VERDADE E POLÍTICA: "A mentira moderna confunde-se com a verdade e o mentiroso perde a noção dos limites" Por Laerte Cerqueira

Verdade e Política

Por Laerte Cerqueira – Do Jornal da Paraíba

Numa resenha sobre o livro “Entre o passado e o futuro”, de Hannah Arendt, o professor do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade de Maringá (UEM), Antônio Ozaí, faz uma reflexão importante sobre a mentira, a verdade e os espaços políticos. Com certeza, estimulado pela obra da autora, faz-nos lembrar de movimentos que se sucedem em Brasília, os silêncios, as omissões, o engajamento para fins “particulares”, que fazem a população ter tanta “raiva” dos nossos representantes.

No texto, o professor diz: “a mentira política, antes própria dos espaços diplomáticos, generalizou-se; o mentiroso diplomata não perde a noção da verdade (mente em determinadas circunstâncias e sabe que mentir é parte do jogo); a mentira moderna confunde-se com a verdade e o mentiroso perde a noção dos limites: ele próprio passa a acreditar na mentira que apregoa”. Não será leviano – pelo menos vários documentos nos protegem – dizer que temos o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), como um bom exemplo desse comportamento. Só ele não acredita que não tem conta na Suíça. Nega com a força da verdade dele e mentira alheia. E ainda conta com o silêncio descarado de seus companheiros, necessitados de seu poder e de sua caneta.

E o professor continua: “Sim, a política é o âmbito dos interesses parciais e particularistas em confronto; os quais precisam da áurea do bem-comum e do universalismo. Na política, o que importa são os resultados; a mentira, em geral, prevalece. Não obstante, ela tem significados positivos”, analisa.

Não é mera coincidência se veio à sua cabeça o comportamento da oposição, com sua ética seletiva. Protege Cunha pra proteger o seu esperado resultado. Atitudes como essa só reforçam a fraqueza da nossa oposição e a desconfiança da população, que lhe negou o direito de comandar o país, mesmo com todos os motivos para desistir do projeto de poder estabelecido pelo PT. Não é mera coincidência se veio à sua cabeça a postura do governo. Refém de Cunha, a espera de sua benevolência. Impondo sua verdade mentirosa sobre as nossas cabeças, com aval da maioria dos nossos parlamentares. O que nos restará depois disso? Mais mentiras moldadas por verdade?

Um parecer técnico da Câmara pode entregar na mão de Cunha mais um documento que fortalece o poder, pelo qual sustenta sua verdade, o silêncio de adversários e aliados. Sustenta esse teatro político. O documento deve recomendar que o presidente da Câmara dê seguimento ao principal pedido de impeachment da presidente Dilma. Com o único empecilho, a suspensão do rito feito pelo STF, Cunha vai usar esse instrumento para chantagear, negociar sua permanência e fazer da sua mentira verdade absoluta. Na verdade, estamos, em breve, estaremos certos de que tudo não passa de história mal contata pela imprensa.

 

Politicamente

Ninguém contestou o aumento da alíquota do ICMS sobre o cigarro e derivados do tabaco. Um tipo de aumento de imposto “politicamente correto”.

 

Obscura

O deputado estadual Tovar Correia Lima (PSDB) solicitou por meio de requerimento que a Cagepa campanha de esclarecimento sobre o “racionamento” de água.

 

Chegou rápido

O presidente da AL, Adriano Galdino (PSB), convocou o secretário estadual da Receita, Marialvo Laureano, ontem, de “última hora”, para esclarecer o projeto do governador que vai conceder desconto em multas aplicadas na comercialização de combustível e reajuste na taxação de cigarros. O secretário chegou tão rápido que parecia já saber que seria acionado. Parecia combinado. E rapidinho, ele resolveu e convenceu os parlamentares da oposição e situação. Galdino avisou que hoje tem análise de três vetos que podem trancar a pauta. Convocou todo mundo.

 

Nojenta

“Assaltaram este país para construir um projeto de poder da maneira mais deslavada, mais odienta, mais reprovável, mais nojenta que se tem registro na história”, disse o senador Cássio, no plenário, ontem.

 

Acordando

Cássio subiu o tom e reclamou das provocações e proselitismo do governo. “Os tucanos acordam cedo para trabalhar, porque outros tantos acordam cedo para esperar a chegada da PF”, cravou.