Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a cada hora três crianças e adolescentes são abusadas no Brasil. O suspeito é do sexo masculino em 87% dos registros e, igualmente, de idade adulta, entre 25 e 40 anos, para 62% dos casos. A vítima é adolescente, entre 12 e 17 anos, do sexo feminino em 46% das denúncias recebidas.
Relato de uma vítima de abuso infantil
“Minha mãe e minha vó sabiam, e diziam que a culpa era minha por eu ter um corpinho bonito”, disse Maria*, vítima de abuso infantil. Hoje, aos 45 anos, Maria* não consegue falar sobre o que aconteceu durante sua infância, sem se emocionar. ” É difícil falar sobre isso, pois ainda dói. Até hoje, dói na minha alma falar sobre esse assunto”.
Maria* foi abusada pela primeira vez aos dez anos de idade, por um vizinho e amigo da família. A segunda vez foi pelo irmão e a terceira vez por seu primo. Sobre seu irmão e seu primo, a família sabia e dizia que a culpa era dela, pois, com apenas dez anos de idade, Maria* já tinha um corpo bastante “robusto”. “Teve uma época que minha mãe chegou a cortar meu cabelo, bem curtinho, só pra esconder minha beleza. Foi o que escutei minha mãe dizer”, relatou.
“Eu não pensava em nada. Só tinha muito medo. Acho que vivi a vida inteira com medo. Principalmente quando eu morava com minha mãe”, disse Maria*, que hoje sofre de depressão e acredita que as más lembranças que tem desse momento obscuro de sua vida, são responsáveis por lhe causar tanta dor e sofrimento. “Acho que ninguém tem o direito de te tocar, sem que vocês permita”, finalizou.
Abuso infantil e as consequências na vida adulta
O Polêmica Paraíba conversou com a psicóloga e psicanalista, Mayara Pereira Bezerra de Almeida, que pôde explicar mais sobre o abuso infantil e as consequências na vida adulta.
O que pode ser definido por abuso ou violência sexual?
O abuso infantil é toda forma de violência física e/ou emocional/psicológica, maus tratos, negligência, exploração comercial, sexual, resultando em dano real ou potencial à saúde, sobrevivência e desenvolvimento da criança em situação de curto, médio e longo prazo.
Por que a criança se cala após ter sido abusada?
Porque falar dói. Porque falar sobre o assunto pode não ser acreditado pelo responsável. Porque se a criança não tem espaço de fala para outros assuntos, delicados ou não, por que seria fácil falar sobre uma situação invasiva sem a certeza de ser ouvida? Porque sentem vergonha, por acreditarem que é culpa delas (e jamais, nunca é). Porque inúmeras vezes (em sua grande maioria) o abusador é um familiar e isto gera desconforto e medo de desapontar a família. Porque a criança não compreende o que está acontecendo e pode ser manipulada a acreditar que não é um problema.
A maioria dos casos acontecem mais com meninos ou meninas?
Ainda não há uma resposta exata, mas já sabe-se que o número de meninos abusados é bastante subnotificado, e isso se deve à nossa cultura, que naturaliza o abuso feminino e, daí, os casos de meninos assediados não vem à tona por conta do constrangimento em assumir que eles passaram por isso e discretamente ser mascarado, o que também é terrível.
Existe um perfil específico de um abusador?
As pesquisas ainda informam que quem comete abusos, não apresenta um perfil ou comportamento específico, assim, qualquer pessoa pode ser um potencial abusador e/ou explorador. O comportamento tem origem sabidamente multifatorial e envolve a complexidade de vários fatores: alguns procuram por crianças de pais solteiros, que não estão tão disponíveis para dar muita atenção e geralmente usará vários truques e linguagens para ganhar a confiança e/ou enganar a criança.
Quais as consequências do abuso infantil na vida adulta?
A criança pode ter problemas que envolverão pesadelos, dificuldades para dormir, mudança de hábitos alimentares; pode apresentar condutas de autolesão, depressão, ideias suicidas, ansiedade, altos níveis de desesperança e níveis mais elevados de sintomas de estresse pós-traumático. São alterações que variam em tempo e intensidade e resultam em grande sofrimento emocional.
O abuso infantil é um dos problemas de saúde pública, devido à elevada incidência epidemiológica e aos sérios prejuízos para o desenvolvimento das vítimas.
Fonte: Adriany Santos
Créditos: Adriany Santos