Entrou na aeronave, sereno como sempre, o seu espírito já nas alturas, e seu coração palpitando de amor pela Paraíba. Entrou só, aquele caixão que pediu que não tivesse ostentação, que fosse um caixão simples, como ele sempre foi. Pediu que não houvesse nem luxo, nem muito pranto, somente simplicidade e dignidade.
Mas eu percebo, meu amor, que você não entrou só. Como você sempre dizia que o homem nasceu só, o homem nasceu nu, da terra nada leva, e no espaço sideral haverá de se encontrar com as forças cósmicas que nos une ao ser superior. Mas você não viajou sozinho, meu amor. Observa, observa aí das alturas, que a tua filha, ela é Kant, firme, decidida, entrou no avião com você.
Minha filha, você é presente de Deus em nossas vidas. Eu lembro que há 32 anos atrás, eu rezava diante da imagem de nossa senhora, mãe rainha, com os filhos nos braços, e dizia: “Mãe, me dá um filho! Me dá uma criança que eu possa embalar, amar, criar, não para o mundo, mas criar nos ensinamentos do Senhor.” E em seguida você chegou em nossas vidas. Tão linda. Tão sorridente. Bochechudinha, cabelinhos pretos, fofinha, encantadora, e minha filha foi amadurecendo, desabrochando como uma flor, e enchendo de perfume o nosso jardim. Você sabe como o seu pai lhe ama. E mais do que amor, ele sente orgulho por você. Você que formou-se em direito. Você que formou-se em medicina. você que já está com residência as portas, para começar a sua nova profissão. Você que sempre tratou tão bem os mais humildes. Que sempre se sentiu bem, naqueles que são mais sinceros e verdadeiros.
Minha filha, quando eu vi você subir neste avião, solitária, toda de preto, eu pensei: “Oh, Jesus! Muito obrigado, meu Deus! Muito obrigado pela família que o senhor me deu, e meu marido me ajudou a construir.”
Meu amor, amor da minha vida, você já está nesse espaço sideral, que você sempre amou, e nesse seu último voo, você tem materialmente ao seu lado, a sua primogênita, que um dia você disse: “Será minha sucessora!”
Sim, minha filha. Suceda seu pai, mas não em cargos importantes, não precisa. Suceda seu pai numa vida de ética e decência. Suceda seu pai, ajudando sua mãe a manter a nossa família unidade. Minha filha, o seu porte de rainha, ao entrar nesse avião, parecia muito mais, o comportamento de uma serva, se dobrando a vontade de Deus, nosso Senhor.
Meu amor, esse é o seu último voo. Carrega espiritualmente o meu coração, dentro do teu espírito, porque jamais o meu coração será inteiro, e a parte que ficar aqui, me ajude minha filha, Maria Alice Bezerra Cavalcanti Targino Maranhão, me ajude, para que essa parte que sobra do meu coração, eu possa mantê-lo íntegro, digno, solidário e amoroso, como seu pai sempre quis. Amoroso com a família. Amoroso com o próximo. E que eu possa continuar também, como serva, igual a você, servindo a justiça, a qual eu pertenço, e tenho muito orgulho de pertencer, porque justiça e paz, como diz o texto sagrado, andam de mãos dadas. Mas muito mais importante do que a justiça e a paz, é o amor, que sede a todos os entendimentos, que supera todas as virtudes, e que nem a morte consegue apagar.
Filha minha, filha do meu coração, vem, tua mãe te espera. O mundo lhe espera, para você continuar a dignificar o nome José Targino Maranhão, o grande amor de nossas vidas. O grande amor da Paraíba.
Deus te abençoe minha filha!
Eu te abençoo por mim.
Eu te abençoo também por teu pai.
João Pessoa, 09/02/2021
Fátima Bezerra Cavalcanti
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba