Em julho de 2020, publiquei no “Blog do Rubão” alguns artigos documentando os resultados desastrosos das intervenções de infraestrutura executadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) supostamente com o objetivo de “proteger” a falésia do Cabo Branco, referência icônica do litoral brasileiro e da geografia mundial.
Os textos publicados não se limitaram a descrever o que estava acontecendo, mas também apontavam a evolução do processo erosivo negativamente impactante para a paisagem da enseada do Cabo Branco, processo esse que – claro – não cessou com o fim da administração municipal, em dezembro último.
As evidências do que então se anunciava como consequência direta do lançamento de um amontoado de rochas de grandes dimensões contornando o sopé da falésia, diga-se de passagem, sem nenhum projeto que respaldasse tal ação, permitia a qualquer bom observador da natureza local antever para onde as coisas caminhariam.
Cessei a publicação dos textos e vídeos-denúncia por duas razões: 1) todos os alertas e previsões fundadas na observável evolução do processo erosivo da praia do Cabo Branco haviam sido registradas, inclusive, para além da difusão propiciada pelas redes sociais e a imprensa convencional, uma vez que também atendi o convite do Ministério Público para reunião in loco, contando com a participação de representantes da própria PMJP e de vários outros técnicos interessados no assunto; 2) embora a PMJP não tenha conseguido oferecer nenhuma resposta tecnicamente consistente, insistir como cidadão em cobrar essas respostas facultou a prepostos da edilidade arguir que a denúncia da agressão ambiental tinha viés político, uma vez que se avizinhava o pleito eleitoral envolvendo a disputa pela prefeitura.
À intenção de continuidade no poder municipal interpôs-se o voto popular, quero crer, livre. Já o impacto ambiental decorrente das intervenções desprovidas de engenharia e de planejamento adequado segue agressivo, conforme esperado, dada a máxima do raciocínio lógico basilar segundo a qual em permanecendo a causa, os efeitos persistem.
A progressão maléfica dos processos erosivos decorrentes do amontado rochoso que onerou os cofres públicos em mais de 4 milhões de Reais pode ser constatada pela mera comparação entre a documentação fotográfica anteriormente publicada (e.g., ver Blog do Rubão) e a atual (01/03/2021).
Em resumo
(1) a baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia (não reposta pela corrente marítima natural, por impedimento pelas rochas lançadas pela PMJP) e continua em desequilíbrio em termos de balanço de sedimentos;
(2) o coqueiral, bravamente, está morrendo de pé, pois o próprio suporte terroso lhe é erodido;
(3) conforme previsto, os gabiões anteriormente existentes e que, igualmente custaram milhões ao contribuinte, desmoronaram;
(4) o mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado);
(5) grande parte da calçada por onde transita muita gente em busca de atenuantes para esse segundo ano de pandemia transformou-se em perigosos trechos de crateras e escombros (infelizmente, mais uma vez, conforme previsto). As fotografias abaixo exemplificam cada um desses cinco principais impactos.
Retomo o assunto cônscio de que os dois meses transcorridos até a presente data não são suficientes para que a nova gestão da PMJP tenha se inteirado totalmente da dimensão da “herança” recebida da gestão anterior. O novo prefeito e seus auxiliares certamente sabem que decisões concretas precisam ser tomadas. Espero que elas venham o mais breve possível e que possam ser implementadas de maneira a reverter as consequências danosas experimentadas por esse cartão postal da nossa capital.
Francisco Jácome Sarmento é Professor Doutor em Engenharia Civil da UFPB
Fonte: Rubens Nóbrega
Créditos: Polêmica Paraíba