Se o governador João Azevedo imagina que a melhor maneira de enfrentar a ofensiva da Operação Calvário é mantendo-se no imobilismo em que se encontra, ele está cometendo um erro que pode lhe custar o mandato.
Desde que Leandro Nunes, o ex-assessor de Livânia Farias, resolveu delatar a ex-chefe, após uma temporada de mais de um mês no PB1, João Azevedo tornou-se o principal alvo com mandato.
Isso porque, por mais que haja uma legítima confiança a respeito de que não houve o cometimento de nenhum crime, o Brasil não vive uma situação de normalidade institucional.
Pelo contrário. Eu poderia dar dezenas de exemplo para confirmar isso, mas foi ficar em apenas um. Enquanto o Ministério Público se mostrou em várias ocasiões extremamente diligente e rápido quando o investigado era um político de esquerda, no Rio de Janeiro o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, que tem, entre outras coisas, claras ligações com as milícias cariocas, evitou depor em várias ocasiões e, quando finalmente depôs, fez isso por escrito.
O que você acha que aconteceria se Queiroz fosse ligado a algum político da esquerda carioca? A Lindbergh Farias, por exemplo?
Não, o Brasil não vive definitivamente uma situação de normalidade institucional.
Acreditar que um governador de um partido de esquerda será tratado como manda a Constituição, tendo todos os seus direitos respeitados, não passa de uma ingenuidade. Não há outra opção a não ser ganhar a sociedade pela política.
A gestão da política é o maior desafio de João Azevedo
Esse imobilismo político de João Azevedo já afeta a relação do governador com a Assembleia, que foi marcada até agora por ameaças de rebelião na base, e de rebeliões que realmente se concretizaram, como no episódio da eleição da mesa.
Um grupo de 9 deputados auto-apelidado de G9 coloca as mangas de fora para exigir um novo tipo de relacionamento do governo com a base de apoio, o que parece ser um recado para que se restabeleçam as velhas relações que os governadores que antecederam a Ricardo Coutinho estabeleceram com a Assembleia baseadas no velho toma-lá-dá-cá.
A mais nova ameaça é a aprovação da proposta de “orçamento impositivo”, que pode atingir de morte o Orçamento Democrático, já que não haverá recursos para as duas propostas.
E o principal interlocutor desses grupos com o governador não é ninguém menos que o presidente da Assembleia, Adriano Galdino, que continuará no cargo no segundo biênio em razão de ter descumprido um acordo com a base governista e conseguir o cargo se atirando nos braços da oposição.
Ações que eram impensáveis quando Ricardo Coutinho era governador.
JA precisa de RC
Não se pode cobrar de João Azevedo, evidentemente, que ele ganhe experiência política em tempo recorde para lidar da maneira mais adequada possível com esses problemas. O problema é que talvez ele não tenha muito tempo para aprender.
Pelo que disse o novo Secretário de Articulação do governo, João Gonçalves, em entrevista hoje à Rádio Correio, JA se preocupou excessivamente com a gestão administrativa e descuidou-se da política. Gonçalves diz que vai cuidar da política a partir de agora. Como as coisas continuaram acontecendo, ao que parece o atual governador terceirizou as negociações, o que talvez explique os erros cometidos.
Além do quê, há algo que parece incomodar demasiadamente João Azevedo, e isso é algo que seus opositores na política e na imprensa já perceberam. Em razão disso, vivem a cobrar mais autonomia em relação ao ex-governador Ricardo Coutinho e uma “identidade própria” para o atual governo. É um governo de continuidade, eles esqueceram?
Como eu acredito que Ricardo Coutinho não deve estar sendo consultado a respeito da tomada de algumas decisões políticas que envolvem riscos − algo que o próprio Ricardo sempre fez, sem deixar de tomar as decisões finais − os primeiros meses de João Azevedo parecem apontar para um retrocesso em muitos aspectos na gestão política do governo.
Se for isso mesmo, João Azevedo prescinde de um grande conselheiro, sobretudo para alguém que estreia entrando logo no espaço da grande política. Não é fácil admiistrar um estado pequeno, mas complexo como a Paraíba.
Isso me faz lembrar muito de Dilma Rousseff, cujo primeiro cargo eletivo foi o de Presidenta da República.
Na imagem do povo, Dilma era Lula e Lula era Dilma. Não havia como descolar os dois, tanto que, em certo sentido, os dois foram derrotados juntos no impeachment. Dilma perdeu o mandato e Lula foi preso. Um acontecimento foi, em grande medida, resultado do outro.
Talvez se Dilma tivesse se apercebido mais cedo do quanto ela precisava de Lula, e convidado o ex-presidente para ser seu Ministro-Chefe da Casa Civil, é bem provável que suas chances de manter o mandato teriam crescido muito.
O mesmo eu digo para João Azevedo, com a diferença de que a complexidade de governar a Paraíba distingue muito da de governar o Brasil, nem a necessidade atual exigiria que Ricardo fosse convidado para participar do governo − RC tem claramente outros planos.
Mas fica cada vez mais claro que JA precisa da contribuição de RC, principalmente em razão dos tempos turbulentos que se anunciam.
Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio