“Estou longe da minha filha há 40 dias. Não vem sendo fácil, nos falamos por vídeo para amenizar a saudade”. O depoimento é da enfermeira do Hospital do Hapvida em João Pessoa, Elieuma Alves, mãe de uma adolescente de 13 anos. Ela afirma que a opção pelo distanciamento físico com a filha se deu como uma forma de proteção e, porque não dizer, amor!?. “Estou longe para protegê-la. Atuo na linha de frente, sou responsável por coletar o material de pacientes com suspeita de Covid-19”, justifica.
A distância da filha ainda vai continuar pelos próximos dias, incluindo uma data emblemática: o Dia das Mães. Tal qual Elieuma, muitas mulheres que atuam diretamente na linha de frente do combate ao coronavírus, irão ficar longe dos seus filhos e de sua família no próximo domingo.
É o caso de Maria Bezerra, amiga de profissão de Elieuma, e que também atua no Hospital do Hapvida na Capital paraibana. Para proteger os filhos e continuar trabalhando elas bolaram uma estratégia: estão dividindo apartamento provisoriamente, enquanto a mãe de Elieuma – sim, uma outra mãe entra no circuito – cuida dos filhos de ambas. “Eu fui para casa da minha colega de trabalho e os filhos dela para minha casa. Eles estão com a minha mãe. Foi a forma que encontramos para os mantermos isolados”, relata.
Se por um lado a dor de Elieuma aperta pela saudade, por outro, a da enfermeira Julyana Vasconcelos, que atua na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para Covid-19, também no mesmo Hospital, é por não ter para onde ir e, assim como Elieuma, manter os filhos em isolamento social. “Hoje o meu maior medo é levar esse vírus para casa, para meus filhos. A minha vida mudou bastante. Tenho estado muito preocupada, não comigo, muito pelo contrário, mais pelos meus. Meu maior medo é pela saúde deles. Não é fácil você ter que voltar para casa, por não ter opção de onde ficar e colocá-los em risco”, pondera.
Julyana diz compreender a importância profissional que possui durante a pandemia do coronavírus, mas isso não exclui o sentimento de mãe, que é forte a todo momento. “Eu me sinto, assim, uma forma de esperança para as pessoas. Eu entendo o grau da minha importância nesse momento, eu sei que posso fazer a diferença em muitas vidas. Em contrapartida, sou mãe, zelo muito por meus filhos. Sou consciente que escolhi estar nesta profissão. Meus filhos não! Meu medo é bem maior por eles”, frisa a enfermeira, que é mãe de duas crianças, uma de quatro anos e outra de nove meses.
O medo também vem sendo companheiro da médica do Hospital do Hapvida, Ana Luiza Rossoni. Mãe de uma menina de um ano de idade, a profissional da saúde, que também atua na linha de frente no combate à Covid-19, afirma que “ser mãe na pandemia é viver com um terror amarrado lá no fundo do peito. Para os filhos, o sorriso e o abraço. Para Deus, as súplicas e os pedidos de proteção”.
A especialista em Clínica Médica explica que o medo é como uma espécie de companheiro e ajuda a ter mais cuidado. “Cada vez que me paramento para entrar na ala Covid, lembro da minha filha, que ela me espera em casa e que preciso me cuidar para poder voltar bem todos os dias”, relata.
Ana Luiza Rossini diz que no início cogitou passar os meses em que estaria atuando na linha de frente sozinha, mas afirma ser impossível. “Minha filha tem só um aninho, ainda mama, é muito apegada a mim e eu a ela. Seria muito sofrimento. Sigo confiante no fato de que a maioria das crianças, principalmente os bebês, tem quadros brandos ou assintomáticos. Mas ainda assim tomo todas as precauções”, afirma.
A pediatra Geórgia Campos é mais uma das muitas mães que são profissionais da saúde e atuam na linha de frente durante a pandemia. Ao sair, diariamente, do ambiente de trabalho o encontro é com os três filhos – uma menina de 10 anos, um menino de oito e o filho mais novo com nove meses de vida –, acompanhando a médica nesta jornada, também está o medo. “Temo levar o vírus para eles, contaminá-los. Nenhuma mãe quer”, ressalta.
Geórgia conta que chegou a passar alguns dias isolada em outro apartamento para proteger os filhos, mas não aguentou. “Tentamos, mas não aguentamos. Mudamos a estratégia e redobramos os cuidados de proteção. Hoje estamos juntos, mas não descarto a possibilidade de ter que me distanciar novamente”, compartilha.
Elieuma, Maria, Julyana, Ana Luiza e Geórgia são apenas cinco entre milhares de mulheres que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus e que são mães. Apesar do medo ser a palavra presente no relato de todas elas, a esperança, a fé, o profissionalismo, a empatia e o compromisso em salvar vidas, sãos os grandes aliados dessas mulheres nesse período tão desafiador.
Fonte: Assessoria
Créditos: Polêmica Paraíba