Às vésperas do transcurso de 25 anos do lançamento do Plano Real, economistas, políticos e especialistas de diferentes áreas avaliam o impacto que ele teve na estabilização da economia, submetida a processos contínuos de inflação e hiperinflação, e concluem que foi um ponto de inflexão relevante, facilitando reformas que serviram de base para o Brasil moderno. O Plano Real nasceu no governo do presidente Itamar Franco, que assumiu com o impeachment de Fernando Collor de Melo e projetou a ascensão do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, à Presidência da República. Cercado de desconfiança por parte da classe política, o Real aliava intervenções na economia a reformas liberais para finalmente acabar com mais uma década dehiperinflação no Brasil.
Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, depõe: “O Plano Real foi um plano criativo, mas ortodoxo, que tinha o ajuste fiscal no centro das suas ações o tempo todo. Para nós, um grupo de liberais que fazia parte da equipe econômica, estávamos diante do fracasso do modelo estatista de desenvolvimento fechado, de substituição de importações, inflacionista. Tínhamos que detonar aquilo para sempre”. Persio Arida observa: “No dia seguinte ao lançamento da nova moeda, quando a URV dá lugar para o real, o plano se tornou um programa convencional de estabilização monetária. Com o argumento de que era preciso fazer reformas para sustentar o Plano Real, o Brasil foi na direção de reformas liberais, como privatizações e abertura da economia”.
Arida conta que no lançamento do Real houve duas batalhas. A primeira era convencer a opinião pública a apoiar a equipe econômica do governo, depois de uma série de planos para acabar com a hiperinflação que fracassaram. A segunda era dar sustentabilidade à baixa inflação.” Inflação baixa se consegue por várias formas, mas sustentá-la em níveis aceitáveis é muito difícil. Essas duas vitórias precisam ser celebradas, pois o cenário externo naquele momento era bastante adverso, com crise no México, na Rússia, crise cambial…e ainda teve o apagão. Durante os nove anos de Fernando Henrique – oito na Presidência, mais um antes, como ministro da Fazenda – a situação macroeconômica foi muito difícil. Hoje, o cenário é bem mais tranquilo. E do ponto de vista do Congresso havia uma oposição muito mais organizada e aguerrida naquela época”, acrescenta.
Persio Arida prossegue: “Certamente o Lula teria ganho a eleição se não fosse o Plano Real. Ele era o líder inconteste. O PT tinha um peso nos debates, no Parlamento e na opinião pública. Enfrentávamos uma oposição de esquerda aguerrida. A única coisa que tínhamos mais favorável do que o governo atual era uma fragmentação partidária menor. Mas existia muito mais resistência às reformas que sustentaram o Plano Real. Curiosamente, a maior oposição foi do PSDB de São Paulo, pois queríamos privatizar os bancos estaduais. Ocorria muitas vezes uma incompreensão do que eram as reformas modernizantes dentro do próprio grupo que sustentava o governo”. A sorte, conforme Arida, é que havia uma demanda da população por um plano de estabilização. Daí a velocidade da adesão da sociedade. “Houve, também, uma circunstância excepcional: FHC era político, o que facilitou muito a conversa no Congresso. Por conta do Real, o país empreendeu reformas que servem de base para o país moderno”.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes