Uma liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, no Supremo Tribunal Federal, determina a retirada da tornozeleira eletrônica imputada ao ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), até julgamento de mérito do habeas corpus impetrado pela defesa do líder dos “girassóis”. O monitoramento eletrônico havia sido imposto em fevereiro deste ano pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida, relator da Operação Calvário, como medida cautelar no bojo de outras restrições aplicadas a Coutinho. O ex-governador, que chegou a ser preso na sétima fase da Operação Calvário, responde a processos em que é acusado de chefiar “organização criminosa” implicada no desvio de vultosos recursos da Saúde e da Educação no período em que esteve à frente do Executivo paraibano.
Ao requerer a retirada da tornozeleira, Ricardo alegou que o equipamento tem dado defeito e quando isso ocorre ele precisa se deslocar à autoridade policial para os reparos, o que tem representado perigo em virtude da pandemia do novo coronavírus. Outras medidas restritivas foram aplicadas ao ex-governador e ex-prefeito de João Pessoa, como a obrigação de recolhimento residencial noturno e a proibição de deixar a comarca sem a devida autorização. Enquanto acerta contas com a Justiça, Ricardo procura influir na disputa eleitoral à prefeitura da Capital, que ocupou por duas vezes. E soube-se, ontem, que ele será pai pela terceira vez. A notícia foi dada por Amanda Rodrigues, ex-secretária de Planejamento, atual esposa do ex-governador e pré-candidata do PSB à sucessão municipal. Em seu perfil nas redes sociais, Amanda revelou que está grávida e publicou a foto de dois sapatinhos de bebê, com o comentário de que “Nossa Senhora trouxe a boa nova! Presente do dia dos pais antecipado”.
Ricardo tem dois outros filhos – Rico Vieira Coutinho, do primeiro casamento, e Henri Lorenzo, da união com a jornalista Pâmela Bório, com quem chegou a travar embates judiciais em torno do direito à guarda. Amanda Rodrigues nunca disputou mandato eletivo, mas, segundo interlocutores de Ricardo, tem “desenvoltura” para representar o PSB na disputa. A pré-candidata lançada pelo ex-governador à sucessão municipal tem aparecido em redes sociais, participando de “lives” em que aborda problemas e desafios da Capital, que ontem completou 435 anos de fundação, ao mesmo tempo em que formula propostas para as questões. Por trás da candidatura de Amanda e do tom do discurso que ela adota está a figura onipresente de Ricardo. Ele chegou a ser cogitado como alternativa natural do PSB para voltar a disputar a prefeitura de João Pessoa e tem opinado sobre falhas e omissões que, a seu ver, a administração do prefeito Luciano Cartaxo (PV) tem cometido em dois mandatos consecutivos.
Na fase de cogitação da hipótese de candidatura de Ricardo, figuras do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa admitiram apoiá-lo, embora oficialmente a legenda esteja representada no governo João Azevêdo (Cidadania), dele participando através do ex-deputado federal Luiz Couto, que ocupa uma secretaria. A “onda pró-Ricardo” no PT foi abortada e o diretório municipal, presidido por Giucélia Figueiredo, optou por lançar candidatura própria, simbolizada pelo deputado Anísio Maia, que ganhou a titularidade efetiva na Assembleia Legislativa com a morte, recentemente, do deputado Genival Matias, do Avante. O PSB na Paraíba está praticamente esfacelado desde que Ricardo deixou o governo do Estado e passou a enfrentar demandas policiais e judiciais. Ele já participou de audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Estado, entrou em lista de “procurados” da Interpol, foi preso e castigado com tornozeleira. Ultimamente, decisões judiciais determinaram sequestro de recursos e bens do patrimônio do ex-governador como consequência das apurações da Operação Calvário e tomando por base depoimentos de ex-secretários e delações de ex-colaboradores da administração de Coutinho.
Imperturbável diante do fogo cruzado que tem sido movido contra ele, o ex-governador paraibano tem insistido na narrativa de que é vítima de perseguição política e ataca constantemente o Ministério Público, inquinando-o por não apresentar “provas concretas” que confirmem o seu papel de líder de uma organização criminosa em conluio com entidades sociais que ele contratara para gerenciar atividades da Saúde e da Educação. Coutinho tem se incomodado, também, com o que chama de “espetacularização midiática” em torno dos processos movidos contra ele. Embora aliados mais fiéis teimem em atribuir-lhe o papel de líder e afirmem, em tom de blague, que ele tem fôlego de sete gatos, Ricardo não conseguiu até agora aglutinar apoios expressivos à pré-candidatura de Amanda Rodrigues a prefeita pelo PSB. Em termos pessoais, mantém seu prestígio junto à cúpula nacional do PSB, presidida por Carlos Siqueira (PE), tanto que permanece na presidência da Fundação João Mangabeira, um organismo de estudos políticos do Partido Socialista. O ritmo de trabalho da FJM diminuiu ultimamente devido à pandemia do coronavírus e à dificuldade de mobilidade da parte de Ricardo, por causa das medidas cautelares que lhe foram imputadas.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes