A pandemia veio, realmente, para abalar as estruturas da “normalidade”.
O Maior São João do Mundo é, sem dúvida, o mais importante evento cultural da Paraíba, também um dos mais importantes do Brasil e Campina Grande tem se orgulhado de sediar essa festa, que vem se reinventado ao longo de tantos anos.
Ultimamente, em versões presenciais, o evento veio permitindo cada vez mais que outros estilos musicais fizessem parte dele, numa tentativa de se tornar uma espécie de evento “multicultural”, como alguns gostam de nominar.
Fato é que ritmos como o sertanejo tomaram conta da festa, sendo prevalência nas últimas edições. Em alguns anos, até chegou a sobrar um espaço aqui e outro acolá para o forró e, em especial, até para o que se chama de forró autêntico.
Mas veio 2020 e com ele a pandemia do covid-19 e aí o mundo parou. As possibilidades de entretenimento se transportaram para um formato virtual que tomou conta dos nossos dias, com as chamadas “Lives”. Um meio possível de nos distrairmos sempre com a ajuda da arte. Claro que, diante da impossibilidade de aglomeração para evitar o contágio, as transmissões de shows pela internet ganharam uma versão compacta em todos os aspectos, o que se repercute no âmbito financeiro com a redução de custos.
Para não deixar o mês de junho passar sem notícia de São João, o MSJDM ganhou também a sua versão virtual e nesta programação, se observarmos, há menos sertanejos estratosféricos e mais forró, inclusive o chamado forró autêntico – aquele que é forró e ponto.
O curioso é tentar saber o porquê dessa mudança. Será que os cachês astronômicos dos midiáticos sertanejos, com todo respeito aos seus trabalhos e sucessos – até porque também gosto de muitos artistas dessa vertente (Jorge e Mateus, Henrique e Juliano, sem falar nos clássicos como Chitãozinho e Xororó, etc…) se tornaram ostentação demais para a ocasião e, bem ou mal, o bom e velho forró salvou a pátria?… Ou, de repente, houve a necessidade de uma tomada repentina de consciência cultural (sem o multi)?…
Bem, ainda que virtualmente, parece que há mais opções de forró na versão 2020 do MSJDM.
Que a classe artística seja sempre valorizada em todas as suas vertentes e aspectos, afinal o que seria de nós sem a arte; mas, em situações como essa, é sempre importante lembrar aqueles que se expressam culturalmente na defesa do que é nosso e continuam aqui, apoiando e merecendo serem apoiados, reconhecidos e valorizados pelo MSJDM (com ou sem pandemia) e em qualquer tempo.
Bom para refletir…
Adriano Aquino
Especialista em Gestão e Produção Cultural (UFCG)
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba