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O PASSEIO QUE NÃO ACABOU: Tragédia da Lagoa completa 45 anos nesta segunda-feira (24)

O naufrágio de uma embarcação na Lagoa do Parque Solon de Lucena, centro de João Pessoa, matou 35 pessoas, dentre elas 29 crianças.

Nesta segunda-feira (24), um fato que marcou a história da Capital Paraibana completa exatos 45 anos.

O naufrágio de uma embarcação na Lagoa do Parque Solon de Lucena, centro de João Pessoa, matou 35 pessoas, dentre elas 29 crianças.

O dia 24 de agosto de 1975 tinha tudo para ser um domingo como qualquer outro, a não ser pelas comemorações, no principal cartão postal da cidade, do Dia do Soldado. Para a ocasião, o Grupamento de Engenharia do Exército havia organizado uma vasta exposição de fotos, armas e veículos de combate, mas o que os visitantes queriam mesmo saber era dos passeios a bordo de uma portada – uma espécie de balsa, que serve, basicamente para transportar veículos – na Lagoa.

O passeio iniciava próximo à rua Getúlio Vargas e a portada dava uma volta em torno da fonte luminosa que ficava no centro da Lagoa.

Tudo corria bem, até que durante sua última viagem, no final da tarde daquele domingo, por volta das 17 horas, percebeu-se que estava entrando água na embarcação. De acordo com uma nota do Exército publicada no dia seguinte, “um grande número de pessoas deslocou-se para frente da portada, fazendo com que ela submergisse”.

À reportagem do Polêmica Paraíba, a historiadora Loyvia Almeida explica que pessoas que estavam presentes no dia afirmaram que o que aconteceu foi uma “negligência”, pois teriam sido colocadas 200 pessoas, em uma embarcação onde só cabiam 60.

Enquanto a portada naufragava, em terra firme, pais e mães entravam em desespero ao verem seus filhos em pânico na embarcação.

Em artigo publicado em 2017, o jornalista Gilvan de Brito, que à época trabalhava na Rádio Tabajara, conta que devido ao grande número de pessoas embarcadas, o piloto negou-se a dar a partida, mas mudou de ideia diante de tanta insistência.

“O barco seguiu, passou diante do Cassino da Lagoa e ao dobrar na direção da rua Padre Meira, no local mais profundo, justamente no sangradouro para a maré do Sanhauá, começou a afundar vagarosamente. Observei de longe a aflição dos embarcados e, no mesmo momento, fui no meu carro na direção da rádio Tabajara – que funcionava bem perto, onde hoje se encontra o Fórum, ao lado do Tribunal de Justiça, subi as escadas e deparei-me com Geraldo Cavalcanti, que estava de plantão durante o jogo Campinense e CSA de Alagoas. Pedi para interromper a transmissão do jogo para fazer o anúncio, ele passou o som para a cabine e eu lancei um apelo ao Corpo de Bombeiros, que se situava à rua Maciel Pinheiro, a dois quilômetros da Lagoa”, relembra Gilvan de Britto.

O Corpo de Bombeiros foi acionado e o trabalho de resgate teve início, mas ao longo do anoitecer, a busca pelas vítimas se tornava cada vez mais complicada, já que a água, também escura, atrapalhava a visão.

Mais de 150 pessoas foram salvas, mas o que marcou Gilvan de Britto, no dia seguinte à tragédia, foram os corpos retirados da Lagoa.

“Teve família que perdeu a mãe e três filhos. Tudo foi registrado por mim no jornal Correio da Paraíba, no Diário de Pernambuco do dia seguinte e, com todos os detalhes da tragédia, no livro ‘Opus Diaboli’, que escrevi”, conta o jornalista.

A historiadora Loyvia Almeida conta que ainda hoje, passados 45 anos da tragédia, as informações ainda são muito nebulosas.

“É bom lembrarmos que estávamos em plena Ditadura Militar — como governador tínhamos Ivan Bichara e na presidência da República, Ernesto Geisel. O evento no qual aconteceu o acidente, era em comemoração ao Dia do Soldado. E por mais trágico e repercussão que o fato possa ter tido na época, pois saiu no Diário de Pernambuco, Folha de São Paulo, O Globo, revistas Veja e Manchete, foi proibido pelo Exército, de ser apurado devidamente”, relata a historiadora.

De acordo com Loyvia, a Justiça determinou o pagamento de uma indenização, por entender que a culpabilidade do acidente deveria recair sobre o Estado. Até hoje, exceto o livro escrito por Gilvan de Britto e lançado em 2011, nenhum estudo realmente foi feito para investigar o caso.

Por causa da comoção da cidade, foi decretado luto oficial e não foi realizado o tradicional desfile cívico em comemoração à Independência do Brasil, que aconteceria duas semanas depois, no dia 7 de setembro daquele ano.

Uma outra tragédia envolvendo o Parque Solon de Lucena, conta a historiadora, ocorreu em meados de 1978, quando em um dia de muita chuva, duas estudantes que moravam em um pensionato próximo a Igreja das Mercês, acabaram sendo tragadas pelo esgoto, quando o piso do quarto delas cedeu. Todo o sistema de esgotamento daquela região desembocava na Lagoa. No dia seguinte, o corpo de uma das estudantes estava boiando na lagoa. O outro corpo nunca foi encontrado.

O que restou foi apenas os “se e talvezes” que tomam conta do imaginário popular até hoje. Muitas pessoas acreditam que exista uma série de cadáveres no fundo da Lagoa, o que dá margem a falas como “o lugar é assombrado ou tem uma energia negativa”.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba