As igrejas protestantes do século XXI devem se preocupar com as questões sociais e rejeitar as ‘indulgências pós-modernas’, ligadas ao poder e ao dinheiro. Esta é a avaliação do pastor Estevam Fernandes, da Primeira Igreja Batista em João Pessoa, ao analisar o legado dos 502 anos da Reforma Protestante. A data foi comemorada na última sexta-feira (31). Em outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero fixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, com críticas à doutrina católica, episódio que marcou o surgimento do protestantismo.
Em entrevista exclusiva ao Polêmica Paraíba, Estevam Fernandes criticou a ênfase dada por igrejas neo-pentecostais ao dinheiro e ao poder, e considerou que isto foge do padrão evangélico e prejudica a imagem do protestantismo bíblico. “Sai do padrão evangélico de ser, tanto tradicional quanto pentecostal, pois seus suportes de base não têm nada a ver com o mundo tradicional pentecostal, nada a ver. Agora a ênfase é, ‘É bom viver, amar o mundo, a gente tem que ser rico, Deus quer que a gente seja rico’. Por causa da forma como agressiva com que falam em dinheiro, demônio e poder, se pensa que aquilo é ser evangélico”, opinou.
Segundo Estevam Fernandes, este modelo de evangelicalismo se igualda ao catolicismo da idade média, que “vendia” a salvação da alma aos fiéis. “Naquele tempo, se vendia o perdão dos pecados, se negociava o purgatório, uma prostituição horrível em que a igreja manipulava até o destino das pessoas. Na verdade, era uma forma de levantar dinheiro para consumir grandes monumentos. E hoje, infelizmente, a gente vê as indulgências modernas, até pós-modernas. Quantos templos religiosos vendem indulgências disfarçadas de um barato misticismo, vende bênçãos, e se brincar vende até o pedacinho do céu? A Reforma trouxe a Bíblia de volta ao Cristianismo, e mudou o mundo de então”, destacou.
O sacerdote evangélico considera que a Reforma Protestante foi um episódio único, que transformou o mundo ocidental a partir da política, das artes e do conceito de liberdade, mas defende que a ideia de ‘reforma’ deve ser constante contra as indulgências. “Acho que a ideia de reforma é constante; hoje com outro nome, é se reciclar, se ressignificar, é repensar o tempo todo. Mas, veja bem, a Reforma como evento, não. Por quê? A gente tinha até o início do século XVI, em 1500, a plena hegemonia católica sobre o cristianismo. Quem não pensasse com o papa Leão X ou como os papas que o antecederam era execrado, era excomungado, ou era morto ou perseguido. A ideia de vida, de casamento, de filhos, a própria ideia de ciência tinha que passar pelo crivo católico”, disse.
Missão social
Para estevam Fernandes, a missão social da igreja moderna, além da pregação do Evangelho, que é o ponto crucial do cristianismo, deve focar no combate às mazelas sociais, como a fome, a miséria e a depressão. “As demandas do homem pós-moderno são outras, não é só ficar dentro do templo. Têm que ser igrejas cidadãs, que interagem com a sociedade, que lidem com drogados, meninos de rua, velhinhos e idosos que não têm onde viver. Que saim do templo, e vão para os guetos sociais. Não para angariar fiéis, mas para ser mãos de ajuda. Aliás, se você olhar para o contexto brasileiro, as igrejas fazem uma obra social muito grande. Cuidam de quem separa, cuidam de quem é drogado, cuidam dos meninos de rua. A consciência das igrejas evangélicas é muito unida”, observou.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba