Em 9 de fevereiro de 1987, Cássio Cunha Lima fazia sua estreia na Assembleia Nacional Constituinte como o mais jovem integrante daquele colegiado – contava 23 anos de idade. Seu discurso foi ouvido com atenção por condestáveis políticos como Ulysses Guimarães e Mário Covas e anotado com igual interesse por jornalistas dos principais veículos do país. Cunha Lima fez um desabafo sobre as crises institucionais no país e traçou uma radiografia desalentadora acerca dos níveis de pobreza e miséria e da falta de respeito aos direitos de segmentos como a mulher. Enfim, para Cássio, o Brasil era rodeado de distorções pr todos os lados.
Na condição de deputado federal, Cássio procurou participar ativamente dos trabalhos da Constituinte e adotar posições reformistas condizentes com o discurso em que pregava mudanças para o bem-estar do povo. “Não podemos falhar”, prognosticou ele. Após cerca de 32 anos de militância parlamentar, Cunha Lima vive os últimos dias do mandato de senador conquistado em 2010 e que, por uma série de fatores, ele não conseguiu renovar no pleito deste ano. Na sua bagagem constam, também, as passagens como governador, eleito por duas vezes, em 2002 e 2006, prefeito de Campina Grande por três vezes e superintendente da Sudene no governo do presidente Itamar Franco.
Cássio iniciou sua militância política no PMDB, seguindo as pegadas do pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima, que também foi governador, prefeito de Campina Grande, deputado estadual, federal e senador. Depois, o “clã” migrou para o PSDB em meio a divergências com o já comandante estadual peemedebista (hoje emedebista) José Maranhão, tendo como pano de fundo a aprovação da reeleição para cargos executivos em âmbito nacional. O seu discurso de estreia no Parlamento mereceu um comentário entusiástico do cronista F. Pereira Nóbrega (já falecido), publicado no extinto jornal “O Norte” no dia oito de março de 1988. F. Pereira iniciava o texto conclamando a Paraíba a se envaidecer, pelo fato de ser berço do caçula da Constituinte. “O que nos honra não são apenas seus poucos anos. É ter a estatura dos grandes com a idade dos pequenos. Comecei a observar esse rapaz quando a TV começou a mostrar os dois mais jovens. O outro, do Amazonas, não tinha nada na cabeça. Certamente foi parar no Congresso como Juruna. Como, anos atrás, o Bode Cheiroso quase se elegia prefeito de Jaboatão, Pernambuco”, ressaltava o cronista.
Pereira Nóbrega dizia admirar em Cássio as posições e ideias. Como exemplo, lembrava que Cunha Lima não somara com o “Centrão”, um ajuntamento parlamentar conservador que montou uma barreira a avanços sociais e a outras conquistas de interesse dos trabalhadores e de outras categorias. “Uma rara exceção nessa Paraíba. Manteve as posições avançadas de que o país precisa para uma Constituição do terceiro milênio”, pontuava, referindo iniciativas que o jovem constituinte deflagrara, a partir da emenda reduzindo as faixas etárias de candidatos a cargos eletivos, de presidente da República a vereador. “Os jovens já não precisam esperar as rugas de suas faces para aliviar as rugas desse país”, acrescentou o cronista. Para Pereira Nóbrega, ao assumir a paternidade dessa proposta, Cássio não era apenas palavra. Era testemunho, também. Já provara que sua idade não desmerecia o mandato. “Cássio Cunha Lima provou que na sua vida, até aqui, o tempo não passou em vão”, arrematou F. Pereira Nóbrega, parabenizando o jovem deputado constituinte no fecho da sua crônica.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes