Disputada nas eleições deste ano por cerca de quatorze candidatos, de diferentes legendas, a prefeitura de João Pessoa já foi tida como “cemitério de políticos” e, no reverso, como “trampolim” para voos rumo ao governo do Estado. Feitas as contas, de um período recente para cá, tais definições são muito vagas – ou relativas. Desde 1985, quando foram restauradas as eleições diretas nas Capitais e cidades da área de ”segurança nacional”, somente três prefeitos de João Pessoa chegaram ao Palácio da Redenção: Wilson Braga, que foi, antes, governador e só depois prefeito, Ricardo Coutinho, que foi prefeito por duas vezes e se elegeu governador também por duas vezes e Cícero Lucena, que se elegeu e foi reeleito depois de concluir dez meses de mandato como governador, sucedendo a Ronaldo Cunha Lima, em 1994. Não há registro de que os outros ocupantes da prefeitura tenham sido alçados ao Executivo estadual, no período em epígrafe.
Carneiro Arnaud desistiu de continuar na carreira política por opção própria, retomando atividades profissionais no exercício da medicina, em que labuta até hoje, mantendo-se como espectador privilegiado dos acontecimentos políticos. Wilson Braga, que faleceu este ano, foi eleito prefeito em 1988, depois de ter sido governador eleito em 1982. Não esquentou cadeira na prefeitura porque logo descortinou a chance de voltar ao Palácio da Redenção. Foi o segundo grande erro de cálculo fatal na sua trajetória, pois perdeu em segundo turno, na eleição de 1990, para Ronaldo Cunha Lima. O primeiro erro de cálculo foi acreditar que a eleição ao Senado em 86 era “favas contadas” –acabou perdendo para um azarão da política, o então empresário Raimundo Lira. Ainda assim, Wilson, que faleceu este ano, logrou exercer o último mandato da sua vasta biografia, como deputado estadual.
Carneiro foi sucedido na prefeitura por Wilson Braga, que ao renunciar para disputar novamente o governo passou o bastão ao vice Carlos Mangueira. Em 1992, no fim do mandato originalmente conquistado por Wilson, ascendeu à prefeitura Chico Franca, que substituiu Lúcia Braga em plena campanha e conseguiu levar o pleito para o segundo turno contra Chico Lopes, do PT. Por divergências políticas e desajustes no esquema a que pertencia, Franca praticamente abreviou sua trajetória ao fim da passagem pelo Paço Municipal. Em 1996, chegou triunfante ao poder Cícero Lucena, concorrendo pelo PMDB. Foi reeleito em 2000 e, depois, elegeu-se senador. Em2004, foi a vez de Ricardo Coutinho iniciar escalada vitoriosa que perdurou até 2018, amargando, aí, seu inferno astral, em meio a denúncias da Operação Calvário.
A relação dos prefeitos ungidos pelo voto ao longo de 35 anos completa-se com Luciano Cartaxo, do PV, que está concluindo o segundo mandato e não sinaliza projetos políticos futuros, embora seja cogitado para disputar o governo ou uma vaga ao Senado em 2022. Luciano teve a chance de ser candidato ao Palácio da Redenção em 2018, apoiado por um esquema de forças políticas que agregava figuras de expressão como o então senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Deixou o cavalo passar selado, manteve-se na prefeitura e lançou o irmão gêmeo Lucélio ao sacrifício, em chapa conjunta com o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que indicou a mulher, Micheline, para a vice. O conjunto de forças não deu “pro gasto” – e a fatura foi liquidada em primeiro turno por um neófito em disputa política, João Azevêdo, nome tirado do bolso do colete por Ricardo Coutinho, então Senhor dos Anéis na política tupiniquim.
A lenda de que a prefeitura de João Pessoa era um cemitério de políticos era mais lenda do que propriamente realidade. A maldição alcançou ex-prefeitos como Hermano Almeida e Oswaldo Trigueiro, que nunca mais trilharam na política, atingindo de raspão Chico Franca, que não perseverou na conquista de outros mandatos. Wilson Braga, de modo reverso, e Ricardo Coutinho, em linha reta, desmoralizaram o falso mito, como confirmaram que, de algum modo, a prefeitura pode ser trampolim para pavimentar a chegada ao governo estadual. Entre lendas e mitos sobressai Luciano Cartaxo como diferente, pois não fez escala direta da prefeitura para o governo, embora tenha ensaiado passos nessa direção. Deixará a prefeitura de João Pessoa em dezembro com uma incógnita nas mãos – e a perspectiva de poder ser candidato a qualquer cargo, inclusive a nada.
Nessa análise retrospectiva que abrange três décadas e meia, cabe registrar que dois prefeitos de Campina Grande, segunda cidade mais importante do Estado e divisor de águas na política paraibana, saltaram do Palácio do Bispo para o Palácio da Redenção – Ronaldo Cunha Lima, prefeito entre 1982 e 1988, que se elegeu governador em 1990, e Cássio Cunha Lima, seu filho, prefeito três vezes de Campina e governador eleito para dois mandatos. Dicas finais: Luciano Cartaxo sentiu a proximidade do poder estadual quando assumiu a vice-governança ao lado de Maranhão em 2009 quando da cassação de Cássio Cunha Lima; na eleição de 2020, Cícero Lucena e Ricardo Coutinho, que já foram governador e prefeito, voltam a disputar o executivo pessoense. E Ruy Carneiro, que perdeu a prefeitura em 2004, retorna ao páreo 16 anos depois, sem ter consolidado, ainda, expectativa de que possa vir a triunfar. Antes, como agora, e sempre, o futuro a Deus pertence. E ao eleitor, é claro…
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes