Respeite mainha

Jornalista paraibana emociona internautas em rede social com carta ao General Mourão: ENTENDA

A jornalista Gláucia Magalhães pessoense conseguiu grande repercussão nas sua rede social ao responder aos comentários do General Mourão vice de Bolsonaro...

A jornalista Gláucia Magalhães pessoense conseguiu grande repercussão nas sua rede social ao responder aos comentários do General Mourão vice de Bolsonaro. O General falou que ‘Casa que só tem mãe e avó é fábrica de desajustados para tráfico’.

Leia a matéria sobre o comentário de Mourão

Gláucia falou sobre a linda história da sua mãe que conseguiu criar seus filhos  com dignidade mesmo morando em em uma comunidade. Com simplicidade a jornalista convidou o vice de Bolsonaro a tomar um cafezinho com a sua mãe (dona Vera). Com humildade e sem agredir com discurso de ódio. Gláucia contou a história de lutas, superação e amor de uma família que reflete grande parte das famílias brasileiras.

Leia a carta na íntegra abaixo 

Ainda ontem um amigo enviou-me um link de uma entrevista sua. Antes que eu lesse a matéria, ele escreveu abaixo: – Agora imagina a tua mãe vendo um negócio desses?
Quando, finalmente, li suas declarações eu senti raiva e entendi perfeitamente o questionamento do meu amigo. Li, reli e me acalmei um pouco. Talvez o senhor tenha falado por desconhecimento ou infelicidade.

https://www.polemicaparaiba.com.br/eleicoes-2018/mourao-diz-que-declaracao-sobre-maes-e-avos-foi-constatacao-nao-critica/

Hoje pela manhã uma amiga também me procurou e cobrou: – Você não vai falar nada? Realmente eu não ia. Não queria me desgastar, muito menos entrar na seara da política/politicagem.
Por isso, General, eu faço agora o exercício de me despir da raiva inicial e fazer de conta que o senhor vai ler minhas palavras de coração e mente aberta, como estou agora.

Eu não quero lhe ofender. Pelo contrário. Eu queria apenas que o senhor tivesse a oportunidade de tomar um cafezinho com mainha. É assim que a gente chama as heroínas no Nordeste. Além de saborear o café, tenho certeza que o senhor sairia alimentado de pensamentos novos. Seria uma excelente oportunidade para o senhor saber que ela teve uma criação rodeada de machismo, na qual ela tinha que tirar até os sapatos dos irmãos por que eram homens. Minha mãe foi ensinada a servir os homens. E assim o fez com meu pai, quando casou ainda novinha e parou de estudar para cuidar da casa e depois dos filhos. Foram três. Ela só sabia servir o provedor, que também era um excelente pai. Mas sabe o que aconteceu, General? Ele foi trabalhar, sofreu um acidente de carro e morreu. Ela ficou viúva aos 32, com três filhos de 10, 7 e 5 anos. Sem dinheiro pra pagar o aluguel, sem emprego e sem estudo, a mãe, com seus três filhos, foi morar de favor na casa de uma amiga. E era numa favela. Essa mãe foi fazer faxina, cuidar de idosos, lavar roupa dos outros até conseguir comprar seu próprio terreno, onde só tinha construída uma casinha de taipa. Na verdade era só um vão e devia ser menor do que o banheiro da sua casa. E foi nesse único vão de barro que ela morou com três crianças e recomeçou. Pouco a pouco montando cada tijolinho da primeira casa própria na favela. Sabe o cheiro que tinha lá, General? Cheiro de maconha! Os vizinhos gostavam… Sabe o barulho? As batidas do candomblé ou das passadas dos policiais encapuzados que por vezes atrapalhavam o nosso sono. Sabe a bebida? O álcool. Sabe a comida? Essa só era melhor na merenda da escola. ESTADUAL. Vários amiguinhos nossos, com pai e mãe, entraram no tráfico.

Um deles, devia ter uns 7 anos e era obrigado pelo avô a catar papelão na rua. Mas nem precisaria. O avô era o dono da boca. E por mais que ele tenha tentado, o menino não se rendeu a bandidagem (hoje é um grande homem). Nem quando descobriu que o seu avô, na verdade era seu pai, que havia estuprado a própria filha… Mas voltemos para a minha mãe. Ela lutou tanto, General. E sabe o que ela viu? Meu nome na lista de aprovados da Universidade FEDERAL da Paraíba. Era a primeira da família a conseguir tal feito. Uma filha universitária e uma mãe aonde? Na escola. Sim, General. Ela voltou pra escola. E eu ajudava nas matérias. Depois ela passou num concurso público, acredita? Conseguiu, muitos anos depois, sair da favela e comprar uma casa maior. Também concluiu um curso técnico e teve até formatura. Coisa simples, que nem de longe se comparava ao tamanho do orgulho de três filhos extremamente gratos por terem sido criados por uma única mulher, mãe, cheia de amor. A verdadeira salvadora da nossa história e da nossa vida.

GENERALizar é um erro, General. Amar, como mainha nos amou, é a solução!

Atenciosamente,
Gláucia Magalhães – filha caçula de dona Vera

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba