursos materiais; entende o valor desse projeto, o que tem um significado importante para a comunidade científica”.

Nesse sentido, o governador João Azevêdo iniciou o seu discurso revelando que quando foi apresentado ao projeto Bingo procurou distinguir como o projeto poderia impactar nas diversas áreas respectivas ao governo: “Como, a partir desse projeto, fazer ações intersetorializadas com as secretarias e com outros projetos que possam vir a acontecer no estado. O que esse projeto poderia nos trazer com relação ao turismo, à produção científica, para a rede de ensino, em todos os níveis”.

Na ocasião, o governador João Azevêdo recebeu uma imagem de satélite do município de João Pessoa captada por satélite do Inpe, em reconhecimento ao trabalho em defesa da pesquisa e da ciência.

Radiotelescópios auxiliares atuarão em rede com o Bingo

O radiotelescópio Bingo vai contar com telescópios auxiliares (outriggers) em localizações diferentes no Brasil, o que aumentará o potencial de observação de outros eventos astronômicos e cosmológicos. São equipamentos que irão observar a mesma região do céu em uma frequência muito próxima à do Bingo e poderão combinar os resultados.

Um deles já está em operação, batizado como Bingo Uirapuru, instalado na área externa, junto ao Labmet (Laboratório de Metrologia), do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG, em Campina Grande. As operações diárias são realizadas pelos professores da Engenharia Elétrica juntamente com os professores da Física da UFCG e estudantes de pós-graduação.

O objetivo principal do radiotelescópio Uirapuru é servir de campo de testes para o desenvolvimento dos sensores remotos e softwares que serão utilizados no radiotelescópio BINGO. Serão feitos ajustes de otimização do receptor que está sendo desenvolvido para o BINGO e outros testes. Mas o grande diferencial é a oportunidade para estudantes e técnicos que contam com um protótipo real do Bingo para aprimorarem seus conhecimentos.

Outro equipamento que exercerá papel auxiliar ao Bingo está localizado em São Paulo,  no campus do INPE, em Cachoeira Paulista. É o radiotelescópio GEM, em serviço sob a responsabilidade do INPE. O GEM também foi projetado por uma colaboração internacional, liderada pela Universidade da Califórnia em Berkeley e pelo Lawrence Berkeley National Laboratory.

Alex Wuensche explica que o GEM terá o mesmo papel do Uirapuru, mas a quilômetros de distância. “O GEM é um telescópio que opera em várias frequências e funcionará como uma “extensão” do BINGO”.

Também está prevista a construção de um auxiliar em Sousa, município paraibano onde há registros fossilizados da passagem dos dinossauros no território. O plano é compor uma rede de outriggers juntamente com o radiotelescópio BINGO e outros radiotelescópios menores, para intensificar a busca e localização de rajadas rápidas de rádio (Fast Radio Bursts).

Projeto de astrofísica tem potencial para ações de divulgação da ciência

O apelido sugestivo, Bingo, é um atrativo para estudantes do ensino básico, em ações de divulgação da ciência que o projeto executa. Desde 2018, os integrantes da colaboração, baseados na Universidade Federal de Campina Grande (PB), levaram experiências em radioastronomia para alunos de duas escolas em Aguiar, município do sertão da Paraíba, onde será montada a estrutura física do radiotelescópio. É o projeto de extensão “Lutando pela Ciência no Sertão Paraibano”, estimulando o contato dos alunos com a astronomia e a física. O processo será retomado com o retorno presencial.

Durante o ano de 2021, na UFCG, alunos dos cursos de Física e Engenharia Elétrica – integrantes do projeto de extensão do BINGO – construíram antenas do tipo “buzina” para observação de ondas de rádio, adaptando materiais e conseguiram produzir com custo baixíssimo, se comparado às antenas convencionais. A demonstração simula medições de sinais de rádio, um exemplo lúdico de como o radiotelescópio BINGO vai funcionar. Esse material será usado em ações para divulgação da ciência em escolas.

Na solenidade, no Palácio da Redenção, o secretário de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia, Claudio Furtado, declarou que professores e estudantes das escolas da rede estadual contarão com programas pedagógicos e profissionalizantes para desenvolver habilidades nas áreas de matemática, química, física ou computação, disciplinas integradas às atividades no projeto Bingo. “No Bingo existe a vertente científica, de pesquisas de alto nível, mas também a vertente educacional. Vamos utilizar essa grande ferramenta tecnológica para a formação em educação, à exemplo de outros projetos similares em outros países”, declarou o secretário.

 

 

 

Fonte: Assessoria
Créditos: Assessoria