Desde menina pequena lá em Cajazeiras que gosto do mês de junho. Lá no meu sertão, nesta época, nas noites o céu de brigadeiro se torna ainda mais lindo, de repente fica tudo verdinho, parece que fizeram uma pintura naquela paisagem predominantemente seca, o calor ameniza. Fogueiras, crendices para descobrir o futuro, traque de sala, chuvinha, dançar quadrilha no colégio de freiras que estudei por 12 anos, o Nossa Senhora de Lourdes, me lembro que tinha até uma bebida chamada quentão que dona Salete (in memoriam) aprendeu a fazer no tempo que morava em São Paulo. Sem falar em todas as comidas de milho deliciosas e nas casas e nossas roupinhas enfeitadas!
O melhor de tudo que é tempo de férias na escola. Nossa, tem coisa melhor? Férias bem no mês de junho, época de São João, fica ainda mais perfeito. Tudo isso para dizer que ficava esperando esse tempo ansiosa para viajar, especialmente à Campina Grande. Acreditem! Eu só conheci João Pessoa quando passei no vestibular (era assim antes), no início da década de 90, quando ingressei para Comunicação Social na Universidade Federal, campus I em João Pessoa. Até então, as cidades grandes que faziam parte de minhas férias eram Fortaleza, Recife/Olinda e Campina Grande era minha preferida. Meu tio Cajá morava na Rua Índios Cariris, bem perto tinha um parquinho no Açude Novo com um labirinto que eu gostava de brincar de encontrar as saídas me perdendo dentro dele e havia também um escorregador de cimento que eu caia numa areia fina, parecia da praia. Quando chegava de noite bem em frente da casa de meu tio tinha um barzinho muito movimentado, se não me falhe a memória chamava-se 1ª Página, fazendo referência ao jornalismo impresso (parece que era ligado a ACI – Associação Campinense de Imprensa). Meu tio atravessava a rua e adentrava sorridente cumprimentando todo mundo naquele lugar com música que me agradava e um povo diferente, sei lá. Eu ficava olhando do jardim, curiosa, querendo ir pra junto dele e daquelas pessoas que me chamavam tanto atenção, mas eu era pequena ainda, lá era proibido menores mesmo se eu fosse acompanhada do meu “paimundo”.
Essas lembranças vieram por esses dias já sentindo o cheiro, a energia e magia do mês de junho tomando conta de mim. Costumo dizer que é o Natal do Nordestino quando a gente gosta de mesa farta, de se reunir com amigos e família para dançar, comer e celebrar.
Pois bem, de tanto ouvir falar nos 40 anos do Maior São João do Mundo, eu fiz as contas desse tempo pra cá, então caiu a ficha que aos 11 anos de idade meu tio me levou pra um São João que não era muito longe da casa dele, fomos andando, atravessamos o Parque até chegar num lugar cheio de palhocinhas com comidas típicas, todo decorado, com trios de forró pé de serra pra acabar com a sola do sapato.
Pois não é que quatro décadas depois eu me dou conta que aquele forrobodó maravilhoso que meu ‘paimundo’ me levou e ainda hoje habita minhas memórias afetivas de quando criança, que conseguiu transpassar por várias gestões no município sendo superior a qualquer diferença político partidária que, por ventura, houvesse contra a corrente do visionário, vanguardista poeta criador do Parque do Povo, Ronaldo Cunha Lima, naquele ano nascia o Maior São João do Mundo. Que sorte! A criança que existe em mim teve a alegria de testemunhar o nascedouro de tamanha lindeza genuína e autêntica do que melhor representa nossa rica cultura nordestina.
Entendo que a profecia do poeta de ser o Maior São João do Mundo com o passar dos anos precisou de sofrer adequações em sua estrutura(entendo só algumas). Mas, no tocante ao repertório, confesso que prefiro o modelo como era. Como ele pensou. Tudo tem seu tempo e espaço, e esse é o momento de valorizar, fortalecer e oportunizar o que é mais genuíno, autêntico não só no campo da gastronomia, mas principalmente do ritmo que embala e enche nossos corações de alegria: forró, xote, xaxado, baião. Disso eu não abro mão.
Evoé!
Fonte: Edileide Vilaça
Créditos: Polêmica Paraíba