Desde a restauração das eleições diretas para prefeitos de Capitais, com vigência a partir de 1985, João Pessoa – que aniversaria segunda-feira – e que é uma das cidades mais antigas do Brasil, já cravou a reeleição de três prefeitos que se candidataram, tiveram aprovação popular e foram premiados com mais um mandato. O primeiro deles foi Cícero Lucena, do PSDB, que se elegeu prefeito pela primeira vez em 1996 e conquistou o segundo mandato no pleito de 2000. Doze anos depois, Lucena movimentou-se para retornar ao comando do Centro Administrativo Municipal e obteve a proeza de avançar para o segundo turno, mas foi derrotado, na “decisiva”, por Luciano Cartaxo.
Além de Cícero, foi reeleito prefeito da Capital, com índice marcante de aprovação, o socialista e ex-petista Ricardo Coutinho. Ele concorreu à prefeitura pela primeira vez em 2004 e saiu consagrado. Em 2008, perseguiu a recondução, sendo novamente recompensado com os votos da maioria do eleitorado. Abreviou o segundo mandato, renunciando a ele, pela ambição de concorrer ao governo do Estado em 2010. Teve êxito e em 2014 repetiu a dose, candidatando-se à reeleição ao governo estadual. Ficou no Palácio da Redenção até o último dia do mandato em 2018, já que optou por não concorrer ao Senado dentro da estratégia de preservar o projeto socialista e de eleger o sucessor, na figura do seu candidato, João Azevêdo, ungido em primeiro turno.
Se Cícero tentou voltar à prefeitura em 2012, ficando pelo meio do caminho em pleno segundo turno, Ricardo aparenta querer retomar a cidadela pessoense em 2020. É, praticamente, nome de consenso dentro do PSB, partido que controla com mão de ferro, e deixou o governo com excelente índice de aprovação em João Pessoa. Oficialmente, o ex-governador não assume pretensão de voltar a disputar a prefeitura e menciona que há outros nomes receptivos tanto nas fileiras do agrupamento girassol como no entorno da coligação que sustenta o tal projeto socialista em execução no Estado. Nomes como o do deputado federal Gervásio Maia, em primeiro mandato na Câmara, são aventados abertamente como alternativa para o caso de Ricardo não se habilitar à disputa municipal. Da parte do governador João Azevêdo já houve manifestação de apoio irrestrito a Coutinho caso ele se interesse por voltar de onde começou sua trajetória no executivo, após estágio como vereador na Câmara da Capital e como deputado estadual.
Luciano Cartaxo, que está no comando da prefeitura, fecha o ciclo dos reeleitos nos últimos trinta anos em João Pessoa. Ele foi o único que concorreu por partidos distintos: na primeira vez, elegeu-se pelo PT, mas migrou para o PSD ao tempo em que começaram a pipocar denúncias de envolvimento de petistas ilustres com o mensalão e outros escândalos que feriram de morte a ética do partido de Lula. Em 2016, quando pleiteou a reeleição e foi vitorioso, Cartaxo já envergava as cores do Partido Verde. Ele bateu candidaturas lançadas pelo esquema do então governador Ricardo Coutinho, como as de Estelizabel Bezerra e Cida Ramos. Hoje, enfrenta flagrantes dificuldades para ungir um nome com densidade eleitoral para ganhar o pleito à sua sucessão no próximo ano.
Convém recordar que quando da restauração das eleições diretas nas Capitais, o ex-deputado federal Carneiro Arnaud foi o primeiro a ser sagrado nas urnas. Médico, ele concorreu dentro de um “acordão” político-partidário patrocinado pelo ex-governador Wilson Braga (PDS-PFL) com o então PMDB e derrotou como principal adversário o ex-deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que foi prefeito de Santa Rita por várias vezes. Em 88, o ex-governador Wilson Braga – que havia perdido o Senado em 86 – bateu, folgado, os adversários, e conquistou a prefeitura de João Pessoa, mas não esquentou cadeira, pois, logo se preparou para disputar novamente o governo do Estado, em 1990, sendo derrotado, em segundo turno, por Ronaldo Cunha Lima. Com a renúncia de Braga à prefeitura, assumiu o vice Carlos Mangueira.
Em 1992, a ex-deputada Lúcia Braga era candidata natural à prefeitura de João Pessoa, largando como favorita. Mas largou o páreo em meio a processos judiciais de impugnação da candidatura, impetrados por coligações adversárias, e em virtude de um episódio de força maior: a urgência de se dedicar à filha, Patrícia, que fora acidentada num passeio de carro na cidade de Alfenas, Minas Gerais, onde estudava, e viveu uma via crúcis, de forma vegetativa, até seu desenlace. No lugar de Lúcia, ascendeu à prefeitura Francisco Franca, que fora registrado como seu vice. Nessa disputa, pela primeira vez o PT logrou ir para o segundo turno em João Pessoa, com o nome de Chico Lopes, então deputado estadual, abatido por Franca com a retaguarda do então influente esquema braguista. Como se vê, João Pessoa abarcou um cenário bastante plural nas eleições a prefeito após a devolução do direito de voto para gestores de Capitais.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes