Se tomarmos como referência a volta, em 1982, das eleições diretas para governador, de lá para cá a Paraíba teve dois governadores com grande identificação com a produção cultural: Tarcísio Burity e Ricardo Coutinho.
O primeiro, voltado preferencialmente para o erudito.
O segundo, para o popular.
Ricardo Coutinho está com 59 anos.
A sua trajetória política vem de longe: desde o movimento estudantil e das lutas sindicais.
Eleito vereador por João Pessoa, sua atuação na Câmara foi fortemente marcada pelo vínculo que estabeleceu com os que produzem cultura.
Ricardo conquistou um número expressivo de artistas e foi conquistado por eles.
Essas pessoas jamais lhe dariam os votos necessários a voos futuros (a prefeitura da capital, o governo do estado), mas conferiam notável credibilidade ao então jovem político.
Vereador, deputado estadual, Ricardo Coutinho chegou à prefeitura em 2004 (reeleito em 2008) e ao governo estadual em 2010 (reeleito em 2014), percorrendo um caminho absolutamente exitoso e singular para um homem que não pertencia a nenhum grupo oligárquico.
Nos cargos executivos, estreitou ainda mais os laços com os artistas. Laços políticos, mas também afetivos, de admiração e respeito mútuos.
Recuperou e construiu equipamentos, deu cargos, pagou cachês, abriu espaços.
Quem ousará negar?
Pois bem. Neste final de 2019, Ricardo Coutinho vive o seu pior momento desde que se inseriu na cena política paraibana.
Foi preso e é tratado como chefe de uma organização criminosa.
É verdade?
É mentira?
Não cabem a mim as respostas.
Mas talvez caiba dizer algo que tem chamado minha atenção.
Cadê os artistas que apoiaram Ricardo e dele receberam tanto apoio?
É fato que houve algumas manifestações, mas insuficientes, desproporcionais aos laços construídos por tantos e tantos anos.
Em qual narrativa os artistas paraibanos que um dia já foram identificados como ricardistas acreditam?
Que Ricardo Coutinho comanda realmente uma organização criminosa?
Ou que, no Brasil de hoje, operações como a Calvário existem apenas para calar as lideranças progressistas?
Sim! Que narrativa os artistas preferem?
A verdade é que o silêncio deles é incômodo.
Muito incômodo.
O silêncio deles faz a gente pensar na escassez de valores que são mais humanos (e os artistas são cheios de humanidade) do que políticos.
A lealdade, por exemplo.
Então?
Quando os artistas paraibanos vão gritar em defesa de Ricardo Coutinho?
Quando os artistas paraibanos – os mesmos que aderiram ao Lula livre – vão às ruas por Ricardo Coutinho?
Não vou citar nomes, mas pergunto:
Até quando alguns (ou muitos) deles serão reféns desse silêncio covarde?
Fonte: Silvio Osias
Créditos: Silvio Osias