Fora da Secretaria Estadual de Saúde, Geraldo Medeiros (PSB) vai disputar uma vaga na Câmara Federal nas eleições de outubro. Restando pouco mais de dois meses para as convenções e início de fato da campanha, o ex-gestor já elencou suas prioridades na política e o cargo que vai pleitear.
A decisão de Geraldo, que passou dois anos à frente da saúde do estado, movimentou a política do estado, que agora vê as disputas para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa se acirrarem.
Em entrevista ao Programa Hora H, da Rede Mais Rádios, Geraldo deu detalhes da sua decisão de sair de uma área onde é técnico e ir para a política. O pré-candidato à deputado fez um balanço da sua gestão à frente da saúde, falou sobre os desafios no enfrentamento à pandemia, abriu o jogo sobre a Operação Calvário e projetou quais bandeiras irá defender caso eleito.
– Como foi para o senhor lidar com dois anos de pandemia? Com uma doença inicialmente desconhecida, que ainda hoje desconhecemos muita coisa, mas que agora dá indícios que está amenizando?
Foi uma tarefa árdua, difícil. Os números mostram que dos 27 secretários de saúde do Brasil, só restaram eu e mais quatro. Isso mostra a dificuldade que é fazer gestão em saúde e fazer a gestão da saúde num momento como esse de pandemia. É claro que diante de uma patologia, de uma doença desconhecida e da maior crise sanitária do século teríamos ao longo da trajetória, muitas incompreensões. Isso aconteceu, basta retornarmos a gripe espanhola, e todos esses episódios e aspectos de incompreensão ocorreram ao longo da trajetória da gripe espanhola entre 1918 e 1919 e que houve inclusive naquela época a revolta das vacinas, a utilização de drogas ineficazes como ocorreu agora, a utilização do ensaio de quinino naquela época. Muitas pessoas recebiam doses excessivas e desmaiavam em plena rua. Isso mostra que o ser humano repete seus erros. A maior parte não aprende com a história. Se antes da pandemia as pessoas tivessem lido sobre a gripe espanhola muitos posicionamentos das mesmas não ocorreriam. Um exemplo típico são as drogas ineficazes que nessa pandemia criou-se o mito do uso da cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, que há três semanas atrás foram publicados dois trabalhos no British medical, um dos maiores jornais do mundo, mostrando justamente a ineficácia e a falta de efetividade nessas drogas. O pior, criava-se uma sensação na população de segurança. Uma falsa segurança. Pessoas usando ivermectina em altas doses. Houve casos relatados de hepatite fulminante com a necessidade de transplante hepático em alguns casos, fora as manifestações leves e moderadas dos excessos de medicações que foram utilizadas. A desacreditação da vacina. Aqui no Brasil o início tardio da vacinação. Nós poderíamos ter salvo mais pessoas se tivéssemos começado a vacinação mais cedo, adquirido essas vacinas com antecipação. Houve a oportunidade do governo federal através de uma oferta da Pfizer. Naquele momento o governo federal não se manifestou e não adquiriu as vacinas. Poderíamos ter iniciado com precocidade as vacinas. É tanto que a anistia internacional recentemente fez uma previsão de que 120 mil vidas poderiam ter sido salvas se tivéssemos. Poderíamos ter salvo 120 mil brasileiros e brasileiras se tivéssemos iniciado a vacinação precoce, como o Reino Unido que começou antes que o nosso país. Uma sucessão de erros. Essa desacreditação das vacinas atrapalhou a vacinação. A sorte é que temos uma tradição e uma cultura de nos vacinarmos. O programa nacional de imunizações e a eficácia do SUS foi essencial com uma rede de salas de vacinação em todo o estado. Isso ajudou demais e por isso estamos hoje com 81% da população totalmente vacinada, mas resta vacinarmos nossas crianças e nossos idosos portadores de doenças associadas com a dose de reforço, agora a partir de 70 anos de idade, a recomendação de se proceder a aplicação da segunda dose de reforço. Brevemente receberemos essa orientação para acima de 60 anos. Tudo indica que teremos uma vacinação atual em virtude da fragilidade da vacina de primeira geração nós estaremos vacinando de seis em seis meses. Os trabalhos científicos já mostraram que a partir de 5 ou 6 meses há uma queda importante na produção de anticorpos e consequentemente aquela pessoa fica mais fragilidade para evoluir para casos graves, principalmente os idosos.
– O senhor foi muito criticado por setores que não entenderam algumas medidas propostas na pandemia por considerá-las muito rígidas. O senhor acredita que essas medidas tiveram efeitos?
É claro que é um trabalho muito difícil de ser executado. Analisamos a cada 15 dias o cenário epidemiológico e as repercussões econômicas que as medidas restritivas ocasionaram. Na vigência de uma pandemia e como médico e secretário de saúde eu não teria nenhuma dúvida, não titubeei em tomar as mesmas medidas no tempo hábil para que as pessoas não adoecessem e muitas não morressem. Esse comportamento e nosso posicionamento sem ceder a pressões de vários segmentos foi fundamental para termos esse desempenho ao longo da trajetória da pandemia e não termos um cenário de tragédia, de colapso da nossa rede hospitalar. Por isso, recebemos da secretaria estadual de saúde a nota máxima, a nota 10, juntamente com Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Fomos o único estado do Nordeste a receber a nota máxima justamente por conta de seis indicadores que seguimos rigidamente na condução da pandemia. Um deles foi a tempestividade das ações. Além de ouvir especialistas, infectologistas, epidemiologistas, as sociedades brasileiras, a sociedade paraibana de infectologia, sociedade brasileira de imunologia, sociedade brasileira de pediatria, sociedade brasileira de pneumologia. Todas essas entidades além dos trabalhos científicos, a leitura era contínua e diária através de Daniel Beltrammi, eu e Renata sempre discutimos para evitarmos qualquer tipo de erro. Num momento como esse, errar significa morrer pessoas. Por isso que nós sempre adotamos essa postura de cautela e isso fez com que nós realizássemos um inquérito sorológico na população. Uma parcela da população foi testada nos seus lares com teste rápido e testa swab nasal rt-pcr para justamente sabermos como retornar às aulas presenciais com segurança para nossos alunos, professores, familiares e servidores. Por isso regressamos primeiro com o ensino infantil e gradualmente ensino fundamental, médio e superior. Isso foi analisado também e recebemos a maior nota do Brasil. Fomos premiados com primeiro lugar no índice de segurança de retorno às aulas presenciais. Então todos esses fatores somados a criação de uma escola de saúde pública, que mesmo na pandemia nos ajudou bastante, a parceria com vírus respiratórios e sarampo da universidade federal da Paraíba. Esse inquérito sorológico foi feito em parceria com a mesma. Havíamos adquiridos 100 respiradores de última geração antes da pandemia, já estávamos com alguns estados em situação de emergência e o governo federal reteve esses respiradores o que durante algumas semanas nos atrapalhou na condução, porque tínhamos um quantitativo de respiradores adequados mas com a pandemia resultou num número insuficiente e tivemos que judicializar para receber de volta do ministério da saúde esses 100 respiradores. Chegamos num momento em que tivemos 17 unidades hospitalares desabastecidas de epis de proteção individual. Nós adquirimos. Um sobrepreço na praça em função da lei da oferta e da procura. Fomos obrigados a adquirir esses insumos para que não faltassem para nossos profissionais de saúde e não causasse o colapso da nossa rede. Uma atividade exaustiva. Criamos uma live que semanalmente nos pronunciamos em relação à população. Isso foi um fator importante. A transferência que a levou para os números mesmo nos momentos cruciais de pessoas esperando nas upas por leitos de uti. Sempre anunciamos com a verdade. Isso fez com que adquirissem a credibilidade da população e foi outro elemento elogiado pela organização pan-americana de saúde que considerou que o exercício de transparência ao longo da pandemia era importante para que a condução fosse adequada.
– Como foi a transição de pegar a saúde ainda no âmbito da Operação Calvário, onde os hospitais eram geridos por organizações sociais e hoje existindo uma fundação própria do estado, a Fundação PB Saúde?
Foi uma grande dificuldade antes da pandemia. Assumimos em janeiro a secretaria de gestão das unidades de saúde do estado a convite do governador. No dia 29 de abril nós fomos nomeados secretários estaduais de saúde. Nos deparamos com a operação calvário e com o modelo de gestão das organizações sociais que naquele momento era estigmatizado pela sociedade paraibana como um todo como modelo inadequado e cheio de incongruências. Tentamos ainda realizar chamamentos públicos e afastar algumas organizações sociais. A Paraíba estava com uma divulgação tão maléfica em relação a essas organizações sociais que as organizações idôneas não queriam vir para a Paraíba. Fui várias vezes a Brasília, consultei as 20 melhores organizações sociais do Brasil, e eles não manifestaram interesse. Cheguei para o governador e sugeri a extinção das os no estado da Paraíba. Foi uma atitude acertada. Existia todo um sistema de modelo de gestão das organizações sociais já faziam uns anos e que havia resistência e claro em relação a essa atitude. Nós nunca cedemos a pressões e o governador aceitou nossa sugestão e no dia 23 de dezembro foi anunciado para vocês e para a sociedade paraibana a extinção e cancelamento do contrato de todas organizações sociais do estado. Ai o problema não estava resolvido totalmente. A transição de uma organização social que tem um modelo de relação de trabalho totalmente diferente que é carteira assinada clt e o modelo de gestão própria do estado isso foi muito difícil. As organizações sociais trabalharam para deixar os hospitais desabastecidos, houve uma grande dificuldade. Tivemos que fazer compras emergenciais de muitos insumos. Eram grandes hospitais como o Humberto Lucena, o metropolitano, o hospital de mamanguape, as upas de guarabira e de santa rita. Então eram grandes unidades hospitalares. Quando estabilizamos e mudamos os gestores desses hospitais vimos um cenário que até então a imprensa não havia visto, que foi o hospital Humberto lucena sair de pauta da imprensa. Hoje você não ouviu falar do hospital Humberto Lucena e um dos fatores foi esse. Logo a seguir, quando pensamos em continuar uma gestão tranquila no estado surgiu a pandemia. Me considero um gerenciador de crises.
– Houve um momento que o senhor pensou em desistir?
Eu acho que o gestor de saúde no nosso país precisa ter dois atributos: coragem e resiliência. Esses dois eu os tenho. Não houve um momento assim, até de covardia, num momento daquele, de abandonar o barco. Nós enfrentávamos mesmo com dificuldades em alguns momentos. Felizmente a Paraíba realçou a nível nacional não só em relação a pandemia e a gestão nas unidades de saúde, até porque o estado infelizmente adotou uma política ao longo de 50 a 60 anos, uma política na saúde errada, que foi a edificação de muitos hospitais. Nós temos 33 hospitais, 4 upas, isso é um exagero. A Paraíba é o estado com mais densidade de unidades hospitalares. O espírito santo que tem a mesma população nossa tem 18 hospitais. Nós temos 33 hospitais e sendo bem claro só funcionam de 10 a 12. Os outros funcionam quase com um pronto atendimento. Tem um custo elevado e não dá uma resposta adequada à sociedade. O estado é pequeno, pobre, tem que centralizar suas ações nas unidades que têm resolutividade. Por isso que nós adotamos o modelo da regionalização da saúde. Uma prova disso foi a compra de 7 milhões de equipamentos na área materno infantil, berço aquecido, incubadora de transporte, fototerapia, cardiotocógrafo, mesa de parto, camas e poltronas. Foram 13 maternidades do estado que receberam esses equipamentos que nunca haviam recebido. Equipamentos de última geração e da melhor marca. Isso teve um impacto muito grande na assistência materno-infantil. Isto é, levar a saúde, não só centralizar em Campina Grande e João Pessoa, mas levar a saúde para Patos, Itaporanga, Catolé do Rocha, Pombal, para que todos os paraibanos tenham acesso a saúde na sua própria moradia.
– O senhor falou que é um gestor que tem coragem. Que coragem foi essa para entrar na política?
Recebemos um convite, uma sugestão do governador João Azevêdo, fazemos parte de um projeto político do governador. Em função da pandemia estar com 0% e 0 virgula alguma coisa em Campina grande de ocupação, achamos que é o momento que poderíamos sair. Não haverá problema de continuidade porque o governador escolheu pessoas que já estavam na secretaria e nós vamos enfrentar esse terreno arenoso, essa seara nova que é uma pré-candidatura a deputado federal.
– Qual sua carta de apresentação como pré-candidato?
Além do desempenho ao longo de 12 anos na gestão pública, sempre gerenciando crises. Nós assumimos o hospital regional de Campina Grande. Era uma precariedade muito grande, a sociedade de Campina Grande e do interior do estado tinha uma imagem muita negativa daquela unidade, chamavam de matadouro. Além de melhorar essa imagem conseguimos iniciar o funcionamento do elefante branco que era o hospital de trauma de Campina Grande. Uma edificação de 22 mil metros quadrados que estava naquele momento fechada sem oxigênio, sem gás, sem tanques de oxigênio. Foi inaugurado em dezembro de 2010 justamente para que fosse posto à disposição da sociedade paraibana e não poderia porque não estava nem com gases, nem oxigênio tinha para funcionar. Além disso, esse gerenciamento de crise que já relatei frente a secretaria estadual de saúde e mostrar para o paraibano e paraibana um novo modelo de fazer política. Uma política inclusive e com fim específico que é o bem coletivo e o bem comum e não o bem próprio e o bem dos outros como se pratica com frequência no nosso país. E essa mensagem que nós trazemos. Há uma manifestação contínua da população em relação a nossa pré candidatura nas ruas e nos espaços que eu frequento. O meu nome está posto como pré candidato. Cabe a população pensar sobre o crivo da mesma nós termos futuramente qual vai ser o posicionamento. Isso é importante no regime democdatico os cidadãos e as cidadãs terem a liberdade de a cada 4 anos escolher a melhor pessoa para gerir e ocupar esses cargos públicos. Espero trazer para a política os principais morais e éticos e trabalharmos como sempre trabalhamos no serviço público. Tenho 42 anos trabalhando pelo SUS, tentando fortalecer o SUS, temos quase 6 mil cirurgias realizadas pelo SUS. Toda essa experiência quero utilizar na eventualidade de ser eleito em função de uma saúde melhor. Os resultados estão aí para serem analisados. A Paraíba hoje é o estado que mais cresce em doação de órgãos e tecidos e transporte. Tivemos ao assumir esse cuidado de fazer uma reunião na secretaria com todos os transplantadores e com a central de transplantes. Foi uma reunião extensa onde eu fiz questão que cada um se manifestasse. A Paraíba quando nós assumimos era o pior desempenho no país em relação a doação de órgãos e tecidos e transplantes. Há 10 anos não se fazia transplante de coração e com resultados pífios em relação ao quantitativo de transplantes anuais. Com um ano recebemos lá em Brasília uma comanda do então ministro Pazuello como o estado que mais cresceu em transplantes e doação de órgãos e tecidos com trabalho de condicentzacal. Não podemos ter transplantes sem a sociedade manifestar o desejo em vida de doar seus órgãos na eventualidade de uma morte encefálica. Isso é fundamental para que as pessoas conversem no seu dia a dia. Estamos com uma média importante de uma doação a cada semana. Tem mês que nós temos até cinco doações. Isso acarreta cinco órgãos transplantados.
– Quando o senhor fala sobre sua pré-candidatura fala sobre trazer uma nova política, mas para ser eleito o senhor vai passar por uma campanha. E nesse aspecto temos uma bancada que a cada 4 anos boa parte é reeleita, o senhor tá preparado para entrar nessa disputa?
Estou preparado para trabalhar de outra maneira. Um trabalho de conscientização da população sobre a escolha dos seus representantes na câmara federal. Este é um momento do cidadão e cidadã paraibana fazer uma reflexão em relação à condução e ao desempenho de todos aqueles que já prestaram seus serviços. Esse modelo de se eleger não vamos adotá-los. Vamos postar uma candidatura e mostrar a importância da mesma e a prestação de serviços para a comunidade. Temos conversado com as pessoas e elas têm manifestado esse desejo de mudar e é com isso que vamos trabalhar e claro que brevemente teremos um fundo eleitoral para regimentar nossa estrutura de campanha e esse é o objetivo que nós temos no sentido de trazer uma ideia nova para a política paraibana. Precisamos realizar reformas no nosso país, o deputado federal tem esse poder de legislar, de criar leis, de revogar leis, e isso que a gente pretende. Temos aí uma reforma administrativa, uma reforma tributária, uma reforma política. Temos muitos partidos políticos, o que acho errado, temos propostas para a saúde. Por exemplo, já entregamos ao ministério da saúde um prometo que a Paraíba seria o piloto em consonância com a sociedade brasileira de atendimento ao trauma, e tratamos inclusive aqui no palácio com o ministro da saúde já mostramos o projeto para 2030 que tem o objetivo de diminuir 50% o número de mortes por trauma no brasil. É um projeto amplo que pode trazer um grande benefício e preservar a vida principalmente dos nossos motoqueiros que estão morrendo diariamente. É o segundo país do mundo onde mais morrem motoqueiros, só perdemos para o Paraguai. Temos aí 200 mil brasileiros que morrem anualmente em decorrência do trauma. O trauma corresponde a 10% do PIB do país. Só nas duas unidades aqui de trauma do nosso estado o custeio mensal chega a 20 milhões de reais.
Fonte: Mais PB
Créditos: Polêmica Paraíba