A rapper Linn da Quebrada usou suas redes sociais para se queixar do que ele chama ser censura ao ter sido desconvidada de participar da parada LGBT de João Pessoa. O alvo das críticas da artista paulistana foi a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope).
No texto que publicou nas redes sociais, nesta sexta-feira (2), Linn diz ter sido convidada anteriormente, e quando enviou a documentação solicitada pelo produção do evento ficou sabendo que não participaria mais da parada. Em seu desabafo, a artista afirma que seu discurso teria sido considerado “muito pejorativo” para o evento.
“Ao recebermos o e-mail do setor de “ação cultural” da parada cancelando o show, questionamos se havia algum problema em nossa documentação ou outro motivo que justificasse o ocorrido e recebemos a seguinte resposta: “não foi documentação (…) foi só orientação mesmo.” – frisamos aqui que entendemos bem o termo “orientação”, sabemos ao que ele se refere e significa – CENSURA!”, diz o texto publicado pela rapper em seu perfil no Instagram (íntegra abaixo):
“Hoje, sexta-feira, 2 de Agosto de 2019, nós, da #EquipeDaQuebrada, publicamos a seguir uma nota oficial a respeito do caso de censura que sofremos com o show da Linn da Quebrada em João Pessoa (PB), que aconteceria no dia 29 de Setembro, como parte da programação da “Parada LGBT” da cidade, evento organizado pela @funjopejp – Fundação Cultural de João Pessoa, que vetou o show por considerarem o discurso da artista, nas palavras da FUNJOPE, “muito pejorativo” para o evento.
Estávamos desde Julho em negociação com a Frankla (co-organizadora do evento), cumprimos todos os processos burocráticos para a realização do show. Porém, após uma reunião da organização da parada, juntamente com a FUNJOPE, recebemos a informação de que o show não aconteceria. A justificativa do veto se deu pelo posicionamento que Linn da Quebrada tem como artista, consequentemente seu trabalho, e o que a mesma representa como corpo político.
Devido a esse posicionamento da FUNJOPE, Frankla, que até então fazia parte da organização e estava em contato direto com nossa equipe, nos comunicou do ocorrido e se afastou de suas funções, justamente por ver nesse trâmite um processo de censura do nosso trabalho, que não deixa também de expressar um cunho transfóbico nas dinâmicas orquestradas por essas organizações.
Ao recebermos o e-mail do setor de “ação cultural” da parada cancelando o show, questionamos se havia algum problema em nossa documentação ou outro motivo que justificasse o ocorrido e recebemos a seguinte resposta: “não foi documentação (…) foi só orientação mesmo.” – frisamos aqui que entendemos bem o termo “orientação”, sabemos ao que ele se refere e significa – CENSURA!
Com muita indignação, a #EquipeDaQuebrada cobra um posicionamento oficial dos envolvidos no caso e na sequência manifesta sua opinião de acordo com a fala da própria artista censurada, Linn da Quebrada”.
Outro lado – Em nota, a organização da Parada LGBT de João Pessoa negou ter havido qualquer discriminação à artista e considerou as queixas “graves e equivocadas” . O documento ainda afirma que a presença da rapper havia sido tratada por uma colaboradora do evento que não faz parte da organização da Parada. “Lamentamos profundamente todos os mal-entendidos ocorridos, especialmente em tempos sombrios, em que nossa pauta está sendo atacada e que precisamos de diálogo e ação conjunta de todos os defensores da causa LGBT+”.
Confira a íntegra da Nota de Esclarecimento:
A Organização da XVIII Parada LGBT+ de João Pessoa, constituída pelas entidades LGBT+: Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria; Movimento Espírito Lilás (MEL); Movimento de Bissexuais (MovBi); Associação de Travestis e Transsexuais da Paraíba (Astrapa) e o Coletivo de Homens Trans da Paraíba, Petris, em face da publicação de uma nota da produção da artista Linn da Quebrada – com afirmações graves e equivocadas – vem à publico, por meio desta nota, esclarecer os últimos acontecimentos relacionados à Parada desse ano.
Em primeiro lugar, a Organização do evento é constituída pelas entidades históricas do movimento LGBT de João Pessoa, acima citadas, exclusivas responsáveis legais, e às quais se somam colaboradores, com o objetivo de garantir sua viabilidade de produção, por meio do estabelecimento de parcerias com instituições públicas e privadas. Nesse âmbito, uma das parcerias históricas e mais destacadas, tem sido a da Funjope – Fundação Cultural de João Pessoa, responsável pela contratação de artistas. Nessa parceria, firmada à quase uma década e atravessando diferentes administrações, de um lado, cabe à Organização da Parada fazer a indicação de mais de um nome para contratação, respeitado o orçamento previsto na rubrica da Fundação. E, de outro lado, cabe à Funjope a prerrogativa de definição de contratação dentre os nomes indicados. Portanto, no atual processo de contratação não ocorreu qualquer desrespeito aos termos do acordo histórico dessa parceria.
Nesse sentido, a narrativa elaborada na nota da Produção de Linn da Quebrada, se baseia num equívoco de inversão da ordem das ocorrências: o e-mail da Funjope, encerrando as negociações com a produção da artista, foi enviado antes da reunião da Organização da Parada com a instituição. A reunião foi marcada para que a decisão da Funjope fosse comunicada oficialmente à Organização do evento. E, nessa reunião, em nenhum momento, durante as negociações com a Funjope, a artista foi categorizada como portadora de ‘discurso pejorativo’ ou algo do gênero. Nesse contexto, cabe explicitar que, a relação da produção da artista com a organização do evento, deu-se por meio de uma colaboradora do evento, citada na nota como ‘co-organizadora’, mas que, no entanto, não é integrante de nenhum das entidades responsáveis institucionais do evento, as quais não tiveram nenhum contato direto com a Produção da artista.
Portanto, foi com imensa surpresa que a Organização da Parada, deparou-se com a conclusão acusatória de transfobia na nota da produção da artista. Antes de tudo, para bem da verdade dos fatos, a indicação de Linn da Quebrada como um dos nomes, para a Parada desse ano, se deu, exatamente, por ser ela, hoje, uma das principais expressões artísticas e de engajamento na causa trans, em nosso país, e a quem dedicamos imenso respeito e admiração pelo trabalho e pela representatividade de nossa pauta.
Lamentamos profundamente todos os mal-entendidos ocorridos, especialmente em tempos sombrios, em que nossa pauta está sendo atacada e que precisamos de diálogo e ação conjunta de todos os defensores da causa LGBT+.
Nosso respeito e nossas saudações a Linn de Quebrada e a todos os defensores dos direitos da população LGBT+ !
XVIII PARADA LGBT+ de João Pessoa, verdade, memória e justiça, 50 anos de Stonewall.
Fonte: Parlamento PB
Créditos: Polêmica Paraíba