“A pandemia acabou.”. Essa provavelmente é a frase que mais aguardada pelo mundo inteiro. “A vacina já chegou.” é com certeza a notícia que todo jornal quer ter com exclusividade. Mas de fato a pandemia já acabou pra muita gente. Não sabemos explicar por quais motivos, ou quais as justificativas, se é que se existe justificativa pra tanta imprudência. O que vemos são bares cheios, calçadas lotadas e diversas pessoas andando sem máscara como se nada estivesse acontecendo.
Para os incrédulos não existe pandemia, existe um exagero nos números, e um alarde nos canais de informação. É mais fácil acreditar que é mentira, do que acreditar que o vírus existe, e infelizmente não foi embora. Quem não acredita, não acreditou desde o início, e não é agora que vai começar a acreditar. Ser negacionista é muito mais prático. Não se importar com quais pessoas podemos afetar se passarmos o vírus, é confortável sim. E certamente é isso que os aglomeradores de plantão devem fazer.
A economia é a justificativa que todos usam, e ela é sim muito importante e deve ser recuperada. O governo apostou no auxilio emergencial pra isso. Não foi apenas pensando no pobre, foi pensando também nos empregadores que os R$ 600,00 foram “dados” ao povo. Foi com esse dinheiro que muita gente se manteve e ajudou que muitos negócios continuassem. O dinheiro girou, e a internet foi aliada dos pequenos e grandes negócios. O comércio em sua grande parte não fechou, até de forma irregular uma parte seguiu funcionando. Em Mangabeira, bairro cheio de comércio, todo dia parecia dia normal.
Mas agora, com a volta regular de restaurantes o povo viu a necessidade de sair. Não sair só, ou em dupla; sair em um grupo mesmo. Como uma dia normal. A calçada da orla de Cabo Branco quase não consegue comportar a quantidade de gente que quer ficar no mesmo metro quadrado. Os jovens agendam encontros, “Hoje vai ter passinho na praia” e lá se vão, espalhando vírus pra quem quiser, e pra quem tiver o azar de passar por eles.
Só na Paraíba até o dia 11 de outubro, 2.914 pessoas faleceram vítimas do coronavírus. São quase 3 mil! Dentro desse número estão muitos avós que nesse ano não estarão com seus netos no dia das crianças. Vai faltar o colo e o afago mais quentinho que só o colo de avó tem. É redundante, mas é necessário lembrar, quanta dor ainda deve existir no peito de tantos filhos, e de tantos homens e mulheres que perderam seus companheiros de uma vida toda. Mas simplesmente esquecemos aquelas histórias tristes que víamos no início da pandemia e normalizamos a morte. Sempre é mais fácil não pensar. “Ah, mas é só uma saída rápida pra tomar uma cervejinha.” A saída é tão rápida quanto esse vírus traiçoeiro. Mais de 125 mil pessoas tiveram coronavírus na Paraíba. Quantos desses não fizeram só inofensivas aglomerações, transmitindo para outros que não resistiram.
Normalizamos a morte, mas precisamos mesmo normalizar é a loucura. A loucura de ir contra esse tipo de pensamento. A loucura de mesmo com tudo parecendo normal, resistir por nós e por outros. Isso sim devia ser o normal. A loucura de continuar em casa, se isolando e protegendo pessoas que nem conhecemos. O novo normal não existe, o que existe é gente que não é normal insistindo em viver uma realidade paralela fingindo que não vivemos o caos da pandemia.
Fonte: REBEKA MELO
Créditos: Rebeka Melo