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Agnaldo Almeida afirma: “O jornalismo morreu, sem choro nem vela”

O jornalista Agnaldo Almeida, um dos mais respeitados profissionais de imprensa da Paraíba e do Nordeste, faz um desabafo, por telefone celular, ao analisar a realidade: “Infelizmente o jornalismo morreu, sem choro nem vela. Perdeu espaço para as redes sociais.

O jornalista Agnaldo Almeida, um dos mais respeitados profissionais de imprensa da Paraíba e do Nordeste, faz um desabafo, por telefone celular, ao analisar a realidade: “Infelizmente o jornalismo morreu, sem choro nem vela. Perdeu espaço para as redes sociais. Hoje, muitos usuários de redes sociais se julgam jornalistas, repórteres, comentaristas, embora sem qualificações e sem conhecimento de causa. E em meio a isso a desinformação é generalizada e as fake news proliferam com abundância”. Agnaldo, que mantém colaborações jornalísticas, foi um dos mais longevos editores do jornal “A União”, o único veículo impresso que sobrevive na Paraíba e que é órgão oficial do governo do Estado. Pilotando uma equipe de jornalistas experientes e de egressos do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba ele conduziu uma revolução na imprensa do Estado, comparável, guardadas as proporções, a revoluções que ocorreram em grandes jornais do Sul como “Folha de S. Paulo”, “Jornal da Tarde” e “Jornal do Brasil”.

Profissional desde o começo da década de 1970, natural de Campina Grande, Agnaldo Almeida teve atuação destacada em inúmeros veículos de imprensa da Paraíba, nas funções de repórter, redator e editor, além de ocupar cargos executivos. Foi Secretário de Comunicação Social do governo do Estado e ascendeu a cargos de direção na Associação Paraibana de Imprensa e no Sindicato dos Jornalistas Profissionais, marcando ponto, com destaque, em encontros nacionais de jornalistas que tiveram repercussão e redefiniram rumos dos meios de comunicação no país. Teve contribuições em revistas locais e jornais como “O Estado de S. Paulo”, além de ter sido comentarista em emissoras de TV e sites de repercussão. Formou gerações de repórteres, que fizeram questão de registrar testemunhos sobre as lições apreendidas durante o convívio com Agnaldo Almeida. Passou pelas principais redações de jornais locais como “A União”, “O Norte”, “Correio da Paraíba”, “Jornal da Paraíba” e a revista “A Carta”. Sempre foi reconhecido pelos textos primorosos e pelas análises políticas impecáveis.

A revolução que Agnaldo Almeida imprimiu no segmento de imprensa contemplou tanto a parte editorial, sobre a qual ele sempre foi rigoroso e exigente, quanto o aspecto visual de páginas de jornais, revistas e outros impressos, para o qual sempre teve um olhar diferenciado, calcado na sensibilidade profunda e na abertura a mudanças, terreno em que sempre esteve disponível. Desse ponto de vista, inúmeros depoimentos convergem para o reconhecimento de que ele deixou lições em que se inspiraram outros colegas alçados a posições em editorias e chefias de redação. Almeida buscou valorizar, em paralelo, os espaços democráticos, quer em entrevistas, quer em textos assinados de opiniões que faziam contraponto sobre assuntos variados. Seu umbigo estava na Paraíba, mas as antenas estavam ligadas no radar do mundo. Isto explica a simbiose que soube produzir entre acontecimentos internacionais de repercussão e os acontecimentos de repercussão na província. Apaixonado por História, Agnaldo coordenou coberturas jornalísticas de fatos memoráveis. E, no estilo pessoal de escrever, fez-se eclético, ou ecumênico, incursionando, com desenvoltura, pela crônica, na qual tem como expoente de grandeza o Mestre Gonzaga Rodrigues.

O jornalista consagrado dá a entender que assimilou como inexorável o fenômeno que se reflete ainda hoje no fechamento de jornais impressos e de revistas especializadas, dirigidas a públicos segmentos, creditando-o ao processo natural de transformação que fez os jornais migrarem das rotativas para o off-sett e, depois, para a informatização. Viveu, de perto, muitas dessas mudanças, compartilhando, inclusive, a chegada da mídia digital. O que preocupa – e assusta – Agnaldo Almeida é o desaparecimento do jornalismo límpido, transparente, noticioso, que considera imprescindível para que haja uma sociedade bem informada e possuidora de elementos para decidir sobre as questões que lhe afetam. Almeida parece não simpatizar com o “jornalismo” telegráfico, cheio de erros, imprecisões, e desinformações. Esse tipo de jornalismo, é o que se depreende da sua aflição pessoal, não faz jus a manuais que continuam sendo atualíssimos porque procuram tratar a informação com apuro, ética e objetividade. Tais reflexões misturam-se à tragédia de perdas diárias de amigos queridos, companheiros de grandes jornadas, que estão se esvaindo na voragem da pandemia do insidioso coronavírus.

“Conversar” com os “sobreviventes” da tragédia é um porto seguro a que o brilhante Agnaldo Almeida se agarra – inclusive como forma de trocar ideias sobre perspectivas. “Elas (as perspectivas) devem haver. Sempre houve, na história da Humanidade”, conclui o jornalista, no aceno verbal da despedida ao telefone. Agnaldo Almeida já tem seu nome inscrito na História, junto com ícones do jornalismo que, na Paraíba e no Brasil, dedicaram-se e ainda dedicam-se ao mister da informação como quem se entrega a um sacerdócio.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba