De 2012 a 2018, o número de mortes causada por policiais aumentou mais de 135%, de acordo com dados do Núcleo de Análise Criminal e Estatística (Nace) da Secretaria da Segurança e Defesa Social da Paraíba (Seds). Em apenas seis meses de 2019, as autoridades policiais da Paraíba se envolveram em 25 casos de mortes violentas intencionais.
O número registrado entre janeiro até o dia 2 de julho deste ano supera o total de mortes por intervenção policial registrada em cinco dos últimos sete anos e a 75% do total contabilizado em 2018, quando 33 pessoas morreram em ações de policiais civis e militares em serviço ou não. O dados contabilizados Nace indicam que a tendência desde 2017 é de aumento gradativo no número de mortes decorrentes de ação policial.
O último caso, e o mais emblemático dos últimos meses, foi registrado no dia 2 de julho na cidade de Barra de São Miguel, a 175 km de João Pessoa, quando uma ação conjunta entre as Polícias Militar da Paraíba e de Pernambuco deixou oito suspeitos mortos. As vítimas eram integrantes de uma quadrilha que assaltava estabelecimentos bancários e que no dia 1º de julho havia matado um PM pernambucano e ferido outro durante um assalto em Santa Cruz do Capibaribe, cidade do estado vizinho.
Sobre o aumento do número de mortes causadas por policiais, o secretário de segurança da Paraíba, Jean Francisco Nunes, afirmou que não há problema no aumento dos números desde que as ações policiais exijam uma intervenção mais enérgica. Em entrevista exclusiva ao G1, Jean Nunes comentou que o aumento das mortes são reflexo do trabalho de saturação das autoridades paraibanas.
“Vamos continuar preocupados na diminuição dos Crimes Violentos Letais Intencionais [CVLI], mas não há uma preocupação nossa em dizer ao policial que se tiver confronto, ele recue. Se esses números tiverem que crescer, que eles cresçam, porque é decorrência normal das abordagens policiais e operações. Não é o que a gente tem buscado: confronto com morte. Agora a gente também não tem recuado, nem vai recuar. A medida quem vai dar é a operação. Nosso papel é cumprir a lei”, analisou.
Mesmo com as mortes causadas na operação, o secretário defendeu que foi uma ação exitosa, porque neutralizou suspeitos de uma quadrilha violenta, embora Jean Nunes tenha comentado que a troca de tiros que ocasionou as mortes foram entre os suspeitos e a Polícia Militar de Pernambuco.
Ainda assim, a Paraíba contabilizou em suas estatísticas de CVLI, que caíram mais uma vez em 2018, desta em cerca de 5,3%, as mortes causadas pela intervenção policial pernambucana contra suspeitos de uma quadrilha que também eram do estado vizinho. Jean Francisco Nunes explicou que a metodologia para contabilizar as mortes são rígidas e que, por terem ocorrido em solo paraibano, entraram na conta da Seds.
Por meio da assessoria, a Seds explicou que oficialmente os dados de 2019 apontaram 17 mortes em decorrência de ação policial na Paraíba, porém, as oito mortes de Barra de São Miguel ainda não foram incluídos nas estatísticas porque as documentações não tinham sido enviadas ao Nace.
Nota de repúdio
O Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba (CEDH-PB) emitiu uma nota pública repudiando a postura dos policiais envolvidos na operação. Sem entrar no mérito da operação, afirmou que a cena excedeu todas as raias da legalidade, tendo sido transformada “em um espetáculo macabro de manipulação e exibição de cadáveres, em total desacordo com as regras de conduta da atividade policial”.
Os oito mortos no confronto com a polícia, sendo duas mulheres e seis homens, foram despidos e seus corpos foram empilhados. Em seguida, os corpos foram colocados em viaturas policiais e apresentados em via pública. O fato foi filmado por moradores de Barra de São Miguel e publicado em redes sociais e aplicativo de trocas de mensagens.
Por fim, a nota assinada por Guiany Campos Coutinho, presidente do CEDH-PB, pede que as secretarias de segurança da Paraíba e de Pernambuco “adotem todas as providências necessárias para evitar a repetição de espetáculos dessa ordem que enodoam todo e qualquer mérito das ações policiais em defesa da segurança pública”. O documento finaliza se solidarizando com a morte do policial militar pernambucano e dos oito suspeitos
Fonte: G1
Créditos: G1