Ao longo dos anos criou-se o mito da existência de uma “caveira de burro” na prefeitura municipal de João Pessoa. Mais do que um mito, era uma maldição. Sinalizava que quem ocupasse o cargo de prefeito da cidade mais importante do Estado estava condenado a abreviar, precocemente, uma virtual carreira política. Teria que esquecer projetos mais ambiciosos como o de chegar ao governo do Estado ou manter-se na atividade, como deputado estadual, federal, prefeito ou vereador. Os cronistas políticos dos jornais impressos de João Pessoa, quando eles proliferavam, brandiram esse anátema em diferentes oportunidades.
Exemplos não faltavam. Damásio Franca, por exemplo, que bateu recorde como prefeito eleito e prefeito nomeado da Capital, não foi além disso. Dividiu seu espólio político com a presidência do Cabo Branco, clube social que foi coqueluche em épocas passadas e cuja presidência, salvo engano, ele exerceu por sete vezes. Um filho de Damásio, Chico Franca, tornou-se prefeito em circunstância excepcional – era vice de Lúcia Braga e foi guindado à cabeça de chapa quando ela foi impugnada. Seu currículo não registrou outras incursões políticas. Já Wilson Braga abriu a guarda para Carlos Mangueira, seu vice, ser o prefeito titular, quando renunciou para concorrer – e perder – o governo do Estado em 1990. Foi a segunda vez que Wilson pleiteou o Palácio da Redenção. Na primeira vez, em 82, ganhou de lavada, no voto direto, derrotando Antônio Mariz por 151 mil votos de diferença.
O conceituado médico Antônio Carneiro Arnaud logrou eleger-se prefeito de João Pessoa em 1985, numa composição entre o PMDB do senador Humberto Lucena e o esquema do então governador Wilson Leite Braga, a quem coube indicar o vice, na figura de Cabral Batista. Carneiro derrotou nas urnas o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Santa Rita Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que era apoiado pelo ex-governador Tarcísio de Miranda Burity. A diferença de Carneiro sobre Marcus girou em torno de dez mil votos, o que chegou a ser considerado como “vitória de Pirro”. Seja como for, Carneiro cumpriu o mandato – e parou aí, não mais exercendo cargos políticos e retomando suas atividades como operoso profissional da Medicina.
Tivemos os prefeitos “biônicos”, que não eram eleitos pelo povo, mas nomeados. Alguns deles tinham currículo valioso e preparo teórico para administrar os desafios de uma Capital em constante expansão como João Pessoa – casos de Hermano Almeida e até Oswaldo Trigueiro do Vale, que acabou envolvido em rumoroso caso que se transferiu das páginas políticas para o noticiário policial no “Correio da Paraíba”. Hermano e Oswaldo não avançaram na escalada política. Quem quebrou o mito da “caveira de burro”, porém, foi o atual governador Ricardo Coutinho, que é natural de João Pessoa. Foi prefeito duas vezes da Capital e partiu para se eleger governador, estando, atualmente, no segundo mandato no Palácio da Redenção. Houve casos peculiares – Wilson Braga só se tornou prefeito de João Pessoa depois de ter sido governador, invertendo uma lógica aparente do processo político, se é que política se rege por coerência. Cabeças coroadas como José Maranhão tentaram conquistar a prefeitura da Capital, mas ficaram na saudade. Em compensação, Maranhao foi tríplice coroado como governador do Estado.
Luciano Cartaxo dá a impressão de estar em marcha batida para dar sua contribuição no sentido de enterrar de vez o mito da “caveira de burro” na prefeitura de João Pessoa. Se for candidato a governador pelas oposições em 2018 e lograr a façanha de ser eleito, o mito estará definitivamente desmoralizado. Se, entretanto, perder a parada e ficar “zanzando” por aí, sem mandato eletivo, como aconteceu a outros políticos, terá que sentar no meio fio da Praça da Independência e chorar, lamentando – digamos assim – o azar. É uma aposta a ser conferida lá na frente pelos observadores políticos de todas as tendências. E talvez seja uma motivação a mais para um pleito que se prenuncia inteiramente atípico a nível nacional, a julgar pela ameaça do PT de boicotar as eleições caso o ex-presidente Lula seja impedido legalmente de disputar. A conferir, por óbvio.
Fonte: OS GUEDES
Créditos: Nonato Guedes