O governador da Paraíba, João Azevêdo, do Cidadania, tem percentuais razoáveis de aprovação junto a segmentos da opinião pública e é apontado como favorito para as eleições de 2022 ao Palácio da Redenção quando tentará assegurar o segundo mandato. É crítico assumido do governo Jair Bolsonaro, embora seja respeitado pelo Planalto a ponto de não discriminar o Estado, que, aliás, tem um filho ilustre no comando do Ministério da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga.. Azevêdo chegou a pedir autorização ao seu partido para manifestar apoio à pré-candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva a presidente, alegando que o Cidadania não definiu candidatura própria à sucessão de Bolsonaro e, sendo assim, poderia liberar os votos de filiados seus. A permissão foi dada, com bastante antecedência. Mas Azevêdo enfrenta uma verdadeira saga para ser aceito no palanque de Lula.
O governador paraibano sofre os efeitos de um cerco implacável que lhe é movido por adversários políticos locais que tiveram mais facilidades, até agora, de dialogar com o ex-presidente Lula e com a cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, sem qualquer restrição a apoio ou aliança nas eleições do próximo ano. No rol dos adversários de João estão o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), seu patrono e aliado na campanha de 2018, que está de malas prontas para refiliar-se ao PT, onde iniciou militância política, e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), um ex-petista que deixou a sigla quando estourou o escândalo do mensalão alegando não querer ser contaminado por desgaste. Lula também recebeu para uma conversa demorada o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e que, segundo versões recentes, estaria com suas relações estremecidas com o governador João Azevêdo. Veneziano estaria sendo incentivado, nos bastidores, a sair candidato próprio ao governo em 2022 pelo MDB, que preside no vácuo da morte do senador José Maranhão.
Até as últimas horas, estranhamente, João Azevêdo não era listado na agenda de contatos do ex-presidente Lula com líderes políticos da Paraíba. Desde que foi posto em liberdade e que recuperou direitos políticos, anunciando-se candidato a presidente da República, Lula vem abrindo sua agenda para conversas com gregos e troianos e chegou mesmo a ter um encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ainda é considerado um condestável nas fileiras do PSDB nacional. Lula e o PT massificaram a narrativa de que os contatos ou as conversas agendadas visam a discussão da conjuntura nacional, mais precisamente para a formação de uma frente ampla em defesa da democracia contra os arroubos autoritários do presidente Jair Bolsonaro e dos seus seguidores de direita e extrema-direita. Azevêdo se encaixaria naturalmente nesse leque de contatos. Foi eleito pelo PSB e só migrou para o Cidadania porque o ex-governador Ricardo Coutinho manobrou para romper com ele e tentar isolá-lo no quadro político paraibano.
Expoentes do PT na Paraíba, como o presidente do diretório regional, Jackson Macêdo, já deixaram claro que o atual governador do Estado pode ficar de fora da “agenda Lula” por manter no seu bloco de sustentação políticos como o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, tido como direitista, que, inclusive, já se lançou candidato ao Senado de forma irreversível para a campanha de 2022, admitindo disputar “até em faixa própria”, se a tanto for levado. A menção à companhia de Efraim Filho no esquema de Azevêdo é frágil se for levado em conta que o senador Veneziano, recebido em audiência esta semana pelo ex-presidente Lula, havia assumido quase compromisso de apoio à candidatura do democrata ao Senado. Ultimamente, de forma sintomática, Veneziano tem se mantido silencioso tanto sobre a continuidade do apoio a Efraim como sobre sua promessa de apoiar a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição. Mas é fato que Lula o recebeu, em clima de extrema deferência, como foi registrado pelo senador em rede social.
Os petistas paraibanos também fustigam Azevêdo por ter relações políticas com o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do Partido Progressista, partido que dá sustentação ao governo de Jair Bolsonaro e que é uma das peças fundamentais do “Centrão”, o agrupamento conservador e fisiológico que tem predominância, especialmente, na Câmara dos Deputados. Ocorre que Aguinaldo, em nome do pragmatismo político, foi aceito no passado recente na base de sustentação de governos petistas, chegando a ser, inclusive, titular do Ministério das Cidades na gestão de Dilma Rousseff, que visitou a família do parlamentar na região de Campina Grande. Ribeiro só caiu em desgraça nas hostes petistas quando declarou seu voto favorável ao impeachment da presidente Dilma, então acusada de “pedaladas fiscais” pelo Tribunal de Contas da União. Enfim, Aguinaldo chegou a ocupar secretaria em gestão pilotada por Ricardo Coutinho, que está de volta ao PT.
Na Paraíba, reina, hoje, uma grande expectativa quanto ao desfecho da saga do governador João Azevêdo para tentar ser aceito no palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que no de Bolsonaro não estará – e a eleição do próximo ano caminha para ser polarizada entre os dois. Mais ainda: a opinião pública paraibana tem uma curiosidade particular para saber o que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a dizer sobre o apoio do governador João Azevêdo e, também, sobre o que o ex-mandatário pensa, a dados de hoje, sobre o perfil de Azevêdo, bem como sobre os perfis de Ricardo Coutinho (citado em escândalos da Operação Calvário) e outros ex-aliados que estão voltando ao aprisco. Enquanto protagonistas silenciam ou fazem mistério sobre os meandros da cena política paraibana, na atualidade, as atenções se voltam para o resultado do “imbróglio” que passou a envolver, de uma hora para outra, o chefe do Executivo paraibano. É só no que se fala nas bolsas de apostas políticas.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba