Dezenas de prefeitos paraibanos foram procurados, em março deste ano, por supostos representantes de fabricantes de vacinas contra a Covid-19, que queriam vender imunizantes diretamente às prefeituras, sem passar pelo Ministério da Saúde (MS). O negócio, porém, não foi adiante depois que os gestores desconfiaram de possíveis irregularidades.
As informações vieram à tona novamente após a repercussão do caso envolvendo o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, ouvido nesta quinta-feira (01) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em Brasília. Ele se apresentou como representante de uma empresa intermediadora da Astrazêneca para negociar vacinas com o Ministério da Saúde, sem autorização.
Negociações na Paraíba
Ainda no mês de março, cerca de 20 prefeitos da região do Cariri chegaram a se reunir com supostos representantes das vacinas de Oxford (AstraZêneca) e a russa (Sputnik), que ofereceram proposta de aquisição de imunizantes às prefeituras. O fato foi noticiado no Arapuan Verdade, da rádio Arapuan FM, e pelo Polêmica Paraíba.
No dia 19 daquele mês, eles participaram de um encontro virtual com uma empresa chamada ‘Medical Group’, com sede em Portugal, para discutir a possibilidade de compra de vacinas sem passar pelo Ministério da Saúde (IMAGEM ACIMA). Eles também chegaram a conversar com empresas de Brasília e Minas Gerais.
Nesta quinta-feira (01), ao Polêmica Paraíba, o prefeito de São Sebastião do Umbuzeiro, Adriano Wolf, que também é presidente da Associação dos Municípios do Cariri, disse que as negociações não avançaram, pois o grupo de prefeitos ‘estranhou’ o valor da proposta oferecida.
“Não conseguimos dar continuidade por conta, inclusive, de insegurança na aquisição. Havia algumas empresas fraudando essas vendas, então acabamos deixando tudo por conta do Governo Federal”, afirmou.
Ainda segundo Adriano Wolf, os “representantes” que tentavam vender as vacinas às prefeituras paraibanas eram “intermediários” que, segundo ele, “tinham uma conversa bonita”. “Mas quando fomos bater o martelo, vimos que tinha algo a mais por dentro disso e não seria vantajoso para os municípios”, revelou.
Após o insucesso da compra direta, os prefeitos paraibanos ingressaram no Consórcio Nacional de Vacinas, composto por municípios de todo o país. A entidade tenta viabilizar uma doação de vacinas, sem compra direta.
Sobrepreço
Segundo Adriano Wolf, prefeitos da Paraíba recuaram nas negociações diretas depois que verificaram sobrepreço no oferecimento das doses. “Havia uma empresa (a suposta representante da Oxford), que exigia dois contratos: um contrato na aquisição das vacinas e outro da intermediária, então no total seria U$ 7 dólares por dose [o dobro do valor oferecido ao Governo Federal]”, disse. “Ficaria um valor muito alto e não daria pra justificar isso”, acrescentou.
Na época das negociações, a principal preocupação dos gestores era com a suposta lentidão do Plano Nacional de Imunização. Além disso, outro fator que preocupava os gestores era o aumento considerável na ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Agora, porém, as cidades paraibanas se apegam ao avanço da vacinação em todo o país.
O presidente da Federação das Associações dos Municípios (Famup), George Coelho, informou que sempre orientou os municípios a não tentarem a realização de compra direta de vacinas, através de formação de consórcios.
“Os prefeitos, no primeiro momento, ficaram sem alternativa, pois o Governo Federal estava deixando a desejar. Mas a gente sempre orientou que tivessem cuidado, pois havia gente que oferecia essas negociações sem ter o poder de compra, que é do Governo Federal”, relembrou.
Outro lado
Na última terça-feira (30), a AstraZeneca informou por meio de nota que vende sua vacina contra a Covid-19 diretamente a governos e organismos multilaterais, que não entrega ao setor privado nem tem intermediários nessas operações. Ainda segundo a AstraZeneca, no Brasil, suas vendas estão baseadas em “acordos negociados com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o governo brasileiro”.
A reportagem não conseguiu contato com a ‘Medical Group’, citada como suposta ‘intermediária’ da AstraZeneca em negociação com prefeitos paraibanos. O espaço segue aberto.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba