São graves, extremamente graves, as primeiras revelações que o site “The Intercept” está trazendo à tona, mostrando que o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, uma das estrelas da Operação Lava-Jato, monitorou de forma ilegítima ações da empreitada policial-jurídica que levou políticos e empresários à cadeia, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teria ficado evidenciado, também, que Moro “forçou a barra” na produção de elementos que resultaram nas condenações do ex-presidente e líder do Partido dos Trabalhadores, a primeira das quais foi imputada pelo próprio juiz antes de ascender à vaga de ministro no governo do direitista Jair Bolsonaro. Moro nega as ilegalidades, mas expõe argumentos frágeis.
Ainda vai levar um tempo para o desbaratamento de tudo o que aconteceu nos esconsos da Operação Lava-Jato, mas parece fora de dúvidas a cumplicidade univitelina que sempre existiu entre Sérgio Moro e o Procurador Deltan Dallagnoll, este, agora, responsável pelo leme das investigações. Também é indiscutível que as revelações ora tornadas públicas ferem de morte a credibilidade da operação que foi saudada como uma bênção na cruzada contra a corrupção e os corruptos no Brasil, inspirada nos moldes da Operação Mãos Limpas, da Itália, só que com pitadas brasileiras no seu formato, a exemplo da enxurrada de delações premiadas como suposto método para a obtenção de elementos incriminadores, de provas contra os que foram parar atrás das grades, em Curitiba e em diversos outros endereços do país.
Diga-se, a bem da verdade, que este não foi o primeiro golpe que nocauteou a Lava-Jato, mas, certamente, é o de maior impacto porque deslinda fatos reprováveis, como “pactos diabólicos” urdidos para alcançar objetivos de retaliação, desrespeitando-se, aí, o Estado de Direito na sua essência maior. O ministro Sérgio Moro, que está tendo dificuldades para se afirmar no exercício do cargo (o seu pacote anticrime enfrenta resistência ostensiva no Congresso Nacional e ele perdeu a jurisdição sobre o Coaf, que seria valiosa ferramenta para subsidiar investigações ainda conduzidas pela Lava-Jato), parece caminhar para o cadafalso. Aliás, o atilado colunista Ricardo Noblat, em seu espaço na revista “Veja”, afirma que “o gato subiu no telhado”, uma metáfora para insinuar que a degola de Moro do ministério da Justiça está sendo acelerada nos gabinetes do poder em Brasília. Bolsonaro se desfez de aliados que eram cúmplices seus, como Gustavo Bebbiano – e isto foi o sinal de que não terá dificuldades para se livrar de gente como o próprio Moro, que ele contratou dentro de uma estratégia para dar respaldo de credibilidade ao seu governo, numa época em que a Lava-Jato gozava de popularidade inacreditável.
É profundamente lamentável, para o currículo e para a reputação do ministro Sérgio Moro, que ele esteja trilhando passos melancólicos no governo do presidente Jair Bolsonaro. Mais doloroso é constatar que o passado condena Moro, pela suspeita de excessos cometidos no desenrolar do cronograma da Operação Lava-Jato, que desabou como um furacão sobre o cenário institucional brasileiro. Na opinião pública, já vinha se disseminando a ideia de que Moro é um carreirista, que lutou para ser ministro da Justiça a fim de dispor de um trampolim para conquistar indicação ao posto de ministro do Supremo Tribunal Federal. Essa, a sua ambição maior, convertida em compromisso público do presidente Bolsonaro, que de uns tempos para cá, curiosamente, tem arrefecido no ímpeto com que tratava o seu auxiliar como futuro jurisconsulto da maior Corte judiciária do país.
Do papel de caçador intimorato de corruptos, o ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, passou a ser “caçado”, no âmbito da própria sociedade, para prestar esclarecimentos sobre as acusações que começam a recair sobre seu histórico ou sua trajetória. Quando Bolsonaro tornou pública a formação da sua equipe, dizia-se que havia dois fortes pilares de sustentação – o ministro Sérgio Moro na Justiça e o ministro Paulo Guedes, na Economia. Guedes ainda hoje depara-se com dificuldades imensas para levar a termo a aprovação da reforma da Previdência Social. Moro começa a perder o cacife e o prestígio que tinha. O poder tem dessas coisas!
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes