A hanseníase é uma doença não hereditária causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, mas que é transmissível pelas vias aéreas respiratórias entre pessoas doentes sem tratamento e pessoas saudáveis. A doença é manifestada por lesões cutâneas e diminuição de sensibilidade térmica. É importante ressaltar que hanseníase tem cura e o tratamento pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Existem duas formas de hanseníase: a cutânea e a nervosa. A cutânea é menos grave, com manchas na pele e progressiva perda de sensibilidade. Na nervosa aparecem nódulos, os nervos se transformam em cordões nodosos e com a incidência de fortes dores, insensibilidade e deformidade.
Desde 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro como o período para o combate à hanseníase e fixou a cor roxa para a campanha. Sendo assim, o mês de janeiro passou a ser intitulado Janeiro Roxo e é dedicado à conscientização da doença. Dia 29 é o dia mundial de combate à doença, enquanto a data nacional é 31 de janeiro.
História, preconceito e tabus
Mas em torno desta doença estão segregação, preconceito e rejeição. O preconceito acontece por conta de lendas históricas e de valores bíblicos que consideravam a doença deformadora da pele e que caía pedaços das pessoas. A hanseníase era conhecida como ‘lepra’.
Na Bíblia, Jesus aparece curando os doentes (Foto: Ilustração/ Alexandre Teles)
As referências mais remotas datam de 600 a.C. e procedem da Ásia, que, juntamente com a África, são consideradas o berço da doença. A Bíblia contém passagens fazendo referência ao nome ‘lepra’. A doença foi durante muito tempo incurável, o que forçava o isolamento dos pacientes em ambiente denominados gafarias, leprosarias ou leprosários, principalmente na Europa durante a Idade Média, onde as vítimas eram obrigadas a carregar sinos para anunciar a presença. A doença, nessa altura, deu origem a medidas de segregação.
No Brasil, em meados do século XX (20), os doentes eram obrigados a se isolar em leprosários e tinham pertences queimados, uma atitude que visava mais o afastamento dos portadores do que a um tratamento efetivo. Nessa época existiam leis para que os portadores de lepra fossem ‘capturados’ e obrigados a viver em leprosários. Apenas em 1962 a internação compulsória dos doentes deixou de existir.
Mitos e verdades
Veja abaixo um resumo com esclarecimentos sobre a doença:
A hanseníase já foi totalmente erradicada.
É MITO! A Hanseníase ainda possui grande ocorrência no mundo e, principalmente, no Brasil (veja os número abaixo).
Pessoa de qualquer sexo, idade e classe social pode “pegar” hanseníase.
É VERDADE! Apesar de qualquer um estar sujeito a adquirir a bactéria, 90% da população tem resistência para adoecer desse problema.
A hanseníase pode causar deformidades e incapacidades físicas.
É VERDADE! Com diagnóstico e tratamentos tardios, há o risco de graves sequelas. Isso pode ser evitado com o tratamento rápido, que cura e é gratuito em unidades do SUS.
É possível “pegar” hanseníase de um animal.
É MITO! A hanseníase só é transmitida de uma pessoa que tenha a doença na forma infectante, e não tratada, para outra pessoa.
A aglomeração de pessoas facilita a transmissão da hanseníase.
É VERDADE! Ambientes muito fechados e com pouca circulação de ar são locais propícios para a transmissão da doença.
Dados sobre hanseníase
No período de 2008 a 2016, foram notificados 301.322 casos de hanseníase em todo o país, dos quais 21.666 (7,2%) eram menores de 15 anos de idade. Segundo a Secretaria de Saúde da Paraíba, a taxa de detecção na população geral da hanseníase no estado aumentou de 525 casos em 2018 para 608 casos em 2019, apresentando um acréscimo de 2,1%.
Na população maior que 15 anos na Paraíba, em 2018, houve registro de 20 casos, subindo em 2019 para 29 casos novos registrados. Esse indicador mede a força da transmissão recente da endemia e sua tendência, mostrando assim uma alta carga da doença na região onde os casos são encontrados e a importância de se avaliar todos os contatos de casos registrados para quebra da cadeia de transmissão.
Em relação à hanseníase, a meta do Ministério da Saúde é reduzir a carga da doença, com diminuição da taxa de casos novos de hanseníase com Grau de Incapacidade Física 2 (GIF) no diagnóstico para 4,36 casos por 1 milhão de habitantes, e reduzir em 57% o número de crianças diagnosticadas com hanseníase com GIF 2 até 2020.
A meta brasileira difere da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), de “reduzir a taxa de casos novos para menos de 1 por milhão de habitantes e zero para crianças com diagnóstico de hanseníase com GIF 2”, pois leva em consideração o cenário epidemiológico e os determinantes socioeconômicos que influenciam no processo da eliminação da doença como problema de saúde pública no Brasil.
Tipos e Classificação
Manchas na pele são as características mais conhecidas da doença (Foto: Divulgação/ Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD))
Os pacientes com hanseníase são classificados, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em dois grupos: paucibacilares e multibacilares. Aqueles são os que apresentam exames com poucos ou nenhum bacilo; já estes são os que apresentam em seus exames muitos bacilos.
De acordo com a classificação de Madri, a hanseníase pode ser classificada em: hanseníase indeterminada (paucibacilar), tuberculoide (paucibacilar), dimorfa (multibacilar) e virchowiana (multibacilar). Veja a definição de cada um desses tipos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia:
Indeterminada: Pacientes possuem até cinco manchas de contornos imprecisos, e, nesse caso, não há comprometimento neural. É a fase inicial da doença.
Tuberculoide: Paciente apresenta até cinco lesões bem definidas e um nervo comprometido.
Dimorfa: Paciente apresenta mais de cinco lesões, com bordos que podem estar bem ou pouco definidos, e o comprometimento de dois ou mais nervos.
Virchowiana: Paciente apresenta a forma mais disseminada da doença, sendo observada grande parte da pele danificada e, algumas vezes, comprometimento de órgãos, como nariz e rins.
Sintomas e diagnóstico
A hanseníase é fácil de diagnosticar, tratar e tem cura, no entanto, quando diagnosticada e tratada tardiamente pode trazer consequências para os portadores e seus familiares, pelas lesões que os incapacitam fisicamente.
Sintomas não podem ser ignorados e devem ter acompanhamento médico (Foto: Divulgação/EBC)
Quando se detecta manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, sem pelos e que não coçam, com alteração de sensibilidade (térmica, dolorosa ou tátil) e/ou força muscular, deve-se procurar uma Unidade de Atendimento de Saúde, pois esses são os principais sintomas da hanseníase. Também podem surgir dores e sensação de choque, formigamento e dormência ao longo dos nervos, dos braços e das pernas.
A hanseníase, se não tratada inicialmente, pode evoluir para incapacitações físicas. Entre as sequelas deixadas pela doença, estão: incapacidade de elevar o pé (“pé caído”); incapacidade de extensão dos dedos e do punho (“mão caída”); incapacidade de fechar os olhos (lagoftalmo); necrose e ulceração da cartilagem do nariz (“nariz desabado”).
O diagnóstico da hanseníase é feito analisando a manifestação clínica da doença. Além disso, o exame denominado baciloscopia do raspado intradérmico é utilizado para confirmar a existência da doença. Esse exame visa identificar a presença de bacilos. Vale destacar que o resultado negativo do exame não descarta a doença caso o paciente apresente sintomas.
A manifestação clínica da hanseníase em cada pessoa é fundamental para determinar a classificação da doença como Paucibacilar (poucos bacilos) ou Multibacilar (muitos bacilos) e para selecionar o esquema de tratamento adequado para cada caso.
Hanseníase tem cura
O tratamento é realizado em Unidades de Saúde e a medicação é oferecida de forma gratuita. Ao iniciar o tratamento, a carga bacilar da doença diminui gradativamente e assim, o paciente deixa de transmitir para outras pessoas. Para o controle da doença e interrupção da cadeia de transmissão, é imprescindível que sejam realizados: diagnóstico precoce, tratamento regular e avaliação de contatos.
O paciente deve procurar uma Unidade de Pronto Atendimento. (Foto: Divulgação)
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o tratamento e acompanhamento da doença em unidades básicas de saúde e em referências, realizado com a Poliquimioterapia (PQT), uma associação de antimicrobianos. Essa associação diminui a resistência medicamentosa do bacilo, que ocorre com frequência quando se utiliza apenas um medicamento, o que acaba impossibilitando a cura da doença.
Os medicamentos são seguros e eficazes. O paciente deve tomar a primeira dose mensal supervisionada pelo profissional de saúde. As demais são auto-administradas. Ainda no início do tratamento, a doença deixa de ser transmitida. Familiares, colegas de trabalho e amigos, além de apoiar o tratamento, também devem ser examinados.
Para crianças com hanseníase, as doses dos medicamentos são ajustadas de acordo com a idade e o peso. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos do esquema padrão, são indicados esquemas substitutivos.
A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizadas pelo esquema terapêutico, dentro do prazo recomendado. O tratamento da hanseníase é ambulatorial, ou seja, não necessita de internação.
Fonte: Portal Correio
Créditos: Portal Correio