Era um dia diferente, uma pauta diferente que eu tinha que cobrir. Nunca uma matéria cobertura de evento mexeu tanto com meu psicológico.
O trânsito da cidade estava um caos por causa da caminhada da virada promovida pelo PT. Quase não chego a tempo para o pré cadastramento da imprensa.
Sou jornalista e amo minha profissão, mas nunca me senti tão insegura e com tanto receio com os rumos que meu país está tomando.
Essas linhas retratam meus mais íntimos pensamentos, meus receios e preocupações, quando saí para cobrir a coletiva do presidenciável petista Fernando Haddad. Eu fui com alguns questionamentos que esperava fazer, claro que com a experiência de 12 anos de profissão eu sabia que dificilmente conseguiria fazer uma pergunta sequer, pois como trabalho em um portal de notícias (que apesar de ser o 2º mais acessado do estado) entendo que nesses casos, profissionais de veículos maiores tem prioridade na hora das perguntas. E nessa coletiva não foi diferente. O fotógrafo Ricardo Stuckert chegou minutos antes de Haddad e falou, apenas 5 veículos e cada um só poderia fazer uma pergunta, e como já era de se esperar, não fui cadastrada para perguntas.
Sentei e ouvi atentamente as perguntas dos colegas, uma a uma sendo serenamente respondida pelo professor e presidenciável. A cada minuto que passava mais aumentava em mim uma vontade de quebrar o protocolo, eu via perguntas frias sobre educação, segurança e pesquisas. Foi aí que eu me distanciei da profissional que ali estava para me pronunciar. Eu interrompi Haddad enquanto concluía a penúltima pergunta. Da minha cadeira pedi a palavra e me indicaram o microfone para falar.
Me levantei e lá eu fiz o questionamento que mais me intriga nos últimos meses, período em que a campanha presidencial ganhou ares de guerra civil.
Olhando no s olhos de Haddad eu me apresentei e disse: Sou jornalista, mulher, nordestina, e recentemente comecei um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo que eu. Eu disse pra ele muito sinceramente que eu tinha medo, e perguntei o que ele diria pras pessoa que como eu independente de preferências politico partidárias estavam temerosas com o rumo de ódio que as coisas andavam.
Haddad deu uma lição de mansidão e calmamente chamou o candidato Bolsonaro de pequeno homem, Haddad disse que em sua pequenez, homens assim não eram corajosos e ele me disse: -Você com certeza é mais forte do que ele, ele que tem medo de pessoas corajosas como você: Porque ele nunca teria coragem de fazer nada contra você cara a cara, ele usa seus seguidores para atacar e odiar. Naquele momento eu não era mais a comunicadora cobrindo uma pauta. Eu era apenas uma mulher, mãe e profissional que estava até então se sentindo acuada. O que Haddad fez e disse pra mim me deram esperança de que os bons são maioria e as palavras de incentivo de todos que lá estavam me deixaram cheia de alegria e entusiasmo.
Infelizmente o que repercutiu dessa pergunta foi apenas o fato de eu ter falado da minha orientação sexual e não o fato de que colegas jornalistas estão sendo perseguidos, professores sendo ameaçados, amigos LGBTQs sendo humilhados e o ódio sendo disseminado como se fosse a coisa mais normal.
Concluo esse artigo falando do homem que foi sinônimo do amor maior que já pisou os pés nessa terra. Amem seus semelhantes e por eles tenham compaixão. Perdoem seus inimigos. Jesus pregou o amor e eu peço que só o amor fique em qualquer ocasião, pois independente de cor, religião, orientação sexual, ninguém deveria viver com medo.
Coragem é graça sob pressão. – Ernest Hemingway
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Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Alana Yaponirah