Francisco Airton
Qual o verdadeiro papel do Gen. Mourão no governo Bolsonaro num país em que o vice sempre foi uma figura meramente decorativa? A resposta parece que vem sendo dada pelo próprio vice-presidente da república em atitudes e posições pontuadas desde antes mesmo de se dar o resultado das eleições em outubro do ano passado!
Os sinais foram ficando claros a medida em que o capitão era confrontado a todo instante pelo general! Afinal era imperativo mostrar que a hierarquia prevaleceria mesmo fora do quartel! Onde já se viu o capitão dando ordens a um general? Passados os primeiros 30 dias do início do novo governo, as diferenças já não podem ser escondidas da sociedade, agora que a eleição foi conquistada e os desencontros de ideias e informações foram se dando em meio a ordens e contraordens de forma bastante evidente.
Senão, vejamos: ainda durante a campanha em meados de 2018, ao que parece, sem consultar o então candidato a presidente da república, o vice na chapa, general Mourão chegou a declarar que a obrigatoriedade do pagamento do 13 salário ao trabalhador só trazia problemas ao empresariado brasileiro, o que foi desmentido imediatamente pelo companheiro de chapa antes que tal declaração causasse um estrago sem precedentes na campanha que já vinha começando a desfazer a rota agressiva que havia antes adotado, passando a desdizer tudo o que havia sido dito antes e registrado pelos smartphones dos internautas atentos a cada discurso, cada entrevista dada!
A verdade é que mal assumiu a vice-presidência da república, tratou Mourão de assegurar ao filho, Antonio Rossell Mourão a indicação para o cargo de assessor especial da Presidência do Banco do Brasil (BB) com sala acima de R$ 30 mil reais!
Segundo comentam analistas políticos, não é preciso ir muito longe para ler nas entrelinhas que algo errado está acontecendo. O batimento de cabeças que vem se registrando desde primeiro de janeiro deste ano, foi apenas se acentuando e o fiasco registrado no Fórum Econômico Mundial (FEM) em Davos, na Suíça – em que viajou apenas o presidente Bolsonaro e uma equipe formada pelos principais ministros e alguns essenciais assessores – quando a imprensa internacional criticou severamente atitudes adotadas por lá! Segundo se ventilou por aqui, a equipe não esteve preparada o suficiente para tão importante evento! Discurso de 45m acabou reduzido a apenas 6m, além de coletiva cancelada e tudo o mais!
Por aqui ficou o vice que, na condição de presidente da república interino, tomou posições que não se traduziram simpáticas até mesmo para os brasileiros!
Em decreto, ampliou o quadro de autoridades que podem classificar uma informação como ultrassecreta. O documento foi publicado na edição do dia (24) no Diário Oficial da União. O decreto altera a LAI (Lei de Acesso à Informação). Atualmente, podem fazer isso apenas o presidente e seu vice, além de ministros, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões diplomáticas. A partir de agora, também podem considerar uma informação como ultrassecreta os comissionados de alto nível e os dirigentes de fundações e empresas públicas.
Na opinião do cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o termo ‘à deriva’ é o que melhor define o primeiro mês da era Bolsonaro. Além de demonstrar muita insegurança para apresentar planos concretos, o governo viveu uma série de idas e vindas nas mais diversas áreas. Nem mesmo o ministério do poderoso economista Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” do presidente.
Após adotar uma postura de confronto ao presidente Bolsonaro, Mourão tenta evidenciar o contraponto. Em entrevista ao jornal O Globo, o vice-presidente revelou ponto de vista oposto ao de Jair Bolsonaro em relação ao um tema sensível: o aborto. Para o militar, as possibilidades para a interrupção da gravidez deveriam ser ampliadas. “Minha opinião como cidadão (sobre o aborto), não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa”. Para o militar, as possibilidades para a interrupção da gravidez deveriam ser ampliadas.
No episódio envolvendo a liberação do ex-presidente Lula para o velório do irmão Vavá, morto vítima de um câncer e que foi negado pela justiça mesmo lhe sendo um direito constitucional, Mourão saiu em defesa de Lula ao dizer que sua ida ao velório do irmão era uma ‘questão humanitária’! Nota-se ai não haver qualquer preocupação do vice em confrontar!
Adotando medidas mais suaves ou boazinhas, qual será a verdadeira intensão do General Mourão? Agradar, também, a quem não escolheu esse governo? Provocar um rompimento político?
É bastante compreensível que o presidente Bolsonaro – sendo ele mesmo um militar – tenha procurado se cercar de militares para governar o Brasil de acordo com a sua postura adotada desde a campanha! No entanto já está bastante clara a fragilidade do governo haja vista a quantidade de escândalos a que está exposto! Não teria exagerado o presidente ao militarizar demais o seu governo? Segundo, ainda, alguns analistas políticos, há quem diga que esse governo já não vinha se entendendo bem muito antes do final da campanha!
Foi motivo de comentários, pouco antes de Bolsonaro se internar para a retirada da bolsa de colostomia, a insatisfação dos militares por Bolsonaro não querer passar o comando da Presidência da República para o general Mourão pelo período em que estiver internado!
Indagar ao presidente se não seria melhor já ir botando as barbas de molho, acho que não será preciso. Governar de dentro do hospital onde está convalescendo já nos responde à pergunta!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Airton