O abalo que passou a haver na relação entre o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB, e o governador João Azevêdo (Cidadania), despertou o deputado estadual Raniery Paulino a alertar a cúpula emedebista quanto ao futuro da legenda na Paraíba. Ele se preocupa, principalmente, com a perspectiva de desempenho sofrível que o MDB possa vir a alcançar nas eleições proporcionais, para a Assembleia e para a Câmara Federal, ponderando sobre a escassez de quadros competitivos a essas disputas, até em função da ausência de coligações no páreo legislativo. O “clã” Paulino divide com o senador Veneziano o controle do MDB desde a morte do senador José Maranhão. O ex-governador Roberto, pai de Raniery, é secretário de Governo na atual quadra empalmada por Azevêdo, enquanto a mulher de Veneziano, Ana Cláudia, até então filiada ao Podemos, ocupa secretaria de Articulação nesse governo.
O incidente verificado em Campina Grande, na sexta-feira, quando a secretária Ana Cláudia sentiu-se desprestigiada em evento governamental alusivo ao aniversário da cidade e dele se retirou, ainda repercute nos meios políticos e alimenta explorações diversas que buscam forçar o rompimento entre o senador-presidente do MDB e o governador. Raniery diz que está tentando ser “bombeiro” no processo a fim de evitar o alastramento de chamas e propôs que a Executiva do partido examinasse a sugestão de proposta ao governador para se filiar ao MDB e por ele concorrer à reeleição. Uma outra proposta de Raniery seria de que a direção emedebista oficializasse intenção de apoio à candidatura do governador, independente da sua permanência no “Cidadão”, com isto selando uma aliança na majoritária. Aparentemente, tais sugestões dificilmente serão consideradas por Veneziano, mas elas colocam em “xeque” a discussão necessária sobre o futuro do partido nas próximas eleições.
Partido respeitado pela sua tradição no cenário político paraibano, tendo alçado ao governo do Estado em várias eleições, após demorado jejum nos quadros de poder local, o MDB, ainda sob o comando do senador José Maranhão, enfrentou oscilações que foram do enfraquecimento visível de bancadas à falta de vitórias no confronto pelo Executivo em três eleições consecutivas. Em 2010, com o nome do próprio José Maranhão, que se investira com a cassação de Cássio Cunha Lima, o PMDB tentou manter-se no Palácio da Redenção, mas foi defenestrado por Ricardo Coutinho. Em 2014, o partido lançou a candidatura própria de Vital do Rêgo, que esbarrou no primeiro turno, tendo sido Coutinho reeleito, e em 2018 Maranhão voltou a encabeçar chapa, desta feita perdendo em primeiro turno para João Azevêdo. Surpreendentemente, nas eleições para prefeito de João Pessoa em 2020, o MDB foi ao segundo turno com a candidatura do comunicador Nilvan Ferreira, que acabou perdendo fôlego para Cícero Lucena, do PP.
Com a morte de Maranhão e a migração de Nilvan Ferreira para o PTB, cujo diretório estadual preside, o MDB passou a ser dirigido de forma compartilhada pelo “clã” Paulino, de Guarabira, e pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, que atendeu a chamado de líderes nacionais e reingressou na legenda após ter vitoriado em 2018 pelo PSB. Com Veneziano investido na presidência estadual, criou-se uma expectativa quanto aos avanços que ele pudesse imprimir à trajetória da legenda no Estado em pouco tempo. Mas o senador viu-se prejudicado pela rarefação de eventos políticos de massa, provocada pela pandemia de covid-19, que obrigou a medidas de isolamento social. Arrebanhou eventuais adesões ao MDB e segue tentando fortalecer a legenda, mas tem sido alcançado por injunções da legislação eleitoral votada no Congresso, que produziram vai-e-vem em regras para o pleito do próximo ano, dificultando, mais do que facilitando, a sobrevida de partidos até então relativamente expressivos.
O próprio governador João Azevêdo, de dentro das hostes do “Cidadania”, passou a prevenir aliados da sua base de sustentação quanto à demanda que se criara para a eleição de deputados estaduais e federais. Fez a advertência para lembrar que um cenário de desvantagem nas proporcionais poderia ter reflexos desagradáveis na eleição majoritária, o que impunha, desde já, avaliação de fórmulas compensatórias por parte de cúpulas de partidos. Infelizmente o debate não tem sido aprofundado devido à própria falta de linearidade em torno de pontos-chaves de uma minirreforma para as eleições de 2022. O Congresso está rachado ao meio entre preferências por propostas variadas e fatos novos que passaram a se suceder como a fusão de partidos (caso concreto do DEM e do PSL) e a perspectiva de vigência de federação de partidos.
Nesse contexto, não soa inconveniente ou despropositada a menção do deputado Raniery Paulino à necessidade de definições do MDB sobre as próximas eleições. O partido, de fato, precisa avaliar se tem condições de desfraldar, para valer, a bandeira de uma candidatura própria, como sugerida, aqui e acolá, por algum filiado com posição, ou se vai fechar com o apoio à candidatura do governador João Azevêdo a um novo mandato. Ou, então, compor-se com um candidato de oposição, caso em que o MDB teria o dever ético de entregar cargos de filiados que estão dentro da administração estadual. Em última análise, o que se tenta provocar, nos bastidores, é um desfecho sobre o destino de uma agremiação política que tem experimentado situações alternadas de espaço e influência na conjuntura de poder da Paraíba.