No acirrado debate de ideias que assola o país desde a decretação da ‘intervenção federal’ no Rio, pelo Governo Federal, tem sobrado críticas (em demasia, diga-se), em detrimento de reflexões menos passionais e mais coladas com a realidade da violência no país que cresceu exponencialmente nos últimos anos, tornando-se insuportável.
Entre repetir chavões aclamados por alguns setores da esquerda e/ou reforçar posições anacrônicas atribuídas à extrema direita, no Brasil, uma vez que ambas as posturas em nada contribui, efetivamente, para um debate à altura das urgentes e desafiadoras questões que afligem diretamente o bem mais precioso – que é a vida -, o ex-deputado Inaldo Leitão aponta novas e ousadas alternativas na bem sucedida série de artigos que tem apresentado à imprensa e a sociedade paraibana sobre temas que estão na ordem do dia. Em “A Vida e a in (Segurança)” que segue, abaixo, o ex-parlamentar reconhece ser o investimento em políticas públicas (no médio e longo prazo) uma prioridade. Todavia, enquanto os efeitos dessas ações não chegam, algumas medidas simples podem ajudar a debelar os atuais níveis de violência, atenuando substancialmente a presente situação no curtíssimo prazo.
“Faltou criatividade” aos governos que se sucederam no Brasil nas últimas décadas, segundo ele. Encarceramento em massa é, definitivamente, um equívoco e parte do problema atual, em sua ótica. Sem receio, Leitão põe o dedo na ferida do sistema prisional brasileiro, propondo mudanças simples que podem fazer toda a diferença. Confiram. A Vida e a (in) Segurança Por Inaldo Leitão A segurança está diretamente vinculada à vida das pessoas e à proteção de seus bens. Em raciocínio inverso, a insegurança está ligada à ideia da morte e da desproteção dos bens materiais. Há muitas causas aprontadas por especialistas para a geração da violência, destacando-se o investimento em educação.
Porém, esse é um objetivo a ser alcançado a longo prazo – e põe longo prazo nisso. Enquanto os índices desejáveis da educação não chegam… Bem, medidas imediatas ou excepcionais precisam ser adotadas, tal como ocorreu recentemente com a intervenção militar na área de segurança do Rio de Janeiro, estado em que a situação é comparável com a de países em guerra. Lá, nos três primeiros meses de 2017, 1.867 pessoas morreram vítimas de homicídios, roubos, agressões e em operações policiais. Bandidos desafiam as forças de segurança à luz do dia, ostentando armas pesadas, a exemplo de metralhadoras, rifles e fuzis.
No resto do Brasil a violência também fala alto. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) registra uma média de 61.000 assassinatos por ano no país. Levantamento feito pela Esri Story Maps constatou que todos os atentados terroristas do mundo nos cinco primeiros meses de 2017 não superam os 3.314 homicídios registrados no Brasil em três semanas de 2015. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 3,4 mil pessoas foram assassinadas no país a cada três semanas de 2015. Os dados acima já dão uma ideia da gravidade da situação da segurança em terra brasileira.
O que fazer de forma imediata, enquanto a educação e a renda per capita da população não chegam a níveis de excelência, como defendem os especialistas da área? Esperar é que não podemos. Na minha ótica, duas medidas, entre outras, poderiam amenizar o problema da violência. A primeira seria a apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição, logo após a intervenção militar na área de segurança do Rio de Janeiro, vinculando um determinado percentual da receita da União e dos Estados à segurança pública. São muitas as vozes discordantes de tal medida, mas não custa relembrar que estamos falando principalmente de vidas humanas. Por outro lado, qualquer pesquisa de opinião que se faça hoje, assim como era ontem, as prioridades do povo brasileiro são três: saúde, educação e segurança.
Como as duas primeiras já têm receitas vinculadas, fecharíamos o círculo de prioridade. A segunda medida resultaria na redução dos gastos da União e dos Estados. Estou falando de uma mudança cultural nos sistemas penitenciário e judicial. O retrato do Sistema Penitenciário brasileiro é chocante. O custo mensal para manutenção dos presos é alarmante – R$3 mil. A superlotação nos presídios ofende a lei da física. E as condições carcerárias nas unidades prisionais são desumanas e degradantes. Levantamento do Ministério da Justiça em 2015 revelou que há 607.731 pessoas presas, 45% das quais em caráter provisório (sem condenação).
Esse número hoje é estimado m 700.000, representando um déficit de 250.000 vagas. Considerando que há 437.000 mandados de prisão aguardando cumprimento, a população carcerária poderá chegar a 1.137.000 – e o déficit a 687.000. Um estudo sobre o sistema prisional brasileiro, feito pelo Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente, revelou que a situação no Brasil é considerada grave, já que nós temos um alto índice de encarceramento, uma alta taxa de prisões. Embora sendo um país populoso, isso denota uma “política centrada na prisionização, o que é grave”, ressalta o documento.
Mais: “O Brasil está ainda engatinhando em buscar alternativas à prisão, que é o principal desafio hoje.” Para vencer esse desafio vem faltando criatividade aos governos. A cantilena de sempre é a de “construir novos estabelecimentos penais” – o que pouco acontece. E ainda bem, posto que: a uma, porque não há recursos disponíveis; a duas, porquanto melhor do que construir cadeias é construir escolas. A solução passa, inevitavelmente e obviamente, pela mudança de postura cultural. Isso significa espancar a velha prática da prisionização para acusados ou condenados em geral.
É preciso separar os acusados ou condenados por crimes de baixo impacto social dos que ofendem seguidamente a sociedade pela prática de crimes bárbaros, chocantes ou hediondos. É preciso livrar os autores de delitos não graves das garras das organizações criminosas que dominam o sistema penitenciário ante a impotência do Estado. Mas também é preciso livrar o contribuinte do alto custo do preso, hoje estimado em R$ 3.000,OO (três mil reais) por mês. A ideia é reduzir a população carcerária, mantendo nas cadeias os presos perigosos, reincidentes ou pertencentes a facções criminosas que continuam em ‘atividade’ de dentro das unidades prisionais.
Assim, a prisão domiciliar seria o remédio adequado para determinados presos, que arcarão com os custos de sua manutenção, poderão trabalhar em casa, conviver com a família e encontrar o caminho da ressocialização, tudo sob o monitoramento do Estado através do uso de tornozeleira eletrônica, que custa R$ 270 por mês.
A prisão domiciliar, ao contrário da ideia que passa de que o preso está desfrutando de alguma regalia, produz o mesmo efeito, do ponto de vista psicossocial, do que a prisão nas cadeias, pois retira das pessoas acusadas ou condenadas o bem mais precioso do ser humano: a liberdade. Noutro turno, torna dispensável gastos milionários com a construção de novas unidades prisionais, resultará no fim da superlotação carcerária e permitirá o efetivo controle das facções criminosas que atualmente dominam os estabelecimentos penais brasileiros.
Fonte: Inaldo Leitão
Créditos: Inaldo Leitão